♱ A primicia da irmã. 001 ♱

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A MANHÃ estava velada por uma chuva fina e incessante, daquelas que mais umedecem do que molham, mas que se infiltram na pele e fazem a alma sentir um certo peso

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A MANHÃ estava velada por uma chuva fina e incessante, daquelas que mais umedecem do que molham, mas que se infiltram na pele e fazem a alma sentir um certo peso. O vidro do táxi estava embaciado, e Cecília usou a manga do hábito para limpar uma pequena fresta, tentando espiar o novo destino que a aguardava. A paisagem era melancólica e silenciosa. Árvores altas ladeavam o caminho sinuoso, seus galhos úmidos como braços pesados que protegiam o convento escondido do restante do mundo. A sensação de isolamento pesou em seu peito. Ela sentiu que aquele não seria um lugar fácil.

O motorista do táxi, um senhor de cabelo ralo e olhos cansados, virou-se no banco.

━━ É aqui, irmã. ━━ O carro então parou.

Cecília assentiu silenciosamente e pegou sua mala simples no banco ao lado. Assim que abriu a porta do carro, uma lufada de ar frio e úmido entrou, trazendo com ela o cheiro terroso de folhas e lama molhada. Pisou no chão e, imediatamente, afundou na lama espessa. Seus sapatos rangentes afundaram, e uma onda de desconforto subiu por seu corpo. Ela suspirou, franzindo levemente as sobrancelhas, mas não disse nada. Lamentações silenciosas corriam por sua mente: "Por que justo hoje?" Mas, como de costume, lembrou-se de que deveria ser sempre grata, mesmo pelas pequenas dificuldades.

━━ Não faz mal... ━━ murmurou para si mesma, ajeitando o véu que ameaçava escorregar com o vento.

O táxi partiu lentamente, os pneus deixando rastros largos na lama. O barulho do motor se dissipou na distância, e ela ficou sozinha diante do portão de ferro escuro. O convento parecia muito maior do que o anterior, com torres estreitas que se perdiam na neblina baixa. O portão estava entreaberto, rangendo levemente com a brisa, e as pedras da fachada eram encardidas pelo tempo. Não havia mais som algum além do vento entre as árvores e o pingar leve da chuva sobre as folhas.

Cecília se sentiu pequena diante da vastidão do convento e da floresta que o rodeava, como se tivesse sido sugada para um mundo à parte. Deu alguns passos hesitantes até o portão, arrastando a mala pela terra úmida. O tecido da saia se agarrou às pernas, pesado e desconfortável. Mais uma vez, ela suspirou, mas empurrou a sensação para longe, tentando se concentrar na sua missão ali.

Dentro do convento, as coisas pareciam mais austeras do que ela esperava. O pátio interno era amplo, com canteiros de ervas e algumas roseiras que, sob o céu nublado, pareciam tristes e esquecidas. Não havia vozes, apenas o som dos próprios passos ecoando pelas pedras molhadas.

━━ Olá? ━━ chamou, mas sua voz se dissipou no ar frio.

Enquanto esperava, um leve tremor percorreu seus dedos. Não era apenas o frio que a inquietava; era a sensação de que algo mais a aguardava ali, algo indefinível. Tentou afastar esse pensamento. Era uma freira, afinal. Seu caminho estava traçado. Tudo aquilo fazia parte de um propósito maior, ainda que ela não o compreendesse de imediato.

Do outro lado do pátio, uma porta de madeira pesada rangeu ao ser aberta. Uma figura alta e magra apareceu no limiar, envolta no mesmo hábito escuro que Cecília vestia.

━━ Seja bem-vinda, irmã Cecília. ━━ A voz era suave, mas havia uma solenidade nela que fez Cecília se encolher levemente.

━━ Obrigada... ━━ Cecília murmurou, inclinando a cabeça. ━━ É um prazer estar aqui.

A mulher se aproximou, as mãos cruzadas sobre o peito, como se carregasse todo o peso do convento sobre os ombros. Seus passos eram silenciosos, como se tivesse aprendido a não fazer barulho ao longo dos anos.

━━ Sou Irmã Teresa, a superiora dás freiras aqui. Estávamos esperando por você.

Cecília fez um leve aceno, percebendo que as palavras da superiora pareciam mais uma constatação do que uma saudação calorosa. Não havia muito espaço para amenidades ali.

━━ Espero que a viagem tenha sido tranquila, irmã. ━━ Irmã Teresa a observava com um olhar inquisitivo, embora não houvesse hostilidade em seus olhos. Apenas uma curiosidade contida.

━━ Foi, sim. Um pouco longa... ━━ Cecília hesitou, segurando a mala com as duas mãos. ━━ Mas estou feliz por ter chegado.

Irmã Teresa fez um gesto para que ela a seguisse.

━━ Venha, vou lhe mostrar seus aposentos. Temos uma rotina rígida aqui, mas você se acostumará. O silêncio e a disciplina são fundamentais.

Cecília seguiu a superiora por corredores estreitos e frios, onde as paredes de pedra pareciam absorver qualquer som. Passaram por uma pequena capela, onde velas ardiam na penumbra, lançando sombras inquietas nas imagens de santos e na cruz de madeira no altar. Cecília sentiu um arrepio na espinha ao olhar para a figura de Cristo crucificado, a expressão de sofrimento quase palpável.

Finalmente, chegaram a um quarto simples, com uma cama estreita de madeira, uma cruz na parede e uma janela minúscula que dava para o pátio interno. A chuva ainda caía lá fora, fina e constante.

━━ Aqui será seu espaço. ━━ Irmã Teresa fez um leve gesto com a cabeça. ━━ O jantar é às seis. Não se atrase.

Cecília apenas assentiu, observando enquanto a superiora se afastava, seus passos desaparecendo rapidamente no corredor. Ela soltou a mala ao lado da cama e sentou-se, os ombros finalmente relaxando um pouco.

A solidão pesava ali de forma diferente. No antigo convento, sempre havia risos e vozes sussurradas entre as irmãs. Ali, o silêncio parecia absoluto, como uma segunda pele que se grudava ao corpo. Ela olhou pela pequena janela, onde as árvores balançavam suavemente ao vento.

 Ela olhou pela pequena janela, onde as árvores balançavam suavemente ao vento

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@Sk4lily2024

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Between Sins and Promises | Nicholas  Alexander ChavezOnde histórias criam vida. Descubra agora