Névoa do Norte

Capítulo 3: O Jogo Não Tem Fim

Jaiden sorriu, mas não disse nada. Ele sabia que a batalha entre eles estava longe de terminar. Cada provocação, cada desafio era apenas uma etapa no jogo que ambos jogavam, e, no fundo, ele gostava desse equilíbrio tênue que Meryen mantinha. Ainda a segurando contra a bancada, seus olhos percorriam cada detalhe de seu rosto. O sorriso doce e perverso ainda estava lá, uma marca registrada de sua personalidade oculta.

Meryen lentamente soltou o aperto de suas pernas ao redor da cintura dele e desceu da bancada, sentindo o chão frio de madeira sob seus pés descalços. Seus olhos se cruzaram novamente, mas dessa vez, havia algo mais profundo ali. Não era apenas desejo, era uma mistura de curiosidade e incerteza. Jaiden a conhecia bem o suficiente para saber que, por mais que ela gostasse de brincar com ele, algo ainda a preocupava.

"Você acha que ganhou essa, não é?" ela brincou, ajeitando a camisa enquanto caminhava pela cozinha, pegando a caneca de café que havia abandonado antes. Seu tom era leve, mas Jaiden sabia que havia uma seriedade por trás de suas palavras. Meryen, com toda a sua ousadia, era também alguém que guardava cicatrizes profundas, marcas que ele ainda estava descobrindo.

Ele a observou em silêncio por um momento, ainda processando as últimas horas, antes de finalmente falar. "Você não parece alguém que se importa em perder." Ele se afastou da bancada, ajustando-se, mantendo o olhar fixo nela. Meryen lhe devolveu um olhar provocante, mas por um breve segundo, ele viu algo mais em seus olhos, um lampejo de vulnerabilidade.

Ela tomou um gole de café, aproveitando o momento de quietude, e então murmurou: "Talvez... seja você quem está perdendo."

Aquelas palavras pairaram no ar, carregadas de mais do que apenas provocação. Havia algo na forma como Meryen falava, como se estivesse testando-o, empurrando os limites. Jaiden sabia que, apesar de todo o jogo de poder entre eles, havia uma parte de Meryen que ele ainda não tinha completamente. Uma parte dela que resistia, uma barreira invisível que ela mantinha erguida.

Ele se aproximou dela, pegando sua mão suavemente e a puxando para si, seus olhos fixos nos dela. "Você pode pensar o que quiser," ele disse, sua voz mais suave agora. "Mas eu sei que você sente o mesmo que eu."

Por um breve momento, Meryen ficou em silêncio, os olhos escaneando o rosto dele como se estivesse procurando algo. E então, ela sorriu, mas era um sorriso diferente. Não o sorriso provocante ou doce de antes, mas algo mais sombrio, algo que refletia uma complexidade que Jaiden ainda estava tentando decifrar.

"Eu sinto muitas coisas, Jaiden," ela respondeu, sua voz baixa e envolta de um mistério que o fazia querer saber mais. "E é isso que torna tudo tão... interessante, não acha?"

Ela se afastou dele, indo em direção à janela da cozinha, olhando para a floresta densa que cercava a cabana. O silêncio lá fora contrastava com o turbilhão de emoções que fervilhavam entre eles. Meryen não podia negar que havia algo de profundamente viciante em Jaiden, algo que a atraía como uma mariposa para a chama. Mas, ao mesmo tempo, havia uma parte dela que não podia simplesmente se entregar completamente. O controle que ele exercia sobre ela, ainda que tentador, a fazia sentir-se vulnerável de uma forma que a assustava.

Jaiden, por sua vez, observava-a atentamente. Ele sabia que, apesar de toda a química entre eles, algo estava mudando. A dinâmica entre eles não era mais apenas sobre ele possuir Meryen; ela também estava começando a deixar sua marca sobre ele, de uma forma que ele não esperava. Isso o intrigava, mas também o incomodava. Ele sempre se orgulhou de estar no controle — do que fazia, de quem o rodeava, e, principalmente, dela. Mas agora, havia algo em Meryen que ele não conseguia dominar completamente.

Enquanto o silêncio reinava na cabana, ambos foram trazidos de volta à realidade. A ideia de estarem isolados, longe de tudo e todos, começava a pesar de maneiras diferentes. Para Jaiden, a cabana representava uma fortaleza, um lugar onde ele podia manter Meryen afastada de qualquer coisa que pudesse separá-los. Mas para Meryen, aquilo começava a parecer uma prisão disfarçada de paraíso. A sensação de estarem sozinhos, apenas um com o outro, começava a mostrar suas sombras.

"Você já pensou que podemos nunca sair daqui?" Meryen perguntou, ainda de costas para Jaiden, olhando para a floresta. Sua voz carregava uma calma que era quase assustadora, como se ela estivesse ponderando todas as possibilidades. Ela não olhou para ele, mas sabia que Jaiden a estava observando.

Ele se aproximou, ficando a poucos passos de distância. "Isso não te incomoda?" ele perguntou, a curiosidade genuína em sua voz. Jaiden achava que Meryen compartilhava do mesmo desejo de isolamento, que ela também queria fugir do mundo. Mas agora, vendo-a ali, tão calma e distante, ele não tinha tanta certeza.

Meryen riu suavemente, um som breve e quase irônico. "Talvez incomode," ela murmurou. "Ou talvez seja exatamente o que eu mereço."

Essas palavras, carregadas de um peso que Jaiden não compreendia completamente, o deixaram em silêncio. Ele sabia que Meryen escondia feridas mais profundas do que ela deixava transparecer. Apesar de toda sua provocação e confiança, havia uma parte dela que ele ainda não havia alcançado.

Ela finalmente se virou, encarando-o de frente, mas agora seu olhar era mais sério, quase desafiador. "Você acha que pode me prender aqui, Jaiden? Acha que essa cabana vai manter tudo o que sente seguro?" A pergunta era direta, mas havia algo mais em suas palavras, uma insinuação de que talvez o controle dele não fosse tão absoluto quanto ele pensava.

Jaiden não recuou, mas também não respondeu imediatamente. Ele sabia que o que ela estava dizendo tinha um fundo de verdade. Por mais que ele quisesse mantê-la ali, ao alcance de suas mãos, sabia que Meryen era imprevisível. Ela podia se entregar a ele em um momento, mas no próximo, já estava desafiando-o de novo, como se houvesse algo em seu interior que sempre a empurrava para longe.

"Eu não preciso te prender aqui," ele respondeu finalmente, sua voz calma, mas firme. "Você está aqui porque quer estar. Ou estou errado?"

Por um momento, Meryen não respondeu. Seus olhos o encararam profundamente, como se estivessem avaliando cada palavra, cada intenção. E então, ela sorriu novamente, aquele sorriso enigmático que a tornava tão impossível de decifrar.

"Talvez você tenha razão," ela disse suavemente, se aproximando dele, suas mãos deslizando pela cintura de Jaiden até os quadris. "Mas nunca se esqueça, Jaiden... até as coisas mais fortes podem quebrar quando você força demais."

Ela o beijou levemente, como um sussurro de desejo e de advertência, antes de se afastar e voltar a observar a floresta pela janela. Jaiden ficou parado por um momento, processando suas palavras, sentindo o equilíbrio delicado entre eles começar a se inclinar de maneiras que ele não esperava.

Ele sabia que a batalha entre eles estava apenas começando.