Capítulo 4: Fissuras no Isolamento

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Os dias na cabana passavam de forma lenta, como se o tempo fosse moldado pela floresta ao redor, quase estático. A cada manhã, o sol filtrava-se pelas árvores e invadia os cômodos com uma luz suave, mas fria. Jaiden e Meryen haviam criado uma rotina silenciosa, mas por trás de cada gesto, cada olhar, havia uma corrente subjacente de tensão. O que antes parecia um refúgio, agora começava a se tornar um espaço carregado de silêncio e expectativas não ditas.

Naquela manhã, Jaiden estava na varanda, observando a imensidão verde ao redor da cabana. Ele segurava uma xícara de café, mas seus pensamentos estavam longe. Nos últimos dias, Meryen havia se mostrado mais distante, e ele sentia isso. Havia algo no ar entre eles que ele não conseguia controlar, uma resistência sutil por parte dela que o incomodava mais do que gostaria de admitir.

Meryen, por sua vez, estava na cozinha, ocupando-se com pequenas tarefas, mas sua mente também vagava. O isolamento que antes parecia uma fuga perfeita agora começava a sufocá-la de maneiras que ela não havia previsto. Não era apenas o espaço físico, mas a constante presença de Jaiden, a sensação de que ele estava sempre ali, observando, esperando por uma reação, um movimento dela.

Ela gostava do jogo entre eles, gostava de provocar e ser provocada, mas havia uma parte de si que ansiava por algo além daquele ciclo interminável de desejo e controle. Era um sentimento que ela não conseguia nomear, mas estava ali, crescendo silenciosamente dentro dela.

Quando Jaiden voltou para dentro, Meryen estava debruçada sobre a pia, lavando algumas frutas que haviam colhido no dia anterior. Ela sentiu a presença dele antes mesmo de ouvir os passos. Sempre sentia. Jaiden tinha uma presença que era impossível ignorar, e mesmo sem olhar, ela sabia que ele estava a observando.

"O que você está pensando?" ele perguntou, sua voz grave preenchendo o ambiente. Ele sempre queria saber, sempre queria estar dentro da mente dela, como se isso fosse a chave para mantê-la sob controle.

Meryen sorriu levemente, mas não virou-se de imediato. "Nada importante," respondeu de forma evasiva, enquanto continuava a lavar as frutas. Ela sabia que aquilo não o satisfaria, mas, às vezes, ela gostava de mantê-lo no escuro, gostava de sentir que havia partes de si que ele não conseguia alcançar.

Jaiden se aproximou lentamente, parando atrás dela. Ele colocou a xícara sobre o balcão e deslizou as mãos pela cintura de Meryen, puxando-a de leve para perto de si. "Eu acho que você está escondendo algo de mim," ele murmurou, os lábios próximos ao ouvido dela. O toque de Jaiden era firme, mas Meryen não pôde deixar de sentir uma tensão diferente. Havia mais do que desejo ali; havia uma necessidade desesperada de controle.

Ela fechou os olhos por um momento, permitindo-se sentir o calor do corpo dele contra o seu. Mas ao abrir os olhos novamente, a sensação de sufoco voltou. "E se eu estiver?" ela provocou, virando a cabeça levemente para olhá-lo por cima do ombro. "Isso te incomodaria, Jaiden?"

Jaiden não respondeu de imediato. O silêncio que se seguiu foi pesado, e Meryen podia sentir a mudança na energia entre eles. Ele se afastou um pouco, sua expressão indecifrável, mas seus olhos cravados nela como se estivesse tentando ler cada pensamento que passava por sua mente.

"Eu não gosto quando você joga comigo, Meryen," ele disse finalmente, sua voz baixa, mas carregada de uma intensidade que ela conhecia bem. "Você está aqui comigo porque quer. Não se esqueça disso."

Meryen se virou de frente para ele, encostando-se na bancada da cozinha, os braços cruzados de forma defensiva. "Talvez eu queira mais do que isso," ela murmurou, seus olhos desafiadores encontrando os dele. Havia uma ousadia em suas palavras, mas também uma verdade que ela não podia mais negar. O jogo que eles jogavam estava começando a perder o brilho. A intensidade entre eles era inegável, mas até mesmo o desejo, quando levado ao extremo, podia se transformar em algo diferente.

Jaiden não gostava daquela resposta. Ele podia sentir Meryen escorregando de seus dedos, e isso o enfurecia. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nela que o desafiava de uma maneira que ele não conseguia ignorar. Ele a queria, mais do que nunca, mas sentia que estava começando a perder o controle.

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