o diário

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Obanai Iguro nunca entendeu o propósito dos aniversários. Para ele, era só mais um dia onde as pessoas fingiam se importar, oferecendo sorrisos falsos e presentes inúteis. Ao longo de seus 16 anos, ele havia se acostumado com a solidão, preferindo a companhia de Kaburamaru, sua cobra de estimação, a qualquer interação social. Mas, naquele ano, ele não pôde escapar do entusiasmo de Kyojuro Rengoku, seu “irmão” adotivo, que sempre tratava tudo como se fosse uma grande celebração.

Kyojuro era o oposto completo de Obanai. Enquanto Obanai gostava de silêncio e tranquilidade, Kyojuro era uma explosão constante de energia, sempre animado e cheio de palavras encorajadoras. Eles haviam se aproximado há alguns anos, quando as famílias Iguro e Rengoku cruzaram caminhos, e, apesar das diferenças extremas, Kyojuro havia se tornado a única pessoa além de Mitsuri com quem Obanai conseguia se sentir à vontade. Mesmo assim, ele não estava preparado para o que seu “irmão” preparara para seu aniversário.

— Iguro! — A voz animada de Kyojuro ecoou pelo corredor antes mesmo que ele entrasse no quarto de Obanai, um sorriso radiante iluminando seu rosto. — Feliz aniversário!

Obanai estava sentado em sua cama, com Kaburamaru enrolada preguiçosamente em torno de seu pescoço, como de costume. Ele ergueu os olhos, lançando um olhar entediado para o irmão.

— Você não precisava fazer nada — murmurou, sua voz baixa e indiferente.

Kyojuro ignorou o comentário e entrou no quarto de Obanai com passos largos e cheios de entusiasmo, segurando um pequeno embrulho em suas mãos.

— Claro que precisava! Você faz parte da família, Obanai. Não pode passar seu aniversário como se fosse qualquer outro dia. Aqui, pegue! — disse Kyojuro, estendendo o presente.

Obanai hesitou por um segundo antes de pegar o pacote, desembrulhando-o com um toque de curiosidade. Ao ver o que estava dentro, ele arqueou uma sobrancelha, sem conseguir esconder a confusão.

— Um diário? — perguntou, olhando para o caderno de capa preta simples que repousava em suas mãos. Ele esperava algo como uma faca ou, quem sabe, um livro sobre cobras. Mas um diário?

— Sim! — respondeu Kyojuro, com o mesmo entusiasmo. — Achei que seria bom para você ter um lugar para expressar seus pensamentos. Às vezes, é mais fácil colocar as coisas no papel, sabe?

Obanai olhou o diário com uma expressão cética, já imaginando o quão inútil aquilo seria. Ele não tinha "pensamentos" para expressar. E, se tivesse, certamente não os escreveria em um caderno. Kyojuro, no entanto, parecia tão feliz com o presente que Obanai se viu incapaz de recusar.

— Certo... Obrigado — murmurou, sem muita emoção.

Kyojuro sorriu ainda mais, se é que isso era possível, e deu um leve tapinha no ombro de Obanai.

— Eu sabia que você ia gostar! Nos falamos mais tarde. Tenho que resolver umas coisas. Até mais!

Assim que Kyojuro saiu do quarto, Obanai olhou para Kaburamaru, que o observava atentamente, seus pequenos olhos brilhando.

— Um diário? — ele repetiu, incrédulo, enquanto deixava o caderno de lado. — Como se eu fosse mesmo escrever alguma coisa nele.

A cobra sibilou suavemente, aninhando-se mais perto de seu pescoço, como se compreendesse o descontentamento de seu dono.

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Durante o resto do dia, Obanai não pensou muito sobre o presente. Continuou com sua rotina habitual, ignorando as conversas desnecessárias na escola, apenas trocando algumas palavras com Mitsuri durante o intervalo. Ele não era do tipo que fazia muitos amigos, e honestamente, não se importava. A maioria das pessoas era irritante, falava demais ou simplesmente não valia seu tempo.

Quando chegou em casa, já tarde da noite, sentou-se em sua cama e olhou para o diário mais uma vez. Parte de si sabia que Kyojuro esperava que ele usasse o presente, e a última coisa que ele queria era decepcioná-lo. Soltando um suspiro resignado, Obanai pegou o caderno e uma caneta, abrindo-o na primeira página em branco.

Ele hesitou por um momento, olhando para a página vazia. A ideia de escrever suas emoções parecia ridícula. O que ele tinha para dizer? Mas então, com um suspiro cansado, ele começou a escrever.

"Querido diário (que nome idiota, mas vamos lá),

Hoje foi como qualquer outro dia. Escola irritante, pessoas irritantes. Kyojuro me deu este diário, então aqui estou, escrevendo. Não tenho ideia do que ele espera que eu coloque aqui. Eu poderia falar sobre o quanto odeio a maioria das pessoas ou sobre o quanto prefiro a companhia de Kaburamaru.

Aliás, cobras são criaturas subestimadas. Elas são elegantes, silenciosas e letais. Exatamente o que a maioria das pessoas não é.

Sobre meu dia... bom, Mitsuri foi a única pessoa decente com quem falei. Todos os outros continuam sendo idiotas.

A propósito, eu não acredito que estou realmente escrevendo num diário. Ridículo."

Obanai fechou o caderno com um estalo, sentindo-se um pouco bobo por ter realmente se dado ao trabalho de escrever. Ele jogou o diário ao lado de sua cama e se deitou, olhando para o teto.

— Bem, Kaburamaru, acho que é isso — disse, com a cobra sibilando suavemente ao seu lado.

Mesmo que ele não quisesse admitir, havia algo estranhamente reconfortante em colocar seus pensamentos no papel. Talvez, só talvez, Kyojuro estivesse certo em sugerir o diário.

O diário de Obanai Iguro (obagiyuu) Onde histórias criam vida. Descubra agora