🏐🪢💙Eu gosto de estar aqui, a Itália tem me proporcionado muitas oportunidades boas, desde a minha primeira temporada tem sido gratificante, eu estou na melhor liga do mundo, cercada de excelentes colegas, com a Gabi, que eu considero minha irmã, a algumas horas de distância, estou bem localizada, ganho bem e vivo bem, tudo nos conformes, quase tudo. É minimamente infernal estar bem e mesmo assim sentir falta da minha parte favorita e acolhedora. São anos, Ana Carolina, são anos esqueça... era o que a voz mais profunda da minha mente gritava, e a minha vontade era de gritar um sonoro cala a porra dessa boca!
Não dá pra esquecer o que ainda está em mim, dentro de mim, do meu coração, do meu ser. Aí vocês por favor, não façam julgamento de valor, eu posso ter estado com muitas mulheres, mas a minha mulher ainda é ela, e não importa se eu não falo e não a vejo há tempos.
Odeio pensar nisso, me dá uma súbita vontade de vomitar, de nervoso, de medo, sinto pavor com a possibilidade de entrar em uma rede social e achar uma foto dela com a legenda anunciando algum compromisso com outra, não deu outra, vomitei todo o meu café da manhã, isso tem acontecido com uma frequência indesejada.
Depois de me recompor, do estômago e do choro, porque sim, eu chorei e não foi pouco, comecei a me organizar para sair. Era um dia importante, seríamos apresentadas oficialmente para os torcedores do Savino Del Bene Scandicci. Minha segunda temporada, depois do bronze olímpico, inclusive teria de levar a minha medalha e ter que lidar com a medalha de ouro da Kate, mas tudo bem, passado. Joguei todos os meus pertences em minha mochila do clube e saí esperando que aquela ansiedade me abandonasse ao passo que eu fosse chegando ao ginásio.
Estávamos nos preparando para a apresentação da nova temporada, já tínhamos jogado um jogo e outro, mas a liga, ia se iniciar oficialmente e nós nos mostraremos aos patrocinadores, algo contratual e de praxe. Tínhamos tido algumas perdas desde a temporada anterior e então sabíamos que tínhamos que ter cerca de duas ou três novas contratações. Um turbilhão de emoções e sentimentos me atravessava sem permissão, como se antecipasse algo que me agitava, minhas pernas balançavam de forma involuntária, enquanto eu arrumava meus cachos, agora na altura dos ombros, de canto de olho vejo Brenda se aproximar, nossa líbero que estava se tornando uma boa amiga e porque não conselheira.
"¿Qué te está pasando? Parece que está dentro de una batidora." (O que está acontecendo com você? Parece que está dentro de uma batedeira) perguntou parando o movimento da minha perna com sua mão.
"Eu não sei, acordei assim hoje. Ansiedade, talvez, do que eu não sei." Falei pausado, com a consciência de que ela estava me entendendo. Tínhamos amigas em comum que falavam português e perdão, eu não ia conseguir fazer meu cérebro funcionar em espanhol, não agora.
"¿Has ido a terapia? ¡Sabes que es importante, Carol! Desde la última vez, no me pareces bien." (Você tem ido à terapia? Sabe que é importante, Carol! Desde a última vez, você não me parece bem.) Engoli seco, a última vez, uma foto de Lis com uma loira alemã, que me tirou o último resquício de sanidade, eu sei que não podia cobrar nada, também estive com loiras, morenas, negras de várias nacionalidades, mas mesmo assim, dói demais.
Naquela ocasião eu bebi todas, mandei mensagem no Instagram dela, me declarei e Brenda me socorreu indo até a minha casa e apenas me fazendo companhia e dando alguns goles d'água à força.
"Estou fazendo terapia, estou religiosamente fazendo!" Falei de novo devagar, ela me deu um sorriso orgulhoso. "Eu só estou ansiosa pela apresentação, não tem nada a ver com ela."
Brenda assentiu e só aí tirou a mão da minha perna guardada pelo calção roxo e amarelo do nosso uniforme. Minha amiga dominicana deu dois tapinhas em meus ombros e subiu seu olhar para o meu.
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Entre𝑁𝑜́𝑠 - Ana Carolina.
Fanfiction"𝐀𝐢𝐧𝐝𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐮 𝐭𝐞𝐧𝐡𝐚 𝐭𝐞𝐧𝐭𝐚𝐝𝐨 𝐭𝐞 𝐞𝐬𝐪𝐮𝐞𝐜𝐞𝐫, 𝐦𝐞𝐮 𝐜𝐨𝐫𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐧𝐚̃𝐨 𝐩𝐞𝐫𝐦𝐢𝐭𝐢𝐮 𝐞 𝐡𝐨𝐣𝐞 𝐝𝐞𝐜𝐢𝐝𝐢 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐮 𝐥𝐞𝐦𝐛𝐫𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐯𝐨𝐜𝐞̂ 𝐪𝐮𝐚𝐧𝐭𝐚𝐬 𝐯𝐞𝐳𝐞𝐬 𝐞𝐮 𝐪𝐮𝐢𝐬𝐞𝐫." 𝑨𝒎𝒐𝒓𝒆𝒔...