Entre𝑁𝑜́𝑠 - Ana Carolina.

• 02.

🏐🪢💙

Brenda chegou em casa no meio da madrugada, eu tinha ligado pedindo socorro, mas dessa vez ela não foi sozinha, Kate estava com ela. Ótimo, muito interessante ser a bêbada instável e chorona da galera. Elas me acolheram como sempre Brenda fazia, com palavras de carinho, abraços e broncas, por que não? Afinal eu merecia, tinha agido como uma adolescente impulsiva, 33 anos Ana Carolina, se emende! Era o que mais uma vez gritava a minha mente Cala a boca! Eu respondia ao meu subconsciente.

Eu estava miserável, essa era a verdade, alcoolizada, descabelada e desesperada. Porque isso tinha que acontecer logo agora? Que eu não estou aguentando um gato pelo rabo? Meu Deus do céu! Eu sempre quis estar com ela, poder passar tempo com ela, eu sentia a sua falta todos os dias, então porque estou agindo como se ela fosse o mal do mundo? Infernal. Se alguém me perguntar como eu estou me sentindo essa seria a resposta imediata. Kate segurava meus cabelos para que eu pudesse colocar para fora toda a bebida existente no meu sistema digestivo. Brenda também estava aqui, fazia um carinho nas minhas costas enquanto falava palavras bonitas de superação, mentiras contadas pelo Google, mas ela se esforçava.

Assim que pude me recuperar voltamos para a sala, eu ainda cambaleava, sendo sustentada por elas. Um vexame. Era sábado, por sorte não tínhamos compromisso com o clube, Deus é bom comigo, às vezes. No entanto, minhas amigas deveriam estar dormindo, não cuidando de minha bebedeira. Sentei no sofá e encarei Brenda com meus olhos enevoados pelo choro. Tentando controlar o meu corpo pesado, trêmulo. Descontrolado.

"O que eu fiz de errado, Brenda? Me fala! Me conta como eu posso consertar essa merda que eu fiz." Pedi enquanto tentava parar a tremedeira das minhas pernas. "Eu esperei pela volta dela pre perto de mim por anos e agora eu fugi pra beber? Que tipo de pior pessoa eu sou?"

"Te asustaste, mi bien. No hizo nada malo, ya no estaba bien. ¡Sucede!" (Você se assustou, meu bem. Não fez nada de errado, já não estava bem. Acontece!) Ela respondeu com um afago na minha palma.

"Quindi è lei, il grande amore della tua vita?" (Então é ela, o tal grande amor da sua vida?) Kate perguntou e eu assenti em silêncio. "È bellissima!" (Ela é linda!)

Revirei os olhos e me joguei de costas no sofá, sim tudo que eu precisava era de outra mulher chamada a minha mulher de linda, era um teste com certeza era. A essa altura do campeonato eu não estava racionando nem em português, que dirá em espanhol e italiano.

"Será que ela está com alguém, Brenda? Podemos olhar em suas redes sociais?" Antes que Brenda pudesse responder, Kate me estendeu o celular já na página de Instagram dela, como ela sabia? Enfim, peguei o aparelho e olhei quase todas as primeiras vinte fotos. Nenhum sinal de namoro, casamento ou algo do tipo. "Eu amo esse sorriso dela, está vendo Kate? Ela é linda mesmo!" Minha voz arrastada falou e minhas amigas sorriram.

Kate assentiu e fez um carinho nos meus cabelos bagunçando cada vez mais. Elis estava no Savino, nós teríamos que conviver por pelo menos uma temporada inteira. Meu Deus do céu, que pavor.

"Prendi!" (Toma!) Kate me deu uma garrafa de cerveja. Brenda arregalou os olhos e eu levei a garrafa à boca. "Lascia che affoghi i dolori, Brenda! Siamo qui, non succederà niente di male." (Deixa ela afogar as mágoas, Brenda! Estamos aqui, não vai acontecer nada de mal.)

"¡Bien!" (Certo!) Minha amiga sentou nos meus pés e me viu beber toda a garrafa entre choros e lufadas de ar.

Não sei por quanto tempo me mantive de olhos abertos, pois acordada era um termo muito forte, mas sei que quando já era dia, minha sala parecia uma floricultura, tinham girassóis e lírios espalhados pelo chão e em cima da mesa posta. Brenda e Kate sorriam mostrando os dentes, fazendo uma apresentação meio tragicômica dos alimentos da nossa mesa. Elas queriam o meu sorriso, e tiveram! Impossível não sorrir depois de todo carinho que elas me dedicaram a noite inteira.