01: A Janela do 606

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Boa leitura

Changsin-dong, 11:34 PM

— Ufa, essa foi a última, Tae — disse Jimin, deixando a caixa no chão com um suspiro de alívio.

Taehyung se deixou cair no pequeno sofá vermelho, sentindo o peso do dia se dissipar. O lugar ainda estava repleto de caixas empilhadas, mas a emoção da mudança o envolvia. Jimin bateu levemente nas coxas do moreno enquanto se acomodava ao seu lado.

— Que sorte a nossa, finalmente encontramos um apartamento com aluguel barato — comentou Jimin, um sorriso esperançoso no rosto.

— Óbvio, né? Este prédio é mais velho que a coleção de porcelana da minha avó — respondeu Taehyung, a boca curvando-se em um meio sorriso, mas seus olhos analisavam o ambiente com uma ligeira hesitação. — Mas você não acha esquisito o governo ter desistido do projeto de redes redesenvolvimento?

— Eu não — disse Jimin, balançando a cabeça. — Ainda bem que desistiram, ou estaríamos presos na nossa antiga casa. Aquela proprietária era uma louca, e os gatos dela me davam alergia!

— Será que o governo ficou com pena dos moradores? Aqui tem bastante gente idosa... — ponderou Taehyung, a mente inquieta.

— Tae, meu querido Tae — começou Jimin, a voz melodiosa mas firme. — Você realmente acha que aquele deputado Jeong teria dó de pessoas pobres como nós? Para eles, somos apenas cachorros que seguem ordens em troca de petiscos.

— Credo... Que exemplo horrível — disse Taehyung, com um leve arrepio percorrendo sua espinha.

— É a verdade, eu vi isso no YouTube —. disse Jimin, dando de ombros.

Taehyung revirou os olhos, tentando afastar o clima pesado que se formava, antes de se levantar e esticar os braços.

— Vou organizar minhas coisas no quarto. Preciso começar a arrumar tudo — ele disse, tentando resgatar a leveza da conversa.

Jimin sorriu, embora seus olhos se fixassem brevemente na janela embaçada, como se algo lá fora tivesse chamado sua atenção. O vento assobiava suavemente, trazendo um frio inesperado que parecia penetrar até os ossos.

— Tudo bem, mas não demore! — disse Jimin, a empolgação na voz evidente. — Quero pedir pizza para o jantar hoje.

Taehyung assentiu e começou a subir as escadas. Ao chegar no segundo andar, caminhou pelo corredor em direção ao seu quarto. O prédio, com seu charme de tempos passados, era surpreendentemente espaçoso. Originalmente construído para famílias ricas, o apartamento de Changsin-dong agora parecia quase abandonado, com apenas alguns idosos ocupando os outros apartamentos. 

Ao entrar em seu quarto, Taehyung caminhou até a janela e a abriu, permitindo que o ar fresco invadisse o espaço. Era curioso como os apartamentos estavam dispostos, de frente um para o outro, com uma passarela de grades que conectava as entradas. Ele não pôde deixar de se sentir um pouco invadido pela proximidade, a janela dele diretamente voltada para a casa de um vizinho, com apenas alguns metros de distância, como se estivessem separados por uma rua.

Taehyung deu de ombros, tentando afastar a sensação estranha que o acompanhava. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto ele começou a abrir as caixas, desempacotando suas coisas com um misto de excitação e ansiedade. Cada objeto tirado de dentro revelava um fragmento de sua vida anterior, mas também trazia à tona a incerteza do novo lar.

Após algumas horas, Taehyung finalmente terminou de arrumar suas coisas. Ao se levantar, um arrepio percorreu sua espinha; um vento frio invadiu seu quarto pela janela aberta. Ele caminhou em direção à janela para fechá-la, mas parou ao notar o olhar intenso de um homem. O vizinho do 606 estava fixado nele, a expressão enigmática e fria como um inverno rigoroso.

O Horror do 606  |  TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora