Capítulo 4: Conselheiro Amoroso

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— Agust, eu preciso de ajuda! — Bia praticamente invadiu o apartamento dele, carregando o celular e uma expressão de determinação.

Agust, que estava relaxado no sofá, quase derrubou a xícara de café ao ver a amiga entrar com tanta energia.

— Nossa, que entrada triunfal, hein? O que foi dessa vez? — Ele tentou soar descontraído, mas sempre ficava um pouco tenso quando Bia falava sobre os encontros dela. Não podia evitar.

— Preciso que me ajude a melhorar meu perfil no aplicativo — Bia respondeu, jogando-se ao lado dele no sofá, com o celular já aberto na página do app de namoro. — Você sabe, quero atrair alguém legal de verdade.

Agust sentiu o estômago revirar ao ouvir aquilo. Por que ela simplesmente não podia perceber que a pessoa certa estava bem ali ao lado? Respirou fundo e sorriu, tentando disfarçar o incômodo.

— Claro, eu ajudo — respondeu, com o tom mais leve que conseguiu.

— Ótimo! — Bia passou o celular para ele, os olhos brilhando de expectativa. — O que você acha da minha bio? Sinceridade total, ok?

Agust leu a descrição dela rapidamente, tentando manter a mente focada nas palavras e não no desconforto crescente em seu peito.

— “Apaixonada por fotografia, café e boas risadas. Procuro alguém que me faça rir e me mostre o lado divertido da vida.” — Ele leu em voz alta, refletindo por um momento. — Bom, é bem a sua cara. Mas talvez seja bom colocar algo mais pessoal, algo que mostre mais quem você é de verdade.

Bia assentiu, animada.

— É por isso que eu preciso de você! Você me conhece melhor do que ninguém. O que eu posso colocar para parecer mais autêntica?

Agust pensou por um instante, lutando contra a vontade de simplesmente dizer que ela não precisava de nada disso, que o cara perfeito para ela já estava ali. Mas, ao invés disso, respirou fundo e deu sua melhor sugestão.

— Talvez algo como... “Gosto de observar as pequenas belezas do dia a dia, como o sorriso de um amigo ou a luz do pôr do sol. Procuro alguém que valorize esses momentos tanto quanto eu.” — Ele olhou para Bia, hesitante. — Que tal?

Ela o encarou por um segundo, seus olhos fixos nos dele, e então sorriu.

— Isso é perfeito, Agust. Acho que nunca teria pensado em algo tão bonito. — Ela deu um leve empurrão no ombro dele, rindo. — Você seria ótimo com essas coisas.

Agust riu junto, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Cada elogio que ela fazia o deixava mais desconfortável, como se estivesse alimentando uma ilusão que, mais cedo ou mais tarde, teria que enfrentar.

— É... que bom que você gostou. — Ele devolveu o celular a ela, sentindo o peso da situação se intensificar.

Bia passou alguns minutos mexendo no perfil, ajustando as dicas que Agust havia dado. Enquanto isso, ele tentava manter a cabeça no lugar, mas era difícil. A cada novo encontro que ela mencionava, a cada vez que pedia conselhos sobre como impressionar alguém, Agust sentia seu coração apertar mais um pouco.

— Ok, próxima missão! — disse Bia, interrompendo seus pensamentos. — Preciso de dicas sobre como agir nos encontros. Tipo, o que falar, o que evitar... você sabe, essas coisas. Você sempre foi bom em me aconselhar.

Agust sorriu sem humor, lembrando-se de todas as vezes que havia salvado Bia de encontros desastrosos. E agora ela queria que ele fosse seu conselheiro amoroso? Era quase cruel.

— Bom, só seja você mesma, Bia. Você é incrível, sabe disso. Se o cara não enxergar isso, ele não vale a pena — disse ele, tentando manter a voz firme, embora as palavras o machucassem.

Bia suspirou, se inclinando para frente no sofá.

— Eu sei, mas... às vezes parece que ser eu mesma não é suficiente, sabe? Parece que estou sempre tentando agradar alguém.

Agust sentiu o peito apertar ainda mais. Ele conhecia aquele sentimento tão bem, e agora o entendia de uma forma completamente nova.

— Você é mais do que suficiente, Bia — respondeu ele, sua voz baixa, mas cheia de sinceridade.

Ela olhou para ele por alguns segundos, com uma expressão pensativa.

— Obrigada, Agust. Não sei o que seria de mim sem você. — Ela deu um sorriso caloroso, mas havia algo nos olhos dela que fez Agust se questionar se ela percebia o que ele estava tentando esconder.

Ele forçou um sorriso em resposta, sentindo o peso daquilo tudo se acumular. A cada conversa, a cada conselho que ela pedia, ele se via mais preso àquela situação. E quanto mais ajudava, mais distante parecia o momento de revelar o que realmente sentia.

A verdade era que Agust não sabia por quanto tempo mais conseguiria manter aquilo. Estava ajudando Bia a encontrar alguém, enquanto, ao mesmo tempo, desejava que ela percebesse que ele era essa pessoa. Cada vez que a aconselhava, estava, na verdade, afastando-se da própria chance de ficar com ela.

Enquanto Bia continuava a falar sobre as expectativas para o próximo encontro, Agust apenas a observava em silêncio, sua mente em uma batalha interna.

Ele deveria dizer algo? Revelar seus sentimentos e correr o risco de arruinar a amizade? Ou continuar em silêncio, sendo o bom amigo que ela sempre precisou?

A única coisa que ele sabia com certeza era que, se não fizesse algo em breve, esses sentimentos acabariam o consumindo.

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