Nunca fui uma pessoa introvertida. Desde nova, fui incluída em vários círculos sociais, aprendendo assim a me comunicar avidamente. Talvez fosse um preço a se pagar por ter pais donos de empresas milionárias, que vivem em viagens de negócios. Fui forçada a me acostumar com o desapego a lugares e pessoas, tanto quanto fui forçada a me enturmar com as pessoas à minha volta, criando a imagem de filha prodígio perfeita. Não me era estranho nos mudarmos frequentemente; por esse motivo, não estranhei quando meus pais me acordaram em uma manhã e avisaram-me para arrumar minhas malas, pois naquele final de semana iríamos nos mudar para Townsville.
E neste exato momento, observo as nuvens pela janela do avião, meus pensamentos dispersos enquanto uma música tocava em meus headphones. Olívia, minha mãe, se encontrava ao meu lado, esbanjando classe enquanto lia um jornal impresso — nem sequer sabia que ainda existia tal antiguidade. Seus cabelos ruivos em corte chanel estavam perfeitamente alinhados e seu conjunto social impecável não tinha nenhum amassado, mesmo durante longas horas dentro deste avião. Eu, pelo contrário, estava totalmente diferente; não de uma forma desleixada, mas confortável. Meus cabelos igualmente ruivos, porém medianos e ondulados, estavam em um coque mal feito e, divergindo da roupa social de minha genitora, optei por um moletom lilás e uma calça jeans de lavagem clara… confortável.
— Iremos pousar em dez minutos.
Ouço a voz aveludada de minha mãe, mas ela não desvia o olhar do jornal em nenhum momento. Volto minha atenção para a janela, onde agora posso ver pequenos arranha-céus e casas minúsculas abaixo. Como se fosse uma confirmação para a fala de minha mãe, uma voz masculina soou pelos autofalantes do avião, comunicando que logo pousaríamos. Suspirei ao ver a altura diminuir gradativamente e uma longa pista de pouso se formar abaixo.
— Vamos, seu pai está nos esperando na área de desembarque.
Ouço novamente a ruiva mais velha falar, agora fechando o jornal e colocando-o sobre uma pequena bancada à sua frente, mordomias da primeira classe. Meu pai, Carl, havia vindo para Townsville antes de nós; segundo ele, era para organizar nosso lar para nos receber. E quando ele diz isso, quer dizer "escolher uma boa mansão que combine com o sobrenome Jones".
Assim que pousamos, vejo minha mãe se levantar enquanto a voz nos alto-falantes agradece pela preferência do voo. Levanto-me, pegando a mochila rosa bebê que trouxe e jogando-a sobre os ombros, seguindo minha mãe para fora. Muitas pessoas estavam na área de desembarque, algumas com plaquinhas e faixas feitas à mão com os nomes de quem aguardavam. Procurei pelo rosto conhecido de meu pai, mas não encontrei. Em vez disso, vi uma plaquinha feita aparentemente de última hora com nosso sobrenome e um rosto familiar atrás: o motorista da família.
Ele acena quando nos vê e logo estamos indo em sua direção. Ele sorri ao pegar a mala que estava com minha mãe e nos guia pelo mar de pessoas.
— Cadê Carl, senhor James?
— Oh, senhora, ele teve que ir urgentemente a uma reunião. Pediu para que eu as buscasse no aeroporto.
James respondeu, olhando pelo retrovisor do automóvel de luxo em que nos buscou. Não me surpreendia; meu pai vivia e respirava trabalho. Revirei os olhos e voltei minha atenção para o movimento nas estradas. Foram cerca de vinte minutos de viagem, passando por várias ruas com casas bem decoradas e charmosas, até entrarmos em uma específica que chamava a atenção: casas glamourosas, gigantes e modernas.
Logo estávamos passando por um portão enorme e seguindo por um pequeno caminho de pedras ornamentadas e um jardim glamouroso. O senhor James estacionou o carro em frente à entrada bem ornamentada e brilhantemente branca, com uma enorme porta de madeira. Depois disso, saiu e abriu a porta para que nós saíssemos. Suspirei pela segunda vez no dia, mais profundamente quando coloquei os pés para fora daquele cubículo metálico. Peguei minha mochila e encarei a grande fachada da entrada.
"Ah, lar... doce futuro lar."
Mesmo após inúmeras mudanças, sempre sinto um aperto no coração ao lembrar dos amigos que deixei. As memórias felizes criam um nó em meu estômago. Nunca vou me acostumar completamente; sinto receio sempre que fecho os olhos, imaginando que, assim que os abrir, estarei em outra cidade, deixando os laços que criei se esticarem tanto devido à distância que se rompam.
A busca constante por poder e aumento do sobrenome de nossa família virou uma meta de vida para meus pais. Eles querem fazer a "Techwave" se tornar uma multinacional milionária. Para isso, meu pai procura abrir uma filial em cada lugar que passamos, fazendo parcerias, participando de eventos sociais desgastantes, criando seu nome e pavimentando os caminhos.
E eu... eu sou Sophia Jones, a herdeira e filha perfeita da família Jones. E uma herdeira não deve criar raízes.
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Amor Entre Passos
RomanceSophia é a aluna nova, em um colégio novo, em uma cidade nova. Uma garota linda e gentil, atrai a atenção de todos a sua volta, além de ser inteligente e atlética, entrando na equipe de Atletismo do colégio. Ela seria a personagem perfeita para um c...