Capítulo Um 🔥⚔️⛰️

1 1 0
                                    

"Dizem que os portos dourados esbanjam ouro pela latrina" o cuspe de Ratazana cruzou o parapeito do navio e encontrou a água gelada do mar fazendo um barulho úmido

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Dizem que os portos dourados esbanjam ouro pela latrina" o cuspe de Ratazana cruzou o parapeito do navio e encontrou a água gelada do mar fazendo um barulho úmido.

"Espero que tenham botas. Preciso de um par novo." Eldric não tinha muitos amigos, descobriu cedo em suas viagens que os tripulantes não passavam de piratas egoístas. Um deles, o que chamavam de Coiote, acordava mais cedo para roer um pouco da ração de cada um dos marinheiros; e quando foi contestado pelo olheiro, mágicamente foi roubado por ele no dia seguinte. Ratazana era seu único amigo, um homem magro com as feições da morte, mas leal e experiente nos navios.

"Espero que tenham mulheres." Sua perna de pau, herança de uma febre vermelha, talvez o tenha tornado mole. Mas a verdade é que quando Eldric chegou no porto moribundo com seu saco velho nas costas despertou em Ratazana um sentimento diferente, uma ardida amarga no peito, ele era um órfão e ver aquele menino magricela lhe encheu de compaixão. "Quem vai querer um velho careca, rata?" Eldric cutucou o ombro do amigo com um sorriso de lado. "Qualquer uma que quiser dez leões de latão." As gargalhadas engasgaram a garganta arranhada do velho.

Atrás deles um dos marujos passava uma bruxa encharcada no convés, cantarolando uma música inaudível, que Eldric reconheceu como o Dom da Santa Purificação. Um trecho dizia:

'Os hereges impuros merecem pagar
Por suas manias de para pedras orar
Iludidos sem fé que cantam para o fogo
Se do calor vieram para ele voltarão'

"Você acha que os adoradores de fogo são hereges rata?" Eldric passou a mão no colar pendido sobre a blusa.

"Hereges? Eu acho que se os deuses existissem seu povo não haveria queimado nas fogueiras políticas." Mais um pigarro cruzou a murada do navio.

Eldric duvidava de que a mãe mentisse, ou estivesse errada. Ele lembrava vividamente, e saudosamente, do dia em que foi batizado, do que viu no transe e do que sentiu naquele deserto.

"Terra à vista" A voz do olheiro gritou trazendo-lhe de suas lembranças e forçando-o a soltar o colar escondido. "Você tem razão" disse ele. "Talvez deuses sejam histórias de parteiras." Afastou-se da murada, e pôs-se a puxar as velas.

O Porto Dourado era um formigueiro humano de pessoas indo e vindo; carregavam caixotes de madeira, animais vivos e mortos, gritavam promoções e procuravam por pessoas. As barracas estendiam-se por todo o cais com legumes, carnes, bebidas e especiarias. Adivinhos, mágicos e palhaços paravam as pessoas no dique apresentando um número e exigindo uma moeda, quase arrancando-lhe a força.

Mas o que mais fascinou Eldric, foi a banda que tocava num palco de caixotes no desembarque dos navios. Haviam três integrantes na banda: um flautista gordo que sapateava com o ritmo da flauta, um rapazote vistoso tocando banjo e uma menininha com um vestido que mais parecia uma camisa que não lhe servia cantando belamente canções em uma língua desconhecida.

Eldric, O BravoOnde histórias criam vida. Descubra agora