Capítulo 2: O Eco das Memórias

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A cidade estava iluminada por lanternas coloridas quando Emília e Laura chegaram à praça central. O festival da primavera havia começado, e o ar estava repleto de risos e música. Embora o ambiente vibrante a cercasse, Emília se sentia como uma espectadora distante de sua própria vida.

Laura puxou-a em direção a uma barraca de artesanato, onde um grupo de artistas locais vendia flores de papel e bijuterias. A amiga estava animada, escolhendo um colar delicado feito de contas coloridas. Emília apenas observava, seu coração pesando ao lembrar das pulseiras que Clara costumava fazer, cada uma cheia de histórias e risos.

- Emília, vem ver isso! - Laura chamou, segurando um colar que brilhava sob as luzes. - Acho que ficaria perfeito em você.

Emília hesitou, mas a expressão entusiástica de Laura a convenceu a se aproximar. Quando o colar tocou sua pele, ela sentiu uma onda de nostalgia, como se Clara estivesse ali, fazendo-a sorrir.

- É lindo, mas não sei... - Emília murmurou, olhando para a corrente delicada.

- Você precisa de algo que te faça brilhar! - Laura insistiu. - Vamos, compre. É uma nova estação, um novo começo.

Após algum tempo, Emília cedeu, comprando o colar. Ao colocá-lo ao redor do pescoço, sentiu uma leveza que não experimentava há muito tempo. A música começou a tocar mais alto, e, por um instante, ela se permitiu entrar no ritmo.

Enquanto dançavam, Emília viu um grupo de crianças correndo com balões, suas risadas ecoando como sinos alegres. A visão fez seu coração apertar; ela se lembrou das tardes em que Clara a levava para brincar na praça, ensinando-a a apreciar as pequenas alegrias da vida. Cada risada infantil parecia um eco do passado, um lembrete da vida que continuava a fluir.

- Olha, Emília! - Laura chamou, apontando para um mural decorado com flores pintadas por crianças da escola. - Vamos participar!

Emília hesitou, mas, ao ver o entusiasmo de Laura, decidiu se juntar a ela. Com um pincel nas mãos, começou a pintar uma flor. A cada traço, uma memória aflorava: o riso da avó, a luz do sol filtrando-se pelas folhas, as histórias contadas em voz baixa enquanto trabalhavam no jardim.

Conforme o mural ganhava vida, Emília sentiu as lágrimas brotarem. Era um misto de tristeza e libertação. Laura percebeu e, com um gesto carinhoso, segurou a mão de Emília.

- Está tudo bem chorar - disse Laura suavemente. - Suas memórias são valiosas.

Emília respirou fundo, sentindo o apoio da amiga. Era a primeira vez em semanas que se sentia um pouco mais leve, como se a dor estivesse se transformando em algo que podia carregar, em vez de ser o único peso em seus ombros.

Depois de algum tempo, o mural estava quase completo, e Emília olhou para a flor que havia pintado: uma rosa vibrante, símbolo de amor e renovação. A visão da obra, cercada de crianças e adultos sorrindo, trouxe uma nova perspectiva. Clara não queria que ela ficasse presa à tristeza; queria que ela florescesse.

Ao final da noite, enquanto as luzes da praça brilhavam como estrelas, Emília sentiu uma sensação de esperança despertar dentro dela. O eco das memórias de sua avó estava sempre presente, mas agora era como um canto suave, um lembrete de que, mesmo em meio à dor, a vida continua.

E, assim, sob o céu estrelado, Emília decidiu que, embora a perda sempre estivesse com ela, também havia espaço para a alegria, para novas experiências e para uma primavera que poderia ser renovada a cada dia.

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