𝟎𝟏: O primeiro olhar.

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Pont of view: Marília.

O som das ondas quebrando suavemente na areia preenchia o ar, entrelaçado ao vento salgado que acariciava meu rosto. A praia, com seu céu azul cristalino e o mar esverdeado que refletia a luz do sol, era o cenário perfeito para mais uma de minhas pinturas. Eu estava sentada em um pequeno banco de madeira, o cavalete à minha frente, enquanto as cores vibrantes já manchavam a tela em traços suaves, começando a dar forma ao horizonte.

Pintar era a única coisa que me fazia sentir completamente livre. Naquele momento, com o pincel na mão e o mundo ao meu redor, nada mais importava. Pelo menos, era isso que eu tentava convencer a mim mesma, enquanto me deixava levar pela dança das cores e pela textura da areia sob meus pés descalços.

Enquanto eu mergulhava nos detalhes da luz refletida nas ondas, risadas distantes cortaram o ar, chamando minha atenção. Levantei os olhos e avistei um pequeno grupo de pessoas na praia, não muito longe de onde eu estava. Meu olhar se fixou em Bruno - um amigo de infância que sempre estava presente, desde os encontros na praça até as rodas de conversa nos finais de semana.

Ao lado dele, uma garota de cabelos negros, soltos ao vento, com um sorriso caloroso e contagiante, chamou minha atenção. Seus pés descalços afundavam na areia enquanto ela ria de algo que sua amiga, uma jovem de pele clara e cabelos pretos, havia acabado de dizer. Ao lado das duas, outra jovem de cabelos longos e um semblante mais reservado observava com olhos atentos, como se estivesse absorvendo cada momento - pareciam irmãs, unidas por laços que transcendiam as palavras.

"Que sorte," pensei, forçando-me a voltar à pintura. Eu precisava me concentrar. Mas, mesmo enquanto meus dedos dançavam com o pincel sobre a tela, meus olhos eram constantemente atraídos para aquela garota de cabelos escuros. Havia algo nela, uma energia inexplicável, como se a praia fosse seu palco e ela estivesse em perfeita harmonia com o mar e o vento.

Bruno, claro, notou minha presença antes que eu pudesse evitar o encontro. Ele me lançou um olhar e, sem pensar duas vezes, começou a caminhar em minha direção, deixando o grupo para trás.

- Ei, Marília! - ele gritou, acenando de longe, sua voz alegre se destacando sobre o som das ondas.

Suspirei. Não que eu não gostasse de Bruno - ele sempre foi uma boa companhia - mas, naquele momento, eu desejava estar sozinha com meus pensamentos e minha arte.

Ele se aproximou, ofegante pela pequena corrida, e um sorriso iluminava seu rosto.

- Oi, Bruno - disse, tentando soar mais animada do que realmente me sentia.

- Tá pintando de novo? - Ele olhou para a tela, admirado. - Ficou linda!

- Obrigada - respondi, tentando disfarçar o quanto aquelas palavras me aqueciam por dentro. Bruno não entendia muito de arte, mas sempre fazia questão de elogiar meu trabalho.

Antes que eu pudesse perguntar o que ele fazia ali, ele virou-se para o grupo que deixara na praia e acenou animadamente.

- Vem cá, deixa eu te apresentar a galera!

Antes que eu pudesse protestar, as três garotas estavam caminhando em nossa direção. Meu coração acelerou de forma inesperada, e um estranho nervosismo me invadiu. Eu, que sempre fui tão tranquila ao conhecer novas pessoas, me sentia como uma criança envergonhada.

Cores do coração - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora