01. REBEKAH

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RECOMENDADO PARA MAIORES DE 18 ANOS.

ERA A VIGÉSIMA VEZ QUE EU ESTAVA OLHANDO MEU REFLEXO NO ESPELHO.

Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei a simples ideia de vir vestida como uma coelhinha para a festa de Halloween, provavelmente estaria mais confortável com uma fantasia que eu mesma tivesse escolhido.

O corset rosa claro com algumas pedrinhas de brilho contornavam minha cintura e deixava meu corpo um tanto sufocado, evidenciando ainda mais o meu busto que estava destacado pelo iluminador que as meninas haviam passado. Estava vestindo meias calças num tom claro que combinavam com o conjunto da fantasia, saltos que deixavam minha altura com no máximo de 1,60cm. Um acessório com pelinhos num tom rosa ornamentava em meus pulsos, além da típica tiara de coelho e um pompom cor de rosa atrás.

Tudo bem, por influência de Sydney, líder da Kappa Alpha Theta, eu havia optado por essa fantasia.

Olho meu reflexo pela vigésima primeira vez naquela noite antes de soltar um suspiro e abrir a porta do banheiro, indo para os corredores abarrotados de universitários. É halloweek na UCLA e todos os estudantes estão aproveitando a semana para se fantasiarem e encherem a cara.

Pedi licença para alguns corpos que se beijavam na frente das pessoas e busquei por rostos conhecidos, o time dos Bruins haviam ganhado na noite passada e todos estavam comemorando isso também. Os meninos estavam invictos há três jogos seguidos e todos acompanham os jogos, afinal, são uma celebridade pela Califórnia.

Mordo o lábio, sentindo um gosto metálico invadir meu padalar ao não reconhecer nenhuma das garotas da irmandade.

Preciso de ar, droga.

Passo por alguns corpos no meio da sala e algumas batidas preenchem meus ouvidos, me fazendo andar o mais rápido para a saída. Sinto uma mão gélica buscar meu pulso e quando viro para olhar, reconheço as unhas afiadas e rosas em minha pele. Olho para cima e visualizo uma Sydney vestida com uma fantasia de gato, toda de preto e somente os olhos azuis se destacando. Seu cabelo loiro está amarrado de forma impecável, enquanto alguns cachos caem por seus ombros.

— Ei Rebekah! Para onde vai?

Estreito os olhos, me aproximando dela para escutar melhor, afinal, as batidas da música não me deixa ouvir muito bem.

— Preciso de um ar, Sydney... Tem muitas pessoas por aqui, está ficando difícil de res... — sua voz me interrompe no mesmo instante.

— Você viu o Rafe por aí?

Arqueio as sobrancelhas diante de sua pergunta. Molho os lábios antes de responder e voltar a atenção para a líder da KAT a minha frente.

Droga, eu mal sabia quem raios era Rafe. Ok, ele faz parte do time de Bruins e sei que todas as garotas da irmandade soltam suspiros quando os meninos passam pelos corredores, mas pelo o que ouvi das meninas, Sydney tem um passado com o running back do Bruins. Eu devo ter visto algumas vezes pelos lugares da UCLA e algumas fotos de divulgação da universidade, mas eu mal lembrava de seu rosto direito.

E nem me importava, afinal, futebol americano estava longe de ser minha praia.

— Não, eu nem o vi por aí, Sydney.

Ela procura desesperadamente ao redor, em uma ansiedade perceptível e finalmente solta meu pulso.

— Merda! — exclama, entredentes. — Com certeza deve estar com uma vadia por aí.

— É, deve ser isso mesmo. Licença, eu preciso de um ar.

Antes que a líder da irmandade pudesse responder alguma coisa, lhe dei as costas e passei pelas demais pessoas até finalmente chegar a porta de entrada. O local estava cheio e a música alta misturada com a fumaça piorava meus sentidos.

Solto um ar de alívio quando senti o ar entrando em meus pulmões, a medida que eu caminhava para a varanda que estava surpreendemente vazia. Apenas um casal se beijava aos fundos e pelo local ser pouco iluminado, dava uma certa privacidade para seu momento. Encontrei o batente de madeira e apoio ali os braços, podendo finalmente respirar e sentir um cheiro menos sufocante. Abraço meus próprios braços, sentindo um vento gélido invadir meu corpo e fazer minha espinha se arrepiar.

Pego meu celular a fim de espairecer e noto algumas mensagens no aplicativo, seguida de 23 ligações do meu namorado, Justin. Visualizo suas curtas palavras no chat de mensagens e solto um suspiro, um tanto irritada.

Namoro ou melhor, namorava Justin Hawks há nove meses, ele é jogador do time de hóquei, no entanto, passa mais tempo no banco de reserva do que de fato jogando. Ele é um cara muito legal, embora sua personalidade arrogante seja um tanto chata, é por quem eu estou apaixonada, ou melhor dizendo, estava até eu descobrir sua traição. Não apenas com uma garota, mas algumas de suas conquistas pelo campus.

Ser corna é uma merda.

Quando descobri a traição, pedi para terminamos e desde então, há cerca de duas semanas ele vem mandando dezenas de mensagens e ligações, pedindo para voltarmos. Embora eu tenha ficado um tanto chateada com a sua atitude de me trair, estou conseguindo superá-lo aos poucos, me distrair e focar nas aulas tem sido minhas prioridades.

— Idiota... — murmuro comigo mesma ao ler as mensagens.

Bloqueio o segundo número dele no aplicativo e verifico se nas outras redes sociais ele não está enchendo o saco.

— Idiota? Quem é o idiota?

Escuto uma voz um tanto rouca murmurar atrás de mim, não tão longe. Seguido de um cheiro inconfundível de alguma droga e aquela fumaça espairar no ar. Minha coluna vertebral se arrepia no mesmo instante e tenho que segurar o aparelho em minhas mãos com mais força para não cair nas plantas do outro lado. Viro o corpo para ver o dono da voz e visualizo uma figura mais ao fundo, sentada em uma das cadeiras da varanda e com uma postura totalmente tranquila, como se ali de fato fosse sua casa.

Arqueio as sobrancelhas, molhando a garganta antes de responder.

— Ah, não é você, moço. É um cara que está enchendo o saco... — ergo o celular em minhas mãos, forçando um sorriso, um tanto envergonhada.

Então a figura se levanta, se aproximando aos poucos e com a luz da lua, consigo visualizar seu rosto com exatidão. Forço meu cérebro a lembrar e então enxergo Rafe Cameron em minha frente, com seu cigarro enrolado nos dedos e embora esteja escuro, consigo visualizar um sorriso irônico dançar em seus lábios. Sua altura é impressionante agora que o vejo de perto, beirando o dobro da minha estatura, noto o quão largos são seus ombros e toda sua postura.

Dou dois passos para trás, sentindo a cerca de madeira gélida pressionar minha cintura atrás.

— Ei, o que foi, coelhinha? Não precisa ter medo de mim, eu não mordo. — ele então dá dois passos para frente e logo sinto um cheiro cítrico invadir minhas narinas, seguido de um arrepio intenso na nuca, como se alguma coisa estivesse gritando alerta para mim. — Só se você me pedir, então sim.

Minha intuição grita diversas vezes como se eu tivesse que correr dali o mais rápido possível.

Então seus olhos me atraem de uma maneira sobrenatural, toda sua postura imponente e o jeito que solta a fumaça me deixam vidrada por instantes. É como se meu cérebro quisesse me puxar daquele lugar e meu corpo quisesse me deixar onde estou.

É um claro sinal de alerta.

Mas é outro sinal de curiosidade. Curiosidade pelo novo, pelo o que eu não conheço.

Curiosidade de conhecer o mistério.

...

OBSESSED | RAFE CAMERONOnde histórias criam vida. Descubra agora