Fazia calor em Istambul naquela semana. Apesar disso, a loira usava um moletom fechado e largo, que cobria toda a sua pele. Isso era reflexo do desconforto que vinha sentindo com seu próprio corpo. Não sabia dizer ao certo quando havia começado, mas sabia que agora olhar no espelho estava se tornando uma tarefa difícil de se fazer.
A mulher era escritora de romances. Passava grande parte do dia sentado em frente a um computador criando histórias, não tinha muito tempo para exercícios físicos e para uma alimentação totalmente adequada. Sentia que tinha se descuidado.
Sua insegurança com o próprio corpo só ficava maior quando pensava na namorada, Tijana Boskovic. Atleta de alto rendimento, corpo atlético, definido, malhado... E rodeada de mulheres do mesmo jeito, com o mesmo porte físico que ela. Aquilo estava mexendo com sua autoestima e sua segurança, se perguntava se era o suficiente para a namorada.
Em uma sexta-feira, Tijana chamou a namorada para ir jantar fora juntamente com algumas colegas da equipe. No fundo, a loira não queria ir, mas percebeu que a oposta estava animada para a ideia, e não quis estragar a noite da mulher. Mesmo a contragosto, foi em direção ao closet para escolher uma roupa. Quanto mais se prolongava sua busca, mais frustrada se sentia. Não havia uma roupa sequer ali que a fizesse sentir confortável, tinha a impressão que todas valorizavam todas as imperfeições que gritavam no seu corpo. Com muito custo, conseguiu escolher um conjunto de calça e blusa de linho que eram um número a mais do que vestia, a roupa a deixava parecendo um balão, ela pensou, mais ao menos não marcava seus quilos a mais.
Tijana, que conhecia a namorada, sabia que algo estava errado. Percebia a frustração como presença frequente nas expressões da mulher, a impaciência e a falta de ânimo. Mas não conseguia identificar o que exatamente estava acontecendo, o que a deixava preocupada.
As duas seguiram em direção ao restaurante e se sentaram na mesa reservada, se juntando à companhia de outras jogadoras. Todas as meninas conversavam animadamente, sempre atentas para incluir a escritora na conversa. A mulher fazia o possível para sorrir e conversar normalmente, afinal, se dava bem com todas. Mas sua mente traiçoeira fazia questão de comparar o porte físico delas com o próprio, fazendo crescer o incômodo que sentia.
― Amor, o que você vai querer comer? ― Boskovic perguntou na hora de fazer o pedido.
― Uma salada. E quero uma água também. ― respondeu sem fazer contato visual com a namorada.
Ela precisava desesperadamente perder peso, pensou. Mas para isso precisava mudar sua rotina, e começaria fechando a boca.
― Eu não vi você comendo nada hoje... ― Tijana disse cautelosamente. ― Salada vai ser o suficiente? ― perguntou.
― Vai sim, meu amor. Não se preocupe. ― a loira tentou enviar um sorriso tranquilizador.
Tijana assentiu, preferindo deixar por isso mesmo, ainda que lhe causasse certa estranheza.
Não demorou muito para os pedidos chegarem e todos fazerem a refeição, e embora a salada nem de longe satisfizesse o estômago vazio da escritora, ela decidiu que não iria mais ingerir nenhuma caloria naquele dia. A conversa continuava a fluir, mas Tijana estava mais atenta à namorada, a olhava constantemente como se quisesse entender o que estava passando, como se quisesse decifrar um enigma.
O tempo passou e todas decidiram que era hora de ir embora. O caminho para casa foi silencioso, com ambas imersas em pensamentos, cada uma mergulhada em suas próprias divagações, mas confortáveis uma com a outra. Ao entrar no apartamento que dividiram, Tijana interceptou a namorada no caminho que ela fazia, agarrando-a em um abraço demorado.
― Sabe, estou com saudade. ― sussurrou em seu ouvido.
― Mas amor, estamos sempre juntas. ― a escritora soltou um riso fraco.