01 - A filha de Noah Urrea

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Mais uma segunda feira está começando, uma nova semana e as mesmas coisas de sempre. Me levanto da cama, vou ao banheiro e me olho no espelho, essa é a imagem de uma Urrea, cabelos loiros longos, maças do rosto rosadas e olhos castanhos mel, não dei a sorte de herdar os olhos verdes dos meus pais, me disseram que pula uma geração e até que faz sentido, afinal, minha irmãzinha tem os olhos tão verdes que é como olhar para uma árvore na primavera. As vezes eu fico me perguntando se Liz teria os olhos castanhos como os meus se nosso irmão tivesse nascido, é triste pensar nisso, mas não consigo evitar, eu me lembro como se fosse ontem, quando eu tinha 6 anos, minha mãe estava grávida mas na volta de uma consulta, o carro que ela estava foi jogado para fora da estrada, então ela perdeu o bebê. Naquela época me disseram que foi um acidente, um motorista bêbado que não sabia o que estava fazendo, mas agora essas historinhas não funcionam mais comigo, eu sei que aquilo não foi apenas um acidente, um dos inimigos do meu pai atentou contra a vida da minha mãe. Sim, eu sou Maya Deinert Urrea, tenho 17 anos e sou a filha do maior mafioso de Los Angeles.

No inicio foi meio estranho, me acostumar e entender tudo sobre o nosso mundo, mas quando fiz 14 anos e meu pai começou a me treinar, as coisas ficaram mais fáceis, normais até, era como se assistir a interrogatórios, treinar o manuseio de armas e ver o tio Josh arrancar 6 dos dedos de um traidor fosse algo cotidiano, só mais um dia normal na família Urrea. Acho que a essa altura do campeonato eu até gosto da sensação, da adrenalina e da emoção da vida na máfia, sei que foi treinada para isso, mas sinto que algo dentro de mim já ansiava por essa vida, minha mãe diz que desde pequena eu dava sinais de que seria como o meu pai, quando eu tinha apenas 1 ano de idade, eu já gostava de assistir luta livre e filmes de ação, talvez isso diga muita coisa.

Depois de me arrumar, desci as escadas a segui para a cozinha, encontrando parte da minha filha já sentada a mesa.

- Qual é a gororoba de hoje? - Perguntei me sentando a esquerda do meu pai.

- Que atrevimento é esse menina, gororoba? Olha como fala da minha comida! - Reclamou Nayane.

Ela era nossa cozinheira, uma senhora gorduchinha e muito amável, que fazia as coisas mais deliciosas desse planeta.

- Sabe que eu estou brincando com você, não é Nana? - Mandei um beijo para ela, que semicerrou os olhos mas depois acabou sorrindo.

- Você é igualzinha a seu pai. - Falou balançando a cabeça e indo pra cozinha.

- É o que sempre me dizem. - Respondi sorrindo para o meu pai, que me olhava orgulhoso.

- Dormiu bem, Coisa? - Perguntou meu pai, enquanto tomava sua xícara de café.

Ele ainda me chama de Coisa, mesmo que agora eu já tenha idade o suficiente pra saber que não significa "princesa" como ele havia me falado, mas eu até que gosto, é uma coisa só nossa.

- Como um bebê. - Respondi pegando as torradas que estava no centro da mesa. - Por falar em bebê, tem gente faltando nessa mesa.

- Sua irmã se cagou inteira e sua mãe subiu para limpá-la. - Respondeu com naturalidade.

- Ah, obrigada por essa imagem mental logo antes de eu passar a Nutella na torrada. - Fiz careta e ele riu.

- Até parece que você é fresca desse jeito, já te vi devorar um hambúrguer assistindo a uma tortura, tranquilamente.

Isso é verdade, meu pai mandou construir uma nova sala de tortura em nosso casarão, para ajudar no mri treinamento, agora tinha um vidro falso onde eu ficava assistindo e aprendendo as táticas que ele e sua equipe aplicavam nesse tipo de situação. Uma vez, tio Lamar estava acabando com um informante mexicano e eu estava com tanta fome que pedi um hambúrguer para comer enquanto assistia.

- Foi diferente, o sangue e os ossos daquele cara não se pareciam em nada com o molho do meu hambúrguer.

Assim que respondi, minha mãe entra no cômodo carregando Liz no colo.

- Aya, aya! - Exclamou feliz a bebê de 1 anos e 9 meses.

- Oi Lili, quem é a minha princesinha favorita? - Me levantei e a peguei no colo. - É você! - Enchi seu rosto bochechudo de beijinhos enquanto ela ria sem parar.

Depois da morte prematura do bebê que minha mãe carregava no ventre, ela ficou um bom tempo com medo de engravidar novamente, foi um período difícil, ela já estava de 5 meses e todos estavam animados com a chegada de um menininho, então perdê-lo foi um grande trauma para a família. Muitos anos depois, a noticia de que mamãe estava grávida novamente veio e graças aos céus, todos estavam recuperados do baque anterior e a chegada de Liz foi só alegria.

- Sua princesinha estava comendo como um pedreiro, isso sim. - Disse minha mãe. - O que eu tive que limpar lá em cima dava pra adubar todo o nosso jardim.

Rindo me sentei logo depois de colocar Liz em sua cadeirinha.

- Essa é a minha garotinha. - Disse meu pai sorrindo e piscando para minha irmã, que sorriu batendo os bracinhos na cadeira.

- Então meu amor, pronta para o primeiro dia? - Perguntou minha mãe me olhando.

- Vai ser a mesma coisa de sempre mãe, os professores com medo, o diretor tentando me bajular e os garotos fugindo para o mais longe que conseguirem de mim. - Respondi dando de ombros. - Apenas mais um semestre, como qualquer outro.

- Uma Urrea tem que ser respeitada e... - Começou meu pai.

- E temida. - Completei a frase que eu escutei a vida inteira. - Eu sei, pai.

- Muito bem, Coisa. - Ele falou se levantando, veio até mim e beijou minha testa. - Você é meu orgulho.

Essa era a forma do meu pai dizer "eu te amo", era raro ouvirmos essa frase, ele a reservava para ocasiões especiais como aniversários, ano novo, alguma missão que poderia causar a morte, noites de Natal e provavelmente algum momento de intimidade entre quatro paredes com a minha mãe, fora isso, era "você é meu orgulho", antes eu amava ouvir essa frase, mas agora eu sinto que ela vem com o peso da expectativa do meu pai em relação a mim. Eu sou a única herdeira do clã da minha família, eu vou assumir o lugar de meu pai quando estiver pronta, mas ser uma Capo mulher, vem com algumas regras idiotas que não são aplicadas aos homens, como por exemplo, o fato de que eu só posso assumir os negócios depois de me casar. Que droga de regra estúpida é essa? Estamos vivendo na monarquia, por acaso? Meu avô e meu pai me explicaram, que essa regra foi criada basicamente para dar poder ao homem que se casar conosco, antigamente as garotas primogênitas não tinha a opção de abdicar como a tia Sabina fez, elas eram obrigadas a assumir a liderança quando chegasse a hora, mas para garantir que os negócios não fossem arruinados, os pais escolhiam um pretendente digno para comandar ao lado delas, traduzindo, escolhiam um homem para assumir o comando enquanto as garotas faziam compras. O homem que se casasse com a herdeira, passava a ter o sobrenome dela e não o contrário, assim ele teria o poder de tomar decisões em nosso meio, mas eu não quero isso, não quero ser a sombra de um idiota qualquer, eu vou governar isso aqui, eu sou a herdeira e eu serei a nova capo do clã Urrea, sem precisar da porra de um marido bibelô, só tenho que descobrir como fazer isso acontecer.

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Bem vindos a segunda temporada!!

Me contem o que acharam da nossa Coisinha versão adolescente, gostaram do primeiro capitulo? Vejo vocês no próximo!!

xoxo,Riv

𝐇𝐞𝐢𝐫𝐞𝐬𝐬 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭 - 𝐍𝐨𝐚𝐫𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora