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   As visitas de Adrian começaram a se tornar mais frequentes, algo que surpreendeu Noah. Adrian sempre usava a desculpa de que o avô o havia mandado, como se o alfa precisasse justificar sua presença. A relação deles estava tão desgastada que qualquer interação parecia uma batalha verbal.

Adrian chegou mais uma vez sem aviso. Noah estava, como de costume, com um vestido curto quando o alfa entrou sem cerimônia na casa.

"Ah, vejo que ainda mantém seu estilo... peculiar," comentou Adrian, com seu habitual tom sarcástico. Seus olhos percorreram o corpo de Noah com uma mistura de desdém e algo que Noah não conseguia identificar.

Noah não se deu ao trabalho de olhá-lo diretamente. "E você ainda acha que sua opinião me importa," respondeu com calma, sua voz carregada de ironia. Ele havia se acostumado a essas visitas curtas, sempre carregadas de comentários ácidos.

Adrian se jogou no sofá, suspirando como se estivesse exausto de algo que não era fisicamente desgastante. "O velho insiste que eu venha. Parece que ele gosta de você mais do que deveria."

Noah parou por um momento, seu olhar fixo em Adrian, mas sem qualquer expressão que revelasse o que ele sentia. "Ele vê em mim o que você se recusa a enxergar."

Adrian soltou uma risada curta, sem humor. "Ele tem uma visão romântica das coisas. Mas não se iluda, Noah, nada disso muda o que somos: uma obrigação."

"É, você me lembra disso toda vez que aparece," Noah murmurou, voltando sua atenção para o livro que estava em suas mãos antes da chegada de Adrian. "Mas pelo menos seu avô é uma companhia agradável quando o vejo."

Adrian não respondeu de imediato. Parecia que, a cada visita, algo no ar mudava, mas nenhum dos dois queria ser o primeiro a reconhecer isso. Adrian, como sempre, manteve a postura fria e arrogante, embora suas palavras estivessem menos afiadas. As visitas eram cada vez mais longas, embora ele mantivesse a desculpa de que eram apenas uma obrigação. Mas Noah percebia que o alfa começava a aparecer com mais frequência, ainda que tentasse mascarar o motivo.

Durante um jantar forçado entre os dois, a tensão era palpável. Noah, vestido de maneira mais casual, mantinha sua habitual distância emocional. Ele sabia que, a qualquer momento, Adrian iria começar com as provocações, como sempre fazia.

"Você não parece muito animado em me ver, Noah," provocou Adrian, enquanto cortava a carne em seu prato. "Achei que você ficaria agradecido pela visita."

"Você acha muita coisa, Adrian," respondeu Noah, sem olhar para ele. "Principalmente que sua presença aqui tem alguma importância para mim."

Adrian ergueu uma sobrancelha, como se estivesse ligeiramente surpreso com o tom de Noah. As trocas entre eles eram sempre frias, mas ultimamente Noah parecia mais afiado, mais disposto a responder às provocações do alfa. "Você está ficando atrevido. Acho que passar tanto tempo sozinho te deu uma nova coragem."

Noah finalmente ergueu o olhar, encarando Adrian com uma expressão neutra, mas suas palavras eram afiadas. "Ou talvez eu só tenha percebido que não preciso fingir mais. Eu não vivo para te agradar."

Adrian riu, um som seco que ecoou pela sala. "Claro. O ômega que não precisa de ninguém." Ele balançou a cabeça com sarcasmo. "É bom saber que você ainda tem essa ilusão de independência."

"Não é ilusão," retrucou Noah, firme. "Eu aprendi a viver sozinho, Adrian. Enquanto você se envolve em suas relações e obrigações, eu estou aqui, vivendo a minha vida, sem precisar de você."

O silêncio que se seguiu foi pesado, quase sufocante. Adrian não soube o que responder de imediato. As palavras de Noah o atingiram de forma inesperada, como se, pela primeira vez, ele estivesse vendo algo que sempre esteve ali, mas que ele se recusava a reconhecer.

Noah, por sua vez, manteve sua expressão fria. Ele havia aprendido a não demonstrar nada, a esconder qualquer resquício do que sentia por Adrian. Havia um tempo em que ele teria dado tudo por um gesto de afeto do alfa, mas esse tempo já havia passado. Agora, o que restava entre eles eram apenas farpas e cinismo.

Mesmo assim, no fundo, bem enterrado dentro de si, Noah ainda sentia algo. Algo que ele se recusava a admitir, algo que não deixaria vir à tona tão cedo.

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