𝟔- 𝐯𝐢𝐭𝐨𝐫𝐢𝐚 ᵖᵗ²

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— Pior que acredita? Tenho uma melhor amiga que é simplesmente obcecada pela Emilia Mernes, a namorada do tal Duki. Ela vive postando covers nas redes sociais e, por causa dessa obsessão, eu acabei escutando muito deles também. Chegou a um ponto que fui praticamente forçado a gravar um cover de 'Como Si No Importara'. — João comentou com uma risada leve, esperando que Pedro talvez risse ou fizesse algum comentário.

Pedro, no entanto, ficou visivelmente surpreso com o que João acabara de dizer. Não esperava que ele conhecesse esses cantores, ainda mais a ponto de cantar uma de suas músicas. Ele olhou para João, ainda meio desconcertado.

— Não achei que você conhecesse Duki e Emilia, de verdade. — Pedro disse, rindo um pouco da surpresa. — E então... você canta mesmo, né? Quando é que eu vou ter a chance de te ouvir cantando ao vivo?

João fingiu pensar seriamente sobre a pergunta, levando a mão ao queixo de forma teatral.

— Hmmm... quem sabe no dia 30 de fevereiro? Tá livre? — ele respondeu, com um sorriso travesso nos lábios, claramente brincando.

Pedro fez um biquinho de tristeza, fingindo decepção de uma forma exagerada, o que fez João soltar uma risada alta, achando a reação adorável.

— Nem vem com essa carinha de cachorro sem dono! — João disse, rindo ainda mais. — Eu não canto na frente dos outros. É uma regra que eu levo muito a sério! Mas... posso ouvir música com você, se isso serve de consolo.

Pedro, ainda fingindo estar um pouco magoado, entregou um dos lados do fone de ouvido para João e, em seguida, se aproximou, apoiando a cabeça no ombro do cacheado de forma natural. João aceitou o fone esquerdo, ajustando-o em seu ouvido, enquanto passava o braço pelos ombros de Pedro, puxando-o gentilmente para mais perto. Sem pressa, ele começou a deslizar os dedos pelos fios sedosos do cabelo de Pedro, fazendo um carinho sutil e aconchegante. Pedro suspirou suavemente, aproveitando o contato.

Os dois ficaram assim, em silêncio, por quase 20 minutos, enquanto o ônibus seguia seu caminho até o estádio. O ambiente era de paz, como se o mundo exterior estivesse distante e os dois pudessem simplesmente aproveitar a companhia um do outro. João mantinha o braço ao redor de Pedro, e Pedro, em resposta, tinha a mão pousada de maneira suave na cintura de João, segurando-o com um leve aperto, como se quisesse prolongar aquele momento íntimo. Quando o ônibus finalmente chegou ao destino, ambos desceram com os demais jogadores e seguiram para a zona mista, o local onde os atletas costumavam passar ao chegar ou sair do estádio, sendo abordados por repórteres e torcedores.

Pedro, já acostumado com a agitação da mídia e dos fãs, tentava sempre passar despercebido, mas, como de costume, não teve tanto sucesso. Antes que pudesse escapar, um repórter da SporTV o interceptou, fazendo-lhe algumas perguntas. Ele respirou fundo e sorriu educadamente.

— Então, no treino de ontem eu acabei torcendo o tornozelo. Estávamos treinando escanteios e, numa disputa pela bola com o André, acabei caindo de mal jeito. Não foi nada sério, felizmente, mas optamos por eu não jogar hoje para garantir que eu esteja cem por cento recuperado. — explicou Pedro com um tom profissional e calmo. — E sobre a ação social, sim! Na semana passada, tivemos um grupo que ficou três dias no centro de treinamento conosco, e hoje temos mais um grupo que nos acompanha desde ontem. Eles vão assistir ao jogo de pertinho, direto do campo. Eu acho isso essencial, sabe? Dar espaço e visibilidade para essas pessoas que enfrentam tanto preconceito no dia a dia é algo muito importante pra mim e para o time. — Pedro completou, com sinceridade.

Depois de mais algumas perguntas rápidas sobre o time, a adaptação ao novo técnico e o jogo em si, Pedro conseguiu escapar da multidão de repórteres e se juntou a João, que o esperava pacientemente ao lado.

— Oi Mands! — João falou animado, segurando o celular próximo ao ouvido, conversando com a amiga. — Eu tô aqui, na área onde eles fazem fila pra entrar no campo. — ele pausou, escutando a resposta do outro lado da linha. — Vocês estão no camarote? O mesmo do jogo contra o Cruzeiro? — João exclamou, a surpresa e a animação crescendo em sua voz. — Que legal! Todo mundo tá aí? Até a Giovana? Nossa, que milagre! — ele riu. — Beleza, Mands, eu vou ver se consigo ir aí antes do jogo começar. Beijos! — João desligou o celular, guardando-o no bolso, e se virou para Pedro, sorrindo.

— Anjo, sei que pode parecer pedir muito, mas... será que dá tempo de eu ir ver meus amigos no camarote antes do jogo? — João pediu com um olhar esperançoso.

Pedro riu da ansiedade de João, achando fofo o quanto ele parecia animado com a ideia.

— Claro, gatinho, eu vou com você. — Pedro respondeu com um sorriso. — Aproveito e pego uma coisa que esqueci no banco de reservas no último jogo.

Os dois seguiram de mãos dadas em direção às escadas que levavam ao campo, onde a torcida já começava a encher o estádio, com os cânticos ecoando cada vez mais alto. João olhou ao redor, absorvendo cada detalhe. Estar ali era algo especial para ele, um sonho realizado de certa forma. Aquele campo representava tantas coisas: os ídolos que ele admirava, os momentos de glória do time que ele amava, os shows inesquecíveis que ele havia assistido e os grandes eventos que marcaram a história do lugar. A emoção foi tanta que ele não conseguiu conter as lágrimas que começaram a se acumular em seus olhos.

Pedro, distraído inicialmente pela festa da torcida, logo notou a expressão emocionada de João. Ao ver as lágrimas nos olhos do amigo, ele se aproximou, com um sorriso suave nos lábios.

— Tá chorando, anjinho? — Pedro perguntou de forma carinhosa, sua voz suave e acolhedora. João, incapaz de segurar mais, deixou as lágrimas caírem e assentiu, fazendo um biquinho involuntário. Pedro, sem hesitar, abriu os braços e João rapidamente se aninhou em seu abraço.

— Pode chorar, meu anjo, eu sei como é essa sensação... — Pedro sussurrou, abraçando João com força, mas de forma gentil, fazendo um carinho reconfortante em suas costas. João, por sua vez, apertava a cintura de Pedro, como se aquele abraço fosse a única coisa que o mantivesse ancorado naquele momento.

— É surreal estar aqui desse lado, gatinho... — João murmurou, afastando-se um pouco do abraço, ainda com os olhos úmidos, mas com um sorriso tímido no rosto.

— Ah, agora você roubou meu apelido? — Pedro disse, fingindo estar ofendido, mas logo riu da situação.

— Você roubou o meu primeiro! — João retrucou, rindo também.

— Mas eu te chamo de anjo porque você parece um de verdade! Olha só pra você! Esse cabelo, essa carinha de santo... você é um anjo, João! — Pedro exclamou, sem saber o quanto suas palavras afetavam o amigo, que certamente não era tão "santo" quanto Pedro imaginava.

— E tem mais! Eu prefiro ser chamado de príncipe. — João completou, com um sorriso malicioso.

— Ah é? — Pedro fingiu indignação. — Tá bom, príncipe, me leva pro camarote dos seus amigos? Fica embaixo da Independente.

— Levo sim! Vamos! — João respondeu animado, pegando a mão de Pedro novamente, enquanto os dois seguiam juntos em direção ao camarote.

Entre Linhas| Au PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora