go home.

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Meu celular vibra em cima do colchão e aparece "Victor" na tela.

Sério? Agora?

Toca uma vez, duas e na terceira eu atendo. Percebo quão horrível minha voz está assim que atendo.

--Sim?--
--Me libera aqui na portaria.-- ele diz. Espera, como?
--O que?--
--Você está chorando, precisa de uma companhia por isso estou indo aí.--
--Victor.. são três da manhã e eu não estou chorando.-- tento disfarçar ao máximo.
--Sim você está, eu sei que está. Agora libera minha entrada aqui porque está frio.-- ele diz num ar divertido e desliga o celular.

Não, não, não.
Não posso o trazer aqui, meu namorado pegou vôo algumas horas atrás e eu já trago alguém aqui pra casa? Como se eu não sentisse a ida ou a falta..? Mas eu sinto. E muito. E ele só está aqui pra ajudar, quando Taylor disse aquilo ele provavelmente não sabia que eu teria que aguentar tudo sozinha, além dele ter ido, meu tio estar em coma, minha melhor amiga se envolveu com drogas e está provavelmente deixando o país. Acho que o Taylor não gostaria que eu ficasse sozinha assim, eu realmente preciso de alguém aqui. Nunca fiquei sozinha definitivamente nessa casa, e nem em um país.
Tenho que parar de pensar e liberar a entrada dele na portaria, vou na cozinha e interfono á portaria, em seguida ligo as luzes da sala e espero perto da porta ainda fechada.
Escuto três batidas na porta, era o Victor.
"Respira fundo e engole o choro" -pensei-

--Voltei.-- ele entra com as mãos no bolso, ele estava de calças de moletom cor chumbo, tênis e uma sweatshirt preta.

Estamos parecidos, também estou com uma calça de moletom cor chumbo e uma regata preta. Ele pergunta como foi dormir, se eu consegui o fazer e essas coisas. Dormir foi bem ruim, toda hora eu acordava de novo.
Vamos ao sofá assistir televisão e estava passando um documentário sobre o Rae Sremmurd, meus rappers favoritos... e do Taylor também.
Acho que Victor percebe e logo desliga a televisão depois de passar mais alguns canais. Minhas lágrimas descem e eu não consigo pará-las, a música "big girls don't cry" aparece de novo na minha cabeça mas não funciona. Eu não tenho controle sobre isso. Não é drama, eu juro que não é. Tento sempre pensar naquela música quando estou com problemas, parece que não mas isso me ajuda tanto.. sempre ajudou. Começo a cantarolar em minha cabeça

[...You're probably on your flight back to your hometown, I need some shelter
of my own protection baby
To be with myself in center, clarity,
peace, serenity..
and I'm gonna miss you like a child misses
their blanket but I've gotta get a move on
with my life
it's time to be a big girl now and big girls don't cry ]

Apenas não consigo lidar com a sensação de que todos estão me deixando igual ao meu pai fez comigo quando eu era uma criança. Ou pior. Não era mais ele, era o Taylor, a Isabella, uma pessoa que eu nunca imaginei me deixar. E meu tio. Isso parece clichê, achar que o mundo está virando as costas pra ti. Mas quando duas pessoas que você ama imensamente te deixam isso parece tão real.

--Vamos dormir então.-- ele segura na minha mão e levanta-se.
--Você não vai dormir comigo.-- as palavras só saem. É como se eu tivesse tentado pega-las e coloca-las de novo dentro da minha boca, mas claro que não da pra fazer isso.
--Eu sei. Vou te esperar dormir, quando o fizer eu vou embora. Se continuar a chorar o resto da madrugada você vai estar horrível amanhã.-- ele sorri.

Concordo com a cabeça e vamos para o meu quarto, não é a melhor opção que estou a fazer mas foda-se não estou em condições de escolher quem pode me ajudar ou não.

--Seu quarto está diferente.--
--Quando vieste aqui?--
--Ah.. um dia.. com a Isabella. Nós viemos ver umas coisas, sabe? Só coisas..--
--Por acaso vocês usaram o meu quarto pra ..?--
--Não. Não, claro que não.-- ele defende-se. De qualquer forma, não importa.

A porta fica meio aberta com a luz do corredor a iluminar o quarto. Sento-me na cama e ele faz o mesmo do meu lado. Seco meu rosto esperando ser a última vez que eu o faça.

--Vem..-- ele puxa minha cabeça até me deitar em seu peito.
--Você não tinha uma festa pra estar agora?-- o questiono, lembro-me dele ter comentado comigo quando eu estava comendo em algum lugar com o Taylor.
--Você acha que vou te deixar assim pra ir em uma festa?-- ele olha em meus olhos e levanta uma sobrancelha.
--Mas porque?--digo olhando em seus olhos. Se ele ao menos me desse uma explicação do porque.. Porque isso não é sua obrigação. Ele poderia estar se divertindo mas não, ele está aqui me ouvindo chorar...
--Porque vale a pena.-- ele diz e volta a olhar pro teto.

Depois disso ficamos em um silêncio perturbador por uns vinte minutos, acho que ele dormiu...

--Victor?-- susurro.
--Sim?-- ele responde no mesmo tom.
--E se o Taylor conhecer outra pessoa? E começar a gostar dela? Como eu fico?--quase choramingo mas ainda consigo manter minha voz.
--Você não vai morrer.-- ele foi bem mais curto do que eu esperava na resposta.
--Como sabe?-- tento olhar em seus olhos mas ele ainda acaricia meu cabelo e fecha os olhos. Óbvio eu não morreria, mas seria como, dentro de mim, eu realmente morresse
--Eu ainda não morri. E como você fica? Bom, tem a opção de ficar comigo. Eu cuido de você.-- ele fala isso num tom divertido.
--Como assim ainda não morreu?--
--É que... ah esquece. Melhor você dormir Gabi, tenta fechar os olhos.-- ele acaricia meu cabelo.

Tento fazer o que ele falou e fecho meus olhos, meus olhos pesam e não demoram muito pra me fazerem dormir.

[...]

O despertador toca. Sete e meia da manhã. Assim que abro os olhos um braço aparentemente malhado me abraça em volta da cintura. No começo eu me assusto, em seguida penso que é o Taylor. Mas claro que não. Quando viro meu rosto consigo ver o cabelo bagunçado e as bochechas super rosadas de Victor Levinne. Espera, nem era pra ele estar aqui... que maravilha.

Antes de levantar passo as mãos no rosto e sinto a aliança gelada raspando na minha pele. Olho-a vagarosamente lembrando de tudo que eu e o Taylor fizemos e tenho um certo medo de que tenha sido a última vez. Tento levantar-me sem acordar o Victor.

Ele devia ter ido embora. Ele prometeu-me que iria.

Vou ao banheiro fazer minhas higienes. Passei mais maquiagem em volta dos olhos, eles ainda estavam um pouco inchados. Terminando sigo até o guarda-roupa e separo as roupas que vou á faculdade. Penso em me trocar e logo vejo que é uma péssima idéia porque o Victor pode acordar a qualquer momento e eu não quero nenhum momento constrangedor agora.

Vou até a cozinha e coloco várias coisas em cima da mesa. Não sei o que ele gosta de comer. Me sento no balcão e ouço alguém descendo as escadas.

--Bom dia.-- Victor me diz.
--Você disse que iria embora.-- fui bem firme.

Finally together ...Onde histórias criam vida. Descubra agora