𝘖 𝘱𝘦𝘴𝘰 𝘥𝘢𝘴 𝙎𝙤𝙢𝙗𝙧𝙖𝙨 [ᴛᴏsʜɪᴇʟ ᴏᴜ ᴛᴏᴠɪᴇʟ]

capítulo 2

As luzes da cidade brilhavam ao longe, mas para Toshi, o mundo parecia uma neblina. O calor dos corpos que se misturavam na festa não chegava até ele. Não mais. Desde que aceitara as palavras de Ravi na praia, sentia como se tivesse cruzado uma linha invisível, entrando num mundo de sombras que não compreendia completamente. Ele sabia que não havia mais volta.

Ravi, ao seu lado, mantinha sua expressão serena, os olhos laranja iluminados pelas luzes pulsantes ao redor. Havia algo de insuportavelmente sedutor nele. Não importava quantas vezes Toshi tentasse se convencer de que aquilo era perigoso, seus pensamentos sempre voltavam ao mesmo lugar: Ravi.

- Você está quieto demais. - Ravi falou de repente, a voz baixa, enquanto seus olhos percorriam o salão cheio de pessoas, mas que para eles, parecia vazio.

- Só estou tentando entender o que somos agora. - Toshi respondeu, o rubor de suas íris brilhando enquanto ele olhava fixamente para o fundo do copo que segurava. - Desde aquela noite, as coisas mudaram. E eu não sei se foi para melhor.

Ravi o encarou com uma expressão enigmática. A música ao redor deles parecia amortecida, como se apenas os dois estivessem presos em uma bolha, isolados de tudo e todos. Era sempre assim quando estavam juntos.

- Mudaram, sim. - Ravi murmurou. - Mas a questão é: você acha que isso é algo ruim?

Toshi sentiu um nó se formar em seu peito. Era como se as palavras de Ravi o puxassem para algo mais profundo, algo que ele não tinha controle. Sentia-se enredado naquela teia sombria, onde a linha entre o certo e o errado já não existia.

- Não sei mais, Ravi. - Ele admitiu, finalmente virando o olhar para o outro. - Você me consome de uma maneira que eu não sei explicar.

Ravi sorriu de canto, aquele sorriso que sempre o fazia sentir-se dividido entre o desejo e o medo.

- Talvez o problema seja você querer explicar. Nem tudo precisa de um porquê, Toshi. Algumas coisas simplesmente... são. - Ele se aproximou, seus olhos laranja queimando como brasas sob as luzes piscantes da festa. - E nós, meu caro, somos inevitáveis.

Toshi sabia que, naquele momento, não havia volta. Eles eram dois polos opostos que se atraíam de forma destrutiva, e mesmo ciente disso, ele não conseguia se afastar.

- Vamos sair daqui. - Ravi murmurou, seus dedos frios tocando levemente o pulso de Toshi. O toque era suficiente para causar um choque de realidade. A música da festa, a multidão ao redor, tudo se desvanecia.

Sem questionar, Toshi o seguiu. Eles deixaram o ambiente abafado da festa, passando pelas ruas agitadas da cidade, onde as luzes dos postes lançavam sombras longas e distorcidas no asfalto. Ravi caminhava à frente, com uma determinação inquietante, e Toshi o seguia, sem questionar, como sempre fazia.

Chegaram a uma parte mais isolada da cidade, onde o som do mar voltava a preencher o ar. Era uma área afastada da praia, entre rochedos e vegetação densa. Toshi sentia seu coração acelerar enquanto observava a figura de Ravi parada diante do oceano escuro.

- Por que aqui? - Toshi perguntou, a voz um pouco hesitante. As ondas quebravam furiosas contra as pedras, como se refletissem a tempestade dentro dele.

- Porque é aqui que tudo se esclarece. - Ravi respondeu enigmaticamente, sem se virar.

Toshi parou a alguns passos de distância, observando a silhueta de Ravi recortada contra o céu noturno. O vento jogava suas mechas azuladas em todas as direções, e seus olhos laranja, mesmo na escuridão, pareciam iluminar o caminho.

- Você não entende, Toshi - Ravi começou, sua voz fria como o vento. - Tudo isso... nós... é parte de algo maior. Algo que vai além de mim ou de você.

- E o que isso significa? - Toshi perguntou, sentindo uma inquietação crescer dentro de si. Havia algo de diferente em Raviel naquela noite, algo que o assustava.

Ravi finalmente se virou, e o que Toshi viu nos olhos dele não era o mesmo desejo de sempre. Era algo mais profundo. Algo que o fez recuar um passo.

- Eu te avisei, Toshi. - Ravi deu um passo em sua direção. - Quando você aceitou as sombras, aceitou a mim. Mas isso não vem sem um preço.

Toshi sentiu o pavor crescer em seu peito.

- Que preço? - Sua voz era quase um sussurro.

- O preço de não ter mais controle sobre quem você é. - Ravi o encarava agora com uma intensidade que fazia o sangue de Toshi gelar. - Você me pertence. E, ao me pertencer, você pertence às sombras.

O vento parecia sussurrar entre os rochedos, e, por um breve instante, Toshi se perguntou se havia uma maneira de escapar. Mas, no fundo, sabia a resposta. Não havia volta.

Ravi se aproximou, seus olhos laranja queimando com um brilho perigoso.

- E, de agora em diante, você vai aprender o verdadeiro significado do que é viver na escuridão.