Era fim de tarde no Rio de Janeiro, quando as cores do pôr do sol pintavam o céu com tons alaranjados, refletindo no mar, que se agitava contra as pedras da praia do Arpoador. Toshi, com seus cabelos brancos e pretos e olhos vermelhos como rubis, observava o horizonte, absorto nos próprios pensamentos. O vento bagunçava suas mechas e trazia um aroma salgado do mar. Ele sempre sentia que o Rio, apesar de sua beleza vibrante, escondia sombras profundas, ecos de segredos que ninguém ousava desvendar.Ravi surgiu silenciosamente ao seu lado, como sempre fazia. Seus cabelos negros azulados brilhavam sob os últimos raios de sol, e seus olhos laranja contrastavam com a escuridão que sempre parecia acompanhá-lo. Havia algo de inquietante nele, uma presença que fazia o ar ao redor pesar, como se estivesse sempre à beira de um desastre iminente.
- Você não deveria estar aqui - Toshi murmurou, sem virar o rosto. Ele sempre sabia quando Ravi estava por perto, mesmo sem vê-lo. Era como se uma parte sombria de sua alma reconhecesse o outro.
- E você deveria? - Ravi respondeu, com um sorriso de canto de boca, a voz baixa e provocativa.
Toshi o encarou então, seus olhos vermelhos encontrando os laranja de Ravi. Era uma conexão perigosa, algo que os dois sabiam ser errado, mas que, ao mesmo tempo, não conseguiam evitar. Eles estavam ligados de maneiras que ninguém jamais compreenderia. Seus mundos colidiam como o mar e as rochas, numa luta constante entre luz e escuridão.
- Você me arrasta para essas sombras, Ravi. - A voz de Toshi tinha um tom amargo, quase desesperado. - Eu me perco toda vez que estou perto de você.
- Talvez você goste de estar perdido. - Ravi deu um passo à frente, encurtando a distância entre eles. Sua mão alcançou o rosto de Toshi, os dedos frios roçando a pele quente. - Talvez as sombras sejam o único lugar onde você realmente se sente vivo.
Toshi estremeceu sob o toque de Ravi, um arrepio correndo por sua espinha. Havia algo de intoxicante naquela proximidade. Um abismo entre eles que, ao mesmo tempo em que assustava, também atraía. Era como se, quanto mais tentasse resistir, mais profundamente fosse engolido por aquela escuridão.
- Você não entende... - Toshi murmurou, sua voz quase falhando. - Eu não posso continuar assim.
Ravi riu, um som baixo e rouco, enquanto seus dedos traçavam o contorno do maxilar de Toshi.
- Você já tentou escapar antes. E aonde isso te levou? - Ravi se inclinou para mais perto, suas palavras agora eram um sussurro, quente contra o ouvido de Toshi. - Você pertence a mim, Toshi. Às minhas sombras. Você pode tentar fugir, mas sempre vai voltar.
Toshi fechou os olhos, sentindo o peso daquela verdade. Eles eram como duas forças opostas que se repeliam e se atraíam ao mesmo tempo. Ravi era o caos que destruía tudo ao seu redor, mas, de alguma forma, Toshi se sentia mais inteiro ao seu lado, mesmo que isso significasse ser consumido pela escuridão.
- Talvez... talvez eu não queira mais fugir - Toshi sussurrou, como se finalmente aceitasse o que estava entre eles.
Ravi sorriu, e naquele sorriso havia uma sombra de triunfo, mas também algo mais profundo. Ele sabia que o laço entre eles era inquebrável. O Rio de Janeiro, com toda a sua luz e calor, não era páreo para a tempestade que os dois carregavam dentro de si.
Naquela noite, sob o céu estrelado do Rio, Toshi e Ravi se perderam um no outro, como sombras que se entrelaçam em meio à escuridão, sem jamais encontrar a luz novamente.