Mundo com outras cores

Sala branca

O restante do dia foi normal, 1306 não apareceu mais, logo imaginei que ela deve ter desistido de tentar me seguir ou puxar um assunto e 074 apenas trocou alguns olhares raivosos em minha direção, mas nada que não esteja acostumada.

Já é outro dia e acabo de sair da sala onde aconteceu a prova escrita que tanto me preparava, alguns saíram com olhares sombrios enquanto outros pareciam felizes, não vi 074 para descobrir que feição ele estava fazendo quando terminou a prova, mas não dúvido que tenha se saído bem.

— Pela sua cara não parece que foi ruim.

Olho para o lado vendo a 1306 com os ombros um pouco baixos.

— Não foi difícil.

— Para você deve ter sido bem fácil, sua cara de tacho entrega tudo!

De fato foi bem simples para mim. Terminei a prova muito antes do último minuto terminar, e as questões de quântica e as de armas foram tão fáceis que não demorei nem 20 segundos para terminar todas elas. Foi tão fácil que é difícil acreditar que exista alguém que não consegue chegar no mínimo para alcançar o top 10 do rank.

— Como você foi?

— Nada mau, porém a parte de julgar entre o certo e do que foi mandado na questão 137 não foi nada fácil.

Nessa questão especificava uma situação onde monstros mutantes estavam soltos em uma cidade destruída e dentro de uma sala subterrânea tinham 40 sobreviventes dessa mesma cidade, então para sobreviver eles se separaram em grupos, uns para cuidar dos mais velhos e outros para procurar comida fora do banker além de lutar contra os monstros. Obviamente tinha um líder. Algumas vezes pessoas que desobedeciam às ordens do líder eram expulsas de ficar dentro da sala subterrânea. Diante dessa situação precária o número tinha recebido a ordem de matar qualquer um que tentar ajudar a pessoa que foi expulsa, entretanto nas alternativas da questão tinha a escolha de proteger o exilado ou esconder ele.

Nessa questão apesar de simples, eles testa nessa lealdade ao mestre e é óbvio qual resposta séria a correta levando em conta nosso treinamento e função. Contudo, parece que a 1306 ainda não percebe a óbvia resposta, na verdade, ela sabe, mas ainda pensa sobre moral das pessoas. Somos números, e nosso única utilidade é servir e obedecer as ordens do mestre.

— É óbvio que a resposta é para seguir as ordens do mestre.— Afirmo enquanto ando pelo vasto corredor.

— Não era óbvia!— Nega irritada.— Como você pode dizer isso sabendo a situação daquelas pessoas?!

Paro no meio do corredor com um vasto tráfego de números passando e olho para a ruiva que está com o  semblante bravo.

— Essa é nossa única utilidade: obedecer.— Sou firme nas minhas palavras.

1306 mantém seu rosto incrédula com a minhas palavras que acabaram de ser ditas.

— Não entendo como consegue dizer isso com essa serenidade.— Ela volta a andar e eu a acompanho.

— É natural pensar que as ordens vem primeiro que os outros humanos.

— Você é humana e eu também sou.— Ela fala mais baixo por não estarmos sozinhas.

— Não, somos números.

— Você é MUITO teimosa! por quanto tempo viveu aqui para ser tão negligente?!

Entramos no refeitório e enquanto pegamos nossas comidas penso só sobre a pergunta que a ruiva disse, mesmo que eu nunca tenha me atentado para este detalhe ainda assim a pergunta continua se repetindo várias vezes em minha cabeça e naturalmente tento procurar uma resposta que nem ao menos sei se existe um motivo de estar aqui além de que tenho que obedecer ordens.