𝟎𝟑

1 0 0
                                    

O sofá da casa de Alex era bem mais confortável do que aparentava inicialmente.

O couro amarronzado e sintético acaba se tornando um contraste rústico ao papel de parede claro e desbotado. Existem armas de caça penduradas em fileira na parede em cima da lareira, e aros de motocicletas enfeitando a parte de cima da parede oposta a porta principal.

Não existem porta retratos pendurados ou centralizados nas mesinhas ao lado do sofá, sequer alguma informação de que ali realmente mora uma família. No lugar disso as paredes são decoradas com objetos escuros e velhos, quadros aleatórios com celebridades antigas como George Washington ou Abraham Lincoln.

Aparenta ser a casa de um homem sozinho de sessenta anos, com olhos cinzentos e rosto barbudo, que possui um caminhão enferrujado e uma espingarda carregada para todo lado que vai.

Os livros são os seus favoritos. Tanto conhecimento diversificado adstrito nessas estantes de carvalho escura e rústica. Porém os livros são de coisas bem específicas como política, o mundo do crime e motocross.

Alguns exemplares são: “O universo numa casca de noz” de Stephen Hawking. E “Quem manda no mundo?” de Noam Chomsky.

É uma bela biblioteca literária com o básico sobre o mundo em que vivemos e a política que nos comanda. Geralmente não é uma leitura divertida, porém não é menos importante.

Quando Alex volta Clara está largada no sofá, com as costas viradas de lado para não machucar o ferimento e o rosto deitado com os olhos fechados.

O dia havia sido uma mistura de medo, raiva e muita adrenalina, Clara só queria dormir e aproveitar a inconsciência tão almejada.

— Ei, tudo bem? — Alex pôs a mão em seu ombro e balança levemente para não assustá-la em seu sono. Infelizmente a delicadeza não ouve resultados, sua mente perturbada sente aquela mão estranha a tocando como uma ameaça.

Sua mente estala e seus olhos frenéticos se abrem agilmente. Tudo o que ela quer é correr dali, ir embora e ser livre daquele sorriso sádico que se instalou em sua cabeça e não some nunca.

Sua respiração começa a ficar frenética e errática, seu peito chacoalha rápido e seu coração bate tão forte que Clara teme que pule de seu peito.

— Ei. Tudo bem, está tudo bem. Ninguém pode te machucar aqui. Apenas ouça a minha voz — Clara quer deixar aquelas palavras gentis se aprofundarem, mas sua mente funciona como um tornado descontrolado. Apenas rodando brutalmente e destruindo qualquer pensamento sensato que ainda exista.

Uma mão forte agarra sua nuca e outra segura o lado esquerdo de seu rosto, tentando manter o controle, mas Clara não consegue acordar, tudo o que ela sente é que logo aquelas mãos irão machucá-la, irão feri-la.

— Eu não vou machucar você, olha para mim. Está tudo bem.

E lá está novamente aquela voz. Sua parte racional não vê perigo naquele timbre profundo e rouco, apenas consolo e cuidado. Clara se esforça para se fundir na parte racional de seu cérebro e aceitar de volta a realidade.

É sempre tão difícil acordar no mundo real. É como se os pesadelos o agarrassem com força e o prendessem no seu próprio subconsciente perturbado.

Vai ficar tudo bem.

Como se estivesse com os olhos fechados todo o tempo e finamente os tivesse aberto, Clara vê aquele rosto bonito novamente.

Os cabelos compridos e castanhos, os olhos verdes. O semblante estranhamente gentil mesmo com tantas marcas cansadas em sua pele.

𝐕𝐎𝐀𝐍𝐃𝐎 𝐁𝐀𝐈𝐗𝐎 +𝟏𝟖Onde histórias criam vida. Descubra agora