— Bom, Price...
— Apenas Clara, por favor — Clara exige, caminhando um passo atrás do homem de jaleco branco e de postura seleta, com uma prancheta na mão esquerda e a outra mão enfiada no bolso. — Não aja como se não me conhecesse.
— ... você será chamada para testes duas vezes na semana depois da escola até mostrar que está apta para trabalhar na área. Você ainda não tem a idade legal para trabalhar, então não espere muito — o homem continua, como se Clara não o tivesse interrompido.
Clara sente vontade de gemer irritada com a situação, mas ela se recusa a ser mais uma cobaia de seu pai para seus próprios fins egoístas, como Caleb foi. Antes disso, ela preferiria levar outra surra de Theo.
— Existem fichas de pacientes guardadas em caixas identificadas nas gavetas grandes de baixo. Tudo o que você precisa fazer é organizar as fichas por ordem de chegada e prontuários médicos para cada paciente.
— Entendi — responde Clara. — Por que está agindo assim?
O homem mais velho levanta uma sobrancelha.
— Assim como?
— Com todo esse profissionalismo forçado, com essa postura. Você mal olha nos meus olhos — reformula Clara, encarando-o.
William Day se tornou amigo de Clara há algum tempo, depois que ela precisou cuidar de suas costelas fraturadas.
Blake a pegou bem, o desgraçado.
William a ajudou levando-a à sua clínica pouco equipada, em vez de a um hospital, a pedido de Clara, que não queria que seu pai soubesse. William, recém-formado e lidando com sua pequena clínica, aceitou ajudá-la e manteve em segredo sua condição depois que Clara explicou tudo.
Relutantemente, é claro.
— Por favor, meu pai não pode saber sobre isso, eu resolvo tudo — Clara se lembra de pedir, com a respiração ofegante e os olhos marejados.
O pai de William, Johan Day, um médico do DMC Sinai Grace Hospital em Detroit e também um homem gentil, avaliou sua situação, descartou a necessidade de cirurgia corretiva e prescreveu a medicação necessária para tratar sua lesão próxima às costelas. Clara lembra como foi difícil convencê-lo de que ela não era uma criminosa espancada pela polícia, nem usuária de drogas. O Sr. Day parecia frustrado, mas algo nele quis ajudar Clara, e isso a salvou.
William e seu pai se tornaram pessoas em quem Clara podia confiar, e por isso ela foi pedir emprego na clínica do mais jovem Day, ainda pouco frequentada.
— Você está prestes a se tornar minha mais nova funcionária, isso exige profissionalismo, certo? — William sorri e bagunça os cabelos de Clara, que resmunga e faz um biquinho nada revoltado.
— Impressionante alguém como você optar por trabalhar em uma clínica pequena como esta, considerando que é filha de John Price. Achei que ele preferiria que você o seguisse na profissão — William chega à questão de um milhão de dólares.
Clara levanta uma sobrancelha, nada surpresa com a pergunta esperada.
— Prefiro não falar sobre isso. Sei que a mão de obra aqui está baixa, e talvez eu não pareça muito promissora no momento, mas posso ser útil — responde Clara, esperando que a conversa acabe ali.
— Não é como se eu tivesse opção, mas não quero ficar na mira do seu pai por contratar você, garota — William tenta parecer severo e cauteloso.
Merda.
Por que o pai dela tinha que amedrontar toda a cidade?
— Estou passando por dificuldades nos negócios. As pessoas preferem grandes centros. Mal comecei e já estou fracassando horrivelmente.
— Eu entendo, mas meu pai não pode fazer nada contra você. Talvez ele me deserde, mas será comigo. Além do mais, a culpa não é sua. Seven Miles Road afugenta todos — Clara tenta tranquilizá-lo, e parece funcionar um pouco.
— Bem — William encolhe os ombros e volta a mostrar a clínica para Clara.
Ser uma garota de dezessete anos desobedecendo aos pais não facilita encontrar emprego de meio período, enquanto ela tenta escapar da faculdade de direito para seguir medicina. Realizar seus sonhos sem apoio da família é uma merda.
— Muita coragem vir para cá também. Seu pai não é bem visto por aqui — diz o Dr. Day. Clara revira os olhos sem disfarçar.
Não existe um lugar no estado onde seu pai não seja mal visto. Esse é o problema. Mas Clara já se acostumou a andar com olhos de águia.
— Meu pai tem o dom de fazer estragos — ela dá de ombros.
— Se levar um tiro no ombro, não me culpe — William brinca, com um brilho travesso nos olhos.
— Se isso acontecer, já sei a quem chamar — Clara soca levemente o braço dele, e William bagunça seus cabelos de novo.
— Vamos torcer para que suas palavras não atraiam nada — uma voz rouca e distinta soa da porta, e Clara se afasta com um sorriso reconhecedor.
O pai de William, Sr. Johan, se tornou como um segundo pai para Clara. Desde que ele cuidou dela, o homem mais velho sempre soube o que dizer e como dizer, como um verdadeiro pai.
— A última coisa que quero é me ver em uma dessas camas de aço — Clara estremece só de pensar.
Ela ama medicina, a carreira que sua irmã Allison seguiu contra a vontade do pai. Mas talvez “Grey's Anatomy” tenha amedrontado Clara com alguns detalhes.
— Bem, isso me deixa mais tranquilo — o Sr. Johan sorri e faz o mesmo que William, bagunçando os cabelos de Clara.
— Sério? E eu achei que esta fosse uma clínica profissional — Clara cruza os braços, e ambos os homens riem.
— Seus cabelos são tentadores demais, Clara — William vibra em diversão, tirando o jaleco. O telefone dele toca, e ele sorri ao ver quem é.
— Vá falar com sua garota, William. Deus sabe que você vai resmungar a noite toda se não falar com ela hoje — o Sr. Johan revira os olhos, e William sai sorrindo.
— Acho que meu filho finalmente se acalmou — diz Johan.
— Isso é bom, certo? — pergunta Clara.
— Totalmente. Mas William nunca foi do tipo que pensava em um futuro com família. Só via a medicina e até onde isso poderia levá-lo. Eu temia que isso o tornasse ganancioso.
— Willy é incrível e ama o que faz. Ele não parece alguém que busca apenas lucro — defende Clara, mesmo sabendo que o pai dele o conhece melhor.
— Agora sei disso. Tenho orgulho de quem ele se tornou.
— Daria qualquer coisa para ouvir isso do meu pai. Parece que nunca sou suficiente para ele. A felicidade dele é o que importa, não a minha — Clara murmura, a mágoa evidente. Ela se senta em uma cadeira, com o olhar distante.
— Seu pai é duro, mas isso não significa que não ame você — Johan se senta ao lado dela. — Todos os pais têm formas únicas de mostrar amor.
— Se ele ao menos falasse comigo... — Clara bufa, cruzando os braços, frustrada.
— Menina...
— Tem certeza de que não há problema em eu trabalhar aqui? — Clara muda de assunto, tentando escapar do clima melancólico. — Eu sei que não posso examinar ninguém, mas cuidar dos prontuários é uma responsabilidade, e não quero falhar.
— Acha que consegue anotar nomes e chamar pacientes pela ordem? — Johan sorri, e isso alivia um pouco a tensão em Clara.
— Willy é um enigma ambulante. Trabalhar para ele não vai ser fácil.
Ambos sorriem, e nenhum deles menciona John Price novamente.
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𝐕𝐎𝐀𝐍𝐃𝐎 𝐁𝐀𝐈𝐗𝐎 +𝟏𝟖
Romance- 𝙹á 𝚊𝚗𝚍𝚘𝚞 𝚍𝚎 𝚖𝚘𝚝𝚘? - 𝙰𝚕𝚎𝚡 𝚚𝚞𝚎𝚜𝚝𝚒𝚘𝚗𝚊 𝚝𝚛𝚊𝚣𝚎𝚗𝚍𝚘 𝙲𝚕𝚊𝚛𝚊 𝚍𝚎 𝚟𝚘𝚕𝚝𝚊 𝚍𝚎 𝚜𝚎𝚞𝚜 𝚙𝚎𝚗𝚜𝚊𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘𝚜. 𝚂𝚎𝚞𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜 𝚌𝚘𝚛 𝚍𝚎 𝚠𝚑𝚒𝚜𝚔𝚢 𝚖𝚒𝚛𝚊𝚖 𝚎𝚖 𝚜𝚞𝚊 𝚏𝚛𝚎𝚗𝚝𝚎 𝚎 𝚎𝚗𝚝ã𝚘 𝚟ê 𝚊 𝚋𝚎...