Ato 1, Sequência 1: Varsóvia, Polônia

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Ato 1: Causas

Sequência 1: Varsóvia, Polônia

Cena 1: O Aviso (escritório em Varsóvia, doze de junho de dois mil e vinte quatro, dezessete horas e cinquenta e seis minutos)

A voz sinistra do telefone ecoa um pouco na sala, que se encontra mais vazia do que costumava estar, repleta de caixas de papelão lacradas por fita adesiva e já sem assentos disponíveis.

VOZ DO TELEFONE

(No telefone, em polonês, em tom ameaçador)

— "Você sabe como funcionam as coisas por aqui. Quem deve, cumpre. Caso contrário..."

Andrzei, ou sr. Szymanski, como tinha inexplicável prazer em ser referido, segura o celular datado com a mão direita e passa a mão esquerda (decorada por um belo anel no dedo anelar e outro no médio, esse um pouco espalhafatoso) na testa, pensando no que dizer ao parceiro Wictor.

WICTOR

(no telefone, em polonês, ansioso)

— "Alô?"

ANDRZEJ:

(no telefone, em polonês, com firmeza)

— "Eu sei como é, eu estava lá quando tudo isso surgiu. Agora pare com o terrorismo barato. Até."

Ele desliga o telefone e o deposita, com leveza e cuidado, sobre a mesa. Afrouxa a gravata, que obviamente não precisaria usar. Sua respiração se torna mais audível do que qualquer outro ruído na sala. Levanta-se, dirige-se à janela. Pensa se aquela casa, logo à frente, sempre foi daquela cor. Não se lembra. Não importa. Depois de 15 segundos de devaneio, pega tudo o que precisa carregar consigo em mais 5 e deixa a sala em outros 3.


Cena 2: A Notícia (casa dos Szymanski, doze de junho de dois mil e vinte e quatro, dezoito horas e vinte e dois minutos)

Andrzej chega, entra, fecha a porta de madeira e deposita seu casaco no devido suporte quase sem gerar ruídos. Demora um pouco além do normal para virar-se de frente ao interior da casa. Repara em detalhes, defeituosos ou não, que ainda não tinha visto. Poderia estar um pouco mais quente ali dentro. Caminha em direção à esposa, que nem havia reagido à sua chegada. Começam a conversar no idioma local.

SRA. SZYMANSKA

(sentada no sofá, deixando de lado algumas folhas que lia atenciosamente)

— "Andrzej...Que cara é essa?"

ANDRZEJ

(indo em direção à esposa, pensando no que dizer)

— "Amor, eu..."

SRA. SZYMANSKA

(visivelmente incomodada)

— "Amor? Por meses eu fui só a Anna para você. O que foi desta vez?"

ANDRZEJ

(verdadeiramente arrependido)

— "Preciso de um pouco da sua paciência agora."

ANNA

(preocupada)

— "Tá bem...Só preciso que seja sincero."

Ele para, pensa nas vezes em que não foi sincero e ela sabe, bem como nas vezes em que não foi

sincero e ela não sabe.

ANDRZEJ

(procurando o maior eufemismo possível para usar)

— "Lembra do Wictor? Ele é bom mesmo de contabilidade. Tá me cobrando daquele...Negócio."

Anna o encara, cruzando os braços, achando graça no esforço dele em disfarçar o assunto, assim

como repassando mentalmente o dia em que o alertou dessa possibilidade.

ANNA

(no melhor tom de "eu te avisei")

— Não me surpreende. Forçamos muito a barra."

Ele desvia o olhar, encarando um envelhecido destilado que poderia ser seu melhor companheiro para esse momento. Não, não. Já se passaram 4 dias sem tocar naquele gelado vidro da garrafa e a meta são 5.

ANDRZEJ

(numa tentativa otimista)

— "Eu ainda ganhei tempo, saí no lucro. Era pra ter acontecido meses atrás."

Ela deixa a pouca leveza se esvair.

ANNA

(repreensiva)

— "Não. Não existe nem 1% de ganho nisso tudo e você sabe como são os próximos capítulos."

Ele coloca as mãos no rosto para levantar o cabelo caído na testa, tirar o suor do rosto e, sobretudo, para cobrir sua face dos olhares de Anna.

ANNA

(séria e decidida)

— "Quanto tempo?"

ANDRZEJ

(como quem suplica por algo, sem acreditar nem mesmo em si)

— "Vou resolver isso. Eu prometo!"

Antes do fim das juras, Anna já havia começado a deixar o ambiente, de forma um pouco exagerada, mas propositalmente incômoda. Dirige-se ao corredor que dá acesso aos quartos. Tenta abrir uma porta e não consegue. Está trancada. 

Ao Cair das MáscarasOnde histórias criam vida. Descubra agora