lack of Faith

Festa

  Sábado. Acordei com o sol entrando pelas frestas da cortina, algo que normalmente não aconteceria em um dia de semana, já que eu estaria correndo para a faculdade. Mas hoje, felizmente, não havia aula. O relógio marcava 9h da manhã, e Cookie, meu gato calico de três cores, estava ronronando ao meu lado, exigindo minha atenção.

“Certo, já estou de pé”, murmurei, levantando lentamente enquanto ele me seguia até a cozinha. Era dia de levar o Cookie ao veterinário para um exame geral, algo que eu costumava fazer todo semestre para garantir que ele estava bem. Depois de encher sua tigela de ração e preparar meu café, peguei a bolsa e coloquei Cookie em sua caixinha de transporte.

O veterinário ficava a uns quinze minutos de casa, e a caminhada até lá foi tranquila, o céu limpo e o ar fresco ajudando a acalmar os pensamentos que pareciam se acumular ultimamente. Chegando à clínica, sentei-me na recepção enquanto esperava nossa vez. O lugar era acolhedor, com plantas espalhadas pelas prateleiras e revistas antigas sobre cuidados com animais.

O veterinário, Dr. Carter, era um homem simpático de meia-idade, com um sorriso caloroso. Ele examinou Cookie com atenção, me perguntando casualmente como estavam as coisas.

“Ele está ótimo, Katie. Só precisa de mais exercícios. E você? Como estão as coisas por aqui?” ele perguntou enquanto acariciava o gatinho.

Sorri, sem muito entusiasmo. "Ah, tudo bem, mais ou menos. Estou me adaptando ainda… é uma cidade estranha, mas estou tentando me acostumar."

Ele assentiu, com um olhar compreensivo. “Uncanny Valley tem um jeito único de ser, mesmo. Mas tenho certeza que logo você vai se sentir em casa.”

Agradeci e saí da clínica sentindo-me um pouco mais leve. Cookie estava saudável, e isso já era um alívio. Decidi aproveitar o restante da manhã para passar na loja de móveis, algo que eu vinha adiando desde a mudança. Minha casa ainda parecia vazia, sem os móveis essenciais.

Quando cheguei à loja, o ar estava mais pesado. Senti uma leve pontada de desconforto, mas ignorei, atribuindo ao cansaço. Escolhi uma televisão, um balcão novo para a cozinha e um micro-ondas, finalmente dando os passos para transformar aquele apartamento em um lar. Enquanto esperava o pagamento ser processado, senti a presença de alguém me observando de longe. Olhei ao redor discretamente, mas não vi nada de anormal.

Peguei as chaves do carro que a loja me ofereceu para transportar os móveis e dei um suspiro de alívio ao entrar nele, mas ainda assim, aquele desconforto pairava no ar. Talvez fosse paranoia, ou apenas o peso de tudo o que vinha acontecendo ultimamente.

Quando cheguei em casa e finalizei a entrega dos móveis, recebi uma mensagem de Tamires. “Oi! Você está bem? Desculpa por não ter respondido ontem, fui visitar minha avó no hospital, está tudo bem com ela. A gente pode se ver hoje? Queria conversar sobre ontem...”

Respondi que estava disponível e a convidei para vir ao meu apartamento. Depois da mensagem, fiquei sentada no sofá por alguns minutos, processando os últimos dias. Quando o som da campainha quebrou o silêncio, levantei e fui abrir a porta.

"Tamires, eu preciso desabafar," comecei, minha voz trêmula. "Esses últimos dias têm sido tão estranhos. Eu sinto que alguém está me seguindo. Ontem, um carro branco passou devagar do meu lado, e eu… eu não consegui parar de pensar nisso. Sinto como se não pudesse confiar em mais nada."

Ela franziu a testa, mostrando preocupação. "Katie, isso é sério. Você já pensou em ir à polícia? Não é normal."

"Eu sei! Mas e se eu estiver apenas inventando histórias? E se eu estiver exagerando? Eu tenho essa voz na minha cabeça me dizendo que eu sou só paranoica e que nada está acontecendo." Eu passei a mão pelo cabelo, tentando me acalmar. O nervosismo crescia dentro de mim, e eu estava começando a sentir a pressão no peito, como se estivesse prestes a entrar em uma crise de pânico.