mistério das flores

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A noite já havia se instalado em Uncanny Valley quando saí da delegacia, o frio cortante me lembrando de que as temperaturas aqui eram tão implacáveis quanto algumas das pessoas que habitavam a cidade. O caminho até meu pequeno apartamento parecia mais longo do que o habitual, como se o peso da minha recente briga com a minha mãe tivesse se transformado em uma carga invisível. Ao abrir a porta do meu apartamento, o cheiro de casa me envolveu, mas algo chamou minha atenção.

Uma carta repousava em cima da mesa, ao lado de uma foto minha trabalhando na cafeteria. Na imagem, meu cabelo ruivo estava iluminado pela luz suave da manhã, e meu sorriso tímido contrastava com a seriedade da situação que eu havia deixado para trás. Meu coração acelerou. A carta continha elogios estranhos e um desejo de boas-vindas que me deixou intrigada. Mas, cansada e confusa, ignorei aquele mistério. Depois de um banho quente, alimentando Cookie e esvaziando a mente, apenas desejei um sono profundo.

Na manhã seguinte, um barulho na porta me despertou. Era o porteiro, um homem idoso com um sorriso simpático. "Bom dia, Katie! Você recebeu um buquê de flores, algo não identificado. Acho que alguém está interessado em você", disse ele, com um brilho travesso nos olhos.

As flores eram vibrantes e frescas, e um pensamento infundido de esperança me atravessou. Era Kaine? Com um sorriso involuntário, já me via agradecendo-o, mas a visão do que se sucedeu na aula fez meu coração despencar.

Quando cheguei à aula de fotografia, fui recebida pelo barulho animado dos colegas conversando. Kaine estava lá, sentado perto da janela. Ele me viu e acenou com um sorriso que fez meu estômago se revirar. Mas o que me desestabilizou foi a garota ao seu lado. Ela tinha cabelos longos e escuros, com um olhar sedutor que não conseguia esconder. O jeito que ela encostava no braço dele e ria de suas piadas me deixou um nó na garganta.

"Ei, Katie! Você está bem?" Kaine me chamou, enquanto me aproximava. Tentei sorrir, mas ele não percebeu a hesitação no meu olhar. "Você viu que recebemos um projeto novo?"

"Sim, estou animada", respondi, a voz soando vazia. O riso da garota ao lado dele ecoava como uma alucinação. A química entre eles era palpável, e eu sentia como se estivesse fora de um mundo que nunca havia feito parte. O que eu esperava, afinal? Ele era atraente e divertido, alguém que todo mundo queria por perto.

A aula prosseguiu, e enquanto tentava me concentrar, a presença da garota se tornava cada vez mais difícil de ignorar. Não demorou muito para perceber que ela estava dando em cima de Kaine. As palavras que trocavam eram carregadas de flerte, e eu mal conseguia prestar atenção nas instruções do professor.

Quando finalmente saiu da sala, minha mente estava confusa. Fui até a biblioteca da faculdade, buscando um espaço silencioso. Aí conheci Tamires, uma garota de cabelos curtos e vibrantes, com um sorriso acolhedor. Estávamos sentadas perto de uma mesa, cercadas por livros de arte e fotografia.

"Ei, você gosta de música?" Tamires perguntou, e o brilho em seus olhos fez meu coração relaxar um pouco.

"Sim, bastante! O que você gosta de ouvir?" perguntei, interessada.

"Ah, eu amo rock alternativo! Tem algo sobre a energia das guitarras que me atrai. E você?" Ela sorriu, já animada.

"Sou mais do tipo indie, mas gosto de tudo um pouco, especialmente quando estou pintando ou desenhando", confessei.

"Você pinta? Que legal! Eu também gosto de desenhar", ela respondeu, a empolgação em sua voz me contagiando. "Na verdade, estou tentando fazer uma série sobre sentimentos. Você gostaria de ver um dia?"

"Com certeza! Adoraria! Eu só faço uns rabiscos, mas sempre quis aprender mais", falei, um sorriso se formando no meu rosto.

"Posso te ensinar! A pintura é uma forma incrível de expressar o que sentimos, e eu sou fã de compartilhar isso", Tamires disse, piscando para mim. "E você, o que mais gosta de fazer nas horas vagas?"

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