CHAPTER ONE.

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A névoa de Edimburgo envolvia o ambiente com uma presença quase palpável, fundindo-se com as luzes amareladas que tremeluziam nas ruas desertas. Rio Vidal caminhava com passos firmes, mas sua mente estava absorta em reflexões. Desde o momento em que havia entrado naquele armazém repleto de artefatos, algo dentro dela havia mudado. O contato visual com aquele livro, a simples presença dos objetos que pareciam evocar eras passadas, tudo a envolvia de uma maneira que ela não podia compreender completamente. O convite em latim, a inscrição "Tempus est revelare," ecoava em sua mente, e agora, em seu escritório, ela estava prestes a mergulhar em uma nova fase de sua pesquisa.

Ela passava os dedos pelo livro que retirara de sua estante, um estudo profundo sobre misticismo na Idade Média. Não era o tipo de material que Rio costumava se debruçar em suas investigações. Sua formação em História era sólida, com especializações focadas em cultura material e documentação histórica. Artefatos, para ela, sempre foram peças de quebra-cabeças que ajudavam a construir narrativas sólidas e factuais. Mas esses objetos... eram diferentes. Havia uma energia peculiar, algo que transcendia o meramente físico.

Sentada em sua mesa, iluminada pela fraca luz do abajur, Rio começou a organizar as informações que havia recolhido no armazém. Entre as peças, algumas chamaram particularmente sua atenção: uma máscara tribal africana, um vaso grego adornado com figuras que pareciam estar em uma dança ritualística, e um anel dourado que exalava uma energia perturbadora. Cada um deles parecia vir de um tempo e espaço distantes, mas estavam todos conectados de alguma maneira que ela ainda não compreendia.

Ela começava com o que era mais familiar. O vaso grego. Com seu vasto conhecimento em artefatos da Grécia Antiga, Rio sabia que aquela peça tinha algo peculiar. As inscrições na lateral pareciam remeter a um culto arcaico, anterior aos deuses olímpicos. As figuras humanas no vaso estavam em uma espécie de círculo, segurando tochas que pareciam emanar luz. Havia algo quase hipnótico na maneira como as chamas foram pintadas, como se se movessem ao ser observadas de diferentes ângulos.

Ela digitou algumas palavras-chave em seu computador, buscando por referências a cultos pré-helênicos, especialmente aqueles conectados com magia ou rituais de transição de poder. A busca trouxe fragmentos de textos, trechos de mitologias obscuras que mencionavam deuses antigos relacionados à noite e ao conhecimento oculto. Um nome em particular apareceu repetidamente: Nyx, a deusa primordial da noite. Em algumas lendas, Nyx era representada não apenas como uma deidade da escuridão, mas também como uma guardiã de segredos ancestrais. Era ela quem carregava as chaves dos mistérios, e os poucos que ousavam buscar o conhecimento proibido muitas vezes encontravam um destino terrível.

Rio anotou os nomes, ligando os pontos entre as figuras do vaso e os textos antigos. Mas o que aquele vaso estava fazendo em uma sala repleta de objetos tão diferentes? A resposta, ela sabia, estaria no próximo item.

A máscara tribal africana tinha uma textura rústica e expressiva. As formas eram geométricas, quase abstratas, mas havia uma vivacidade no olhar talhado no centro, como se a própria madeira tivesse vida. Rio pegou uma lupa e inspecionou de perto, tentando identificar a origem daquele objeto. As máscaras eram usadas em diversas culturas para rituais, geralmente representando espíritos ou entidades divinas. Entretanto, o estilo daquela máscara não era algo com o qual Rio estivesse familiarizada. O padrão de talha indicava um trabalho meticuloso, o que sugeria que a peça poderia ter sido utilizada em cerimônias importantes, talvez até funerárias.

"Máscaras de rituais africanos têm uma longa história de representarem o limiar entre o mundo dos vivos e dos mortos", pensou Rio em voz alta enquanto folheava um catálogo antigo de objetos rituais africanos. Mas essa máscara em particular parecia mais antiga do que as que ela havia estudado antes. Em suas pesquisas, encontrou uma lenda que falava de uma tribo esquecida, a qual acreditava que certos indivíduos possuíam a habilidade de se comunicar com os antepassados usando máscaras específicas. Essas máscaras, segundo o mito, eram esculpidas com madeira sagrada e imbuídas com o poder dos mortos.

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