Capítulo 13: O Reflexo da Escuridão

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Hendrik sentiu a escuridão se expandir dentro de si, como um mar revolto que ele não podia mais controlar. Cada memória o afogava um pouco mais, e por mais que tentasse escapar, o colar o mantinha preso, como uma âncora que se recusava a soltá-lo. Ele se viu mais uma vez diante de sua própria imagem refletida em uma tela, mas desta vez, algo estava diferente.

A figura que o encarava no reflexo não era apenas o Hendrik que o mundo conhecia. Havia uma sombra atrás dele, uma presença que ele sempre sentiu, mas nunca ousou reconhecer. Os olhos de sua imagem no espelho pareciam mais sombrios, carregados de um fardo que ele mal compreendia. Mas então, a sombra no reflexo começou a tomar forma, e Hendrik percebeu que aquilo era mais do que uma figura abstrata - era parte de quem ele realmente era.

Selena observava de longe, seus olhos atentos a cada movimento. Ela sabia que Hendrik estava no limiar de algo, uma transformação que poderia destruí-lo ou libertá-lo. "Você finalmente está vendo, Hendrik. Está vendo o que sempre esteve aí."

"Eu não... eu não entendo." Hendrik balbuciou, sua voz rouca e hesitante. O medo crescia em seu peito, um medo profundo que não vinha das memórias em si, mas do que elas representavam. O que ele estava escondendo de si mesmo?

"O colar não é apenas um símbolo, Hendrik. Ele é um espelho da sua alma." Selena caminhou em direção a ele, seus passos lentos e deliberados. "Você sempre viveu nas sombras, fugindo da sua verdade. Mas agora, você não tem mais para onde correr."

O colar começou a esquentar em sua pele, o metal que antes era frio agora pulsava com uma energia sinistra. Cada vez que ele tentava removê-lo, o calor aumentava, até que ele foi forçado a parar de lutar. O desespero estava tomando conta, mas Hendrik sabia que a única saída era encarar o que estava acontecendo.

"Selena, o que você quer de mim?" Ele finalmente perguntou, sua voz trêmula, mas determinada.

Ela se aproximou ainda mais, até que seus rostos estavam a centímetros de distância. "Eu não quero nada de você, Hendrik. A questão é: o que você quer de si mesmo?"

Essa pergunta o atingiu com força. Ele sempre viveu de acordo com as expectativas dos outros, construindo uma carreira que deveria ser o ápice do sucesso, mas que, na realidade, era uma prisão. E agora, com esse colar, ele se via preso não apenas ao que fez, mas ao que ele era por dentro - algo que ele temia profundamente.

"Eu não sei... quem eu sou, Selena." Sua confissão foi um sussurro quase imperceptível, mas foi suficiente para que as lágrimas começassem a se formar em seus olhos. "Eu passei tanto tempo fingindo que... me perdi."

Ela o encarou por um longo momento antes de falar. "A escuridão não precisa ser sua inimiga, Hendrik. Ela pode ser a chave para encontrar quem você realmente é, se você estiver disposto a aceitar isso."

Ele ficou em silêncio, ponderando sobre as palavras de Selena. A ideia de aceitar sua escuridão, em vez de combatê-la, era ao mesmo tempo aterrorizante e libertadora. Talvez ele não precisasse mais carregar o peso da perfeição que o mundo exigia. Talvez houvesse força na vulnerabilidade que ele sempre evitou mostrar.

Selena estendeu a mão, tocando o colar em volta do pescoço dele. "Mas cuidado," ela sussurrou, "porque a escuridão pode consumir tudo, se você permitir."

A tensão no ar era palpável. Hendrik sabia que estava à beira de uma decisão que mudaria tudo - ele poderia continuar fugindo, ou poderia abraçar a parte mais sombria de si mesmo. Mas a escolha não era fácil, e o que ele não sabia era até onde essa escolha o levaria.

Olhando para Selena, ele viu algo que antes não havia notado. Ela também carregava suas próprias sombras, suas próprias cicatrizes. E, de alguma forma, suas histórias estavam entrelaçadas agora, ligadas por algo mais profundo que ele ainda não conseguia compreender completamente.

"Estou pronto," ele disse, sua voz firme desta vez, embora um turbilhão de emoções o consumisse por dentro.

E assim, o laço entre Hendrik e a escuridão se apertou ainda mais, puxando-o para um caminho sem volta.

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