Intruso - Meu Meio Irmão

Capítulo 2

"There's nothing you can do that can't be done"

You need is love - The Beatles

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O sol se põe a cada olhada que dou pela minha janela,talvez eu seja um pouco sensível mas o que aconteceu mais cedo me deixou pensativo,ter um meio irmão tão agressivo me incomoda,a ponto de não me sentir mais seguro sozinho com ele.

O frio começa a bater e o barulho que antes estava alto parece ter se acabado,fiquei a tarde inteira com os fones afim de não ouvir qualquer sinal de barulho vindo da festa medíocre de Noah.

Saio da cama para pegar meu moletom,com fome pensando na má ideia de sair do meu quarto,mas minha barriga implora por alguma coisa então decido ser cauteloso em meus passos

A casa está um pouco escura,creio que já não estão mais aqui,conforme me aproximo fica mais escuro então acendo a luz do corredor e desço as escadas devagar,ligando a luz da sala posso ver a bagunça que fizeram,tem latas de cerveja espalhadas por todo lugar,cigarros usados em cima da mesa e até uma calcinha no canto.

Vou para a cozinha para preparar algo,pelo menos não está a zona que se encontra a sala,mas o cheiro ruim ainda prossegue por toda a parte de baixo da casa.

Decido fazer apenas um macarrão instantâneo,o que é mais fácil e gostoso que isso? particularmente eu desconheço algo assim

Coloco a água para esquentar e então procuro nos armários até encontrar

- Sabor carne? Vai você mesmo... - Digo para mim mesmo preparando o meu banquete

Da cozinha percebo que a porta dos fundos está aberta,depois de colocar o alimento da panela me dirijo até a porta,e lá vejo Noah deitado no chão.

- Que merda você ta fazendo aqui garoto? - Digo me aproximando lentamente

- Ugh...Davon é você? - Ele diz baixo sem olhar para trás

- Davon? Levanta daí Noah para de ser maluco. - Digo sem ousar chegar muito perto dele

- Está...confortável - Ele se ajeita no chão

- Porra,precisamos fechar essa porta levanta logo. - Aumento um pouco o tom de voz

- No-Noah? Ah é só você - Ele tenta se levantar com dificuldade arrastando-se para dentro

- Não sabia que você era do tipo fraco com bebida - Ironizo sua situação

- Cala a boca porra - Ele faz mais força para se levantar sem sucesso

Observo por um tempo ele tentando se levantar,ainda que tenho receio dele minha consciência não deixaria ele ficar nessa situação

- Vem eu te ajudo... - Caminho até ele devagar estendendo a mão

Ele cerra os olhos para mim,não querendo aceitar minha ajuda mas sem muita escolha.
Ele pega minha mão e com dificuldade se levanta colocando seu peso sobre meu ombro

Sua pele está fria devido a baixa temperatura lá fora,ele evita olhar para meu rosto,possivelmente com seu ego ferido.

Prossigo o caminho fazendo força para ajudar a mante-lo de pé,meus ombros doem um pouco fazendo com que uma careta discreta surja em meu rosto.

- Caralho todo esse peso são seus músculos? - Digo arfando

- O que mais seria? - Ele arrasta a voz ainda sem olhar para mim

- Para o seu quarto? Ou vai tomar um banho? - Indago evitando contando visual também

- Meu quarto. - Ele responde rispidamente

- Ta legal... - Ignoro a dificuldade querendo terminar logo minha nova função de uber doméstico

A cada degrau que subimos sinto que estou mais perto de acidentalmente deixar ele cair,meus pensamentos intrusivos imaginam como minha vida seria mais fácil se ele fosse cadeirante ou fosse dessa para melhor nesse momento,mas rapidamente os afasto.

Não é que eu seja do tipo otimista,mas acho que no fundo ainda posso construir uma boa amizade com Noah.

Um barulho de trovão me assusta fazendo com que nós dois cambaleamos de um lado para o outro a 3 degraus para terminar a subida

- Merda merda,segura cacete - O medo de cair é tão grande que suas palavras saíram pouco arrastadas dessa vez

- Eu to tentando ok... - Digo com dificuldade voltando ao equilíbrio segurando firmemente o corrimão

Apressando a subida com medo de mais um episódio como esse,finalmente terminamos de subir,agilizando meu serviço de levar ele até seu quarto,abro a porta e o deixo perto da cama,o mesmo se joga sem olhar para mim

- Por nada - Digo para mim mesmo fechando sua porta e saindo de lá

Desço as escadas novamente correndo para a cozinha,nessa altura o macarrão instantâneo já está inchado e a água inteira se secou,o deixando preso no fundo da panela

- Ótimo... - Desligo o fogo e apenas pego uma maçã na fruteira me contentando que até na cozinha a sorte me pegou de jeito.

Fecho a porta e caminho em direção ao meu quarto, quando vejo o celular de Noah tocando,dou uma rápida olhada, um nome salvo como "Minha Flor" aparece na aba de contatos,logo quando a chamada desliga,vejo mais de 8 mensagens desse mesmo número

Pego o celular em minhas mãos pensando por um segundo,resolvo não me atrever a olhar as mensagens,então o deixo no mesmo lugar e finalmente vou direto ao meu refúgio—minha cama—.

Me deito pronto para dormir,espero que o dia amanhã seja mais calmo,menos intenso e que Noah tenha revido suas ações comigo mais cedo.

Abro meu celular para visualizar as mensagens de minha mãe,ela mandou várias fotos,seu sorriso estampado em cada uma delas,abraçada com seu novo amor,ela posa com graciosidade e felicidade para a câmera.

Me pergunta como estão as coisas com seu humor de figurinhas de gatinhos e bebês coreanas,minto que está tudo ótimo,se eu não posso aproveitar esse verão da forma que eu queria,espero que ela se divirta por mim.

Dou um sorriso de leve e desligo meu celular,espero que ela tenha o amor que merece vindo desse homem,embora não tenha tido muito contato com ele,é visível que ele a admira muito,e possivelmente está extremamente apaixonado.

Gostaria de acreditar nisso,mas minha experiência com meu pai,que mostrava ser tão amoroso e confiável,e foi embora de uma hora para a outra sem dar nenhum aviso prévio me faz desconfiar de até onde alguém consegue fingir um amor verdadeiro.

Viro para o lado e abraço meu travesseiro fechando os olhos...