Assim que saí do aeroporto, chamei o Uber e o motorista nem perguntou muito. Só dei o endereço da Rocinha, e ele seguiu direto. A cidade do Rio era linda, mas eu sabia que estava indo para outra realidade. Fui olhando as ruas, o contraste entre as áreas mais nobres e as mais pobres. Chegar na Rocinha parecia atravessar uma fronteira invisível. Quando o Uber parou lá embaixo, já senti o clima mudar.
Logo vi os moleques que sempre ouvi falar, os vapores. Ficavam no pé do morro, vigiando quem entra e quem sai. Quando desci do carro, senti um arrepio. Eles me encararam, e um veio direto na minha direção, com uma expressão desconfiada.
— Coé , menor. Quem é tu? — perguntou.
Engoli em seco, sentindo o nervosismo me pegar de jeito. Respirei fundo, tentando parecer tranquilo.
— Sou o novo morador. Acabei de me mudar pra cá — respondi, com a voz meio hesitante.
Os caras se entreolharam, um deles pegou um radinho e falou com alguém suponho eu que o dono do morro. Fiquei ali, parado, esperando. Meu coração batia mais rápido, mas não dava pra vacilar.
— Tá certo, tá confirmado. Pode subir.
Senti um alívio imediato, mas ainda estava meio tenso. A Rocinha era um lugar enorme, e eu não tinha a mínima ideia de como me localizar ali. Comecei a subir o morro, tentando entender pra onde ir, mas a cada viela nova, ficava mais perdido.
Foi quando vi um cara de boné e camiseta larga vindo na minha direção.
— Coé neguinho tá perdido?
— ahh sim , você pode me ajudar por favor? - sei que não deveria pedir ajuda a um estranho, mas se eu não tenho opção se eu não fizesse isso eu ia passar o dia inteira andando para cima e para baixo parecendo um doido.
— Ainda, conheço esse morro como a palma da minha mão.
— obrigado - respondo.
— que nada mas e aí pra onde você vai?
— Pro apartamento XXXXXXXXX.
— Tô ligado onde e bora lá, mas e aí neguinho qual é teu nome ?
— Guilherme.
— o meu é Daniel prazer - disse sorrindo.
— prazer.
Começamos a andar e o caminho era confuso, com várias bifurcações, e Daniel parecia conhecer mesmo tudo como a palma da mão. Durante o caminho, tentamos conversar, mas sem muito aprofundamento. Ele não era de muito papo, e eu também estava mais preocupado em lembrar o caminho.
Chegamos no apartamento e era bonitinho por fora, quero ver por dentro.
— Qualquer coisa, é só chamar. Tô por aí.
— Valeu mesmo, cara. — Agradeci mais uma vez.
— aí neguinho antes de eu ir passa seu número aí para nós trocar uma idéia -
— ahh..ok- passei o meu número e dei tchau.
Entrei no apartamento e fiquei surpreso. O lugar estava mobiliado, e não era ruim. Simples, mas funcional. Havia uma pequena cozinha equipada, uma cama arrumada e até uma mesa no canto. Olhei pela janela e vi o movimento constante da favela lá embaixo.
Sentei no sofá, ainda processando tudo. Era um bom lugar pra começar, mas a sensação de estar totalmente fora de lugar era inegável. Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos.
Peguei minhas coisas, comecei a colocar no guarda-roupa que já estava lá. As roupas eu fui arrumando direitinho, dobrando tudo, deixando organizadinho. Tava me sentindo estranho, mas aquele estranho bom, sabe? Tipo, "caraca, agora é real".
Aí, fui tirando umas coisas da mochila, tipo meus livros e umas coisinhas que eu trouxe de casa, só pra dar uma cara mais minha pro lugar.
O sol já estava começando a baixar, e eu percebi que a fome começou a bater. Olhei na geladeira, mas estava vazia. Lembrei que tinha um mercadinho na frente do AP. Peguei minha carteira e fui lá.
Comprei um miojo rapidinho e voltei pro apartamento. Fiz o miojo, sentei na mesa e comi, refletindo como minha vida deu essa guinada. Terminei, tomei um banho e, quando deitei na cama, o cansaço me pegou de jeito.
Fiquei olhando pro teto e pensando: "Amanhã eu tenho que ir atrás de um trampo e me matricular na escola nova." O sono foi chegando devagar, e eu apaguei, com a cabeça já cheia dos próximos passos.
{...}
Acordei no outro dia meio devagar, com o sol já entrando pelas frestas da janela. Sentei na cama, dei aquela espreguiçada e lembrei que precisava comprar umas coisas pra comer. Coloquei a primeira roupa que vi e fui direto no mercadinho ali da frente. Peguei pão, manteiga, pó de café, açúcar e mais umas coisinhas pra me virar no café da manhã.
Voltei, fiz meu café, comi tranquilo, tomando o café preto que me deu uma energia boa pra começar o dia. Depois, fui tomar um banho e me arrumar. Hoje era o dia de ir atrás da matrícula na escola. Cheguei lá e, depois de resolver as burocracias, fiquei sabendo que só ia começar no mês que vem. Tinha algum problema na escola, e eles estavam enrolados com isso.
Sem pressa, voltei pra casa e, assim que cheguei, liguei meu notebook pra fazer um currículo. Precisava correr atrás de um trampo pra me manter por aqui, então dei uma ajeitada no documento e saí pra entregar em alguns lugares.
Depois de entregar o último currículo, já voltando pra casa, esbarrei em alguém na rua. Quando olhei, era o Daniel. A gente trocou uma ideia rápida, mas rolou um clima estranho no ar, tipo... um flerte, mas ao mesmo tempo não era. Só uma troca de olhares, uma pausa no meio da conversa que deixou o momento meio diferente.
Voltei pra casa depois disso, mas aquela interação ficou na minha cabeça. Deitei no sofá, olhando pro teto, pensando no Daniel e no que tinha rolado ali. Algo me dizia que ainda ia cruzar com ele mais vezes.
A verdade é que eu sempre soube quem eu sou, mas nunca tive coragem de me assumir. Na cidade de onde eu vim, o preconceito era pesado. Todo mundo olhava torto, julgava, falava pelas costas. Eu cresci com esse medo de ser quem eu realmente sou. Nunca fiquei com nenhum homem na vida, só por causa desse receio, desse peso do julgamento dos outros.
Mas agora eu tô numa cidade nova, um lugar completamente diferente. Fiquei pensando: "Pô, por que não me assumir aqui? Não quero passar a vida inteira escondendo quem eu sou por medo do que os outros vão pensar." O Rio me dava essa sensação de liberdade, e talvez fosse a hora de, finalmente, ser quem eu sou de verdade.
Enquanto essas ideias rodavam na minha cabeça, eu sabia que ainda estava me acostumando com tudo isso. Mas uma coisa era certa: eu não queria passar a vida inteira escondido. Talvez esse fosse o começo de uma nova fase pra mim.
E aí gente eu sei eu sei que eu prometi postar dois capítulos ontem mas é que eu acabei caindo de bicicleta e machuquei minha perna então tá bom que eu me esqueci de completar o capítulo.
O próximo capítulo talvez demore um pouco para sair porque eu esqueci completamente o que eu ia escrever nele kkkk.
Qualquer erro me avisa hein para mim poder melhorar minha escrita.
Até o próximo capítulo votem e comentem muito bjs 😙
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𝖤𝗇𝖼𝗎𝗋𝗋𝖺𝗅𝖺𝖽𝗈𝗌 𝗉𝖾𝗅𝗈 𝖽𝖾𝗌𝗍𝗂𝗇𝗈
RomanceSinopse: Guilherme, um jovem de 16 anos, que sempre sonhou em deixar sua cidade natal, no Acre, em busca de novas oportunidades. Determinado a seguir seus sonhos, ele economiza, faz planos No entanto, a vida tem seus próprios planos, e por questões...