quinto capítulo

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                                     •Thiago

Eu mal entrei em casa, e o olhar da minha mãe me atingiu como um soco. Ela nem precisou abrir a boca pra eu entender o que tava pensando. A decepção estampada no rosto dela parecia coisa sólida, tipo uma pedra pesada jogada nas minhas costas. Eu sabia que ia ser assim, mas, ainda assim, ver aquela expressão foi muito pior do que eu imaginava.

— você entrou mesmo ? — ela falou, a voz fria, quase sem emoção, mas as palavras afiadas. — responder!

Fiquei sem saber o que dizer. Engoli em seco, tentando segurar as palavras na garganta. Senti o medo que há dias tava tentando ignorar. Ele agora parecia ter ganhado forma ali na sala, no meio de nós dois. Mas eu já sabia o que falar, mesmo sem querer.

— Mãe... eu não tive escolha — minha voz saiu rouca, quase um sussurro. — Você acha que eu queria isso?

Ela balançou a cabeça devagar, como se estivesse rindo de mim, mas sem nenhum sinal de humor.

— Sempre tem escolha, Thiago. Você só escolheu o caminho mais fácil.

Ela Tava certo era o caminho mais fácil mas o que eu podia fazer se era a única opção a gente já tentou de tudo ela sabe disso ela só tem que aceitar .

— Eu tinha que fazer, mãe.

Ela me encarou com aquele olhar vazio, como se eu fosse um estranho, alguém que ela mal conhecia. E, naquele momento, eu mesmo me sentia assim.

— Você podia ter me ouvido, Thiago — ela disse. — Agora não tem volta. Agora você já escolheu.

As palavras dela ecoaram na minha cabeça enquanto eu subia pro meu quarto. Fechei a porta e fiquei sentado na beira da cama, olhando pro nada. A sensação de vazio era tão grande que quase dava pra tocar. O peso daquela decisão, a escolha de entrar numa vida que eu sabia que não tinha saída, me deixava sem ar. Mas era como eu disse pra minha mãe: eu não tinha escolha.

Eu sabia o que significava entrar nesse mundo. Já vi a vida de outros meninos, amigos meus, que trilharam o mesmo caminho. Era a realidade de muitos, e eu não era exceção. A questão era aceitar isso e tentar sobreviver da melhor maneira possível.

Duas semanas se passaram depois disso. No começo, eu era só mais um. Ninguém me respeitava de verdade, e todo mundo fazia questão de deixar isso claro. Era  o novato que ainda tinha muito a aprender. Eu fazia as tarefas mais simples, mas não ousava reclamar. Sabia que era parte do processo. Se eu queria crescer, tinha que mostrar que era bom, que não ia abaixar a cabeça pra ninguém.

Esses dias foram um aprendizado duro. A gente pensa que é forte até se ver diante da realidade. Mas ali, entre eles, eu era só mais um garoto tentando achar seu lugar. Aprendi a lidar com o movimento, a calcular os riscos. Eles me observavam, e eu sabia que tava sendo avaliado. Cada movimento meu era medido. A vida nesse mundo era um teste constante, e, se eu passasse, talvez um dia alcançasse algum respeito.

Até que, numa sexta-feira, o chefe me deu um dia de folga. Talvez fosse uma recompensa por eu estar fazendo o que me mandavam, sem perguntas, sem problemas. E foi um alívio, porque parecia que eu finalmente tinha um respiro. Um dia longe daquela vida, um dia pra esquecer que eu  era um bandido.

Naquela noite, fui até um barzinho na esquina do bairro. Lugar simples, com algumas mesas de madeira e música baixa tocando ao fundo. Um refúgio pra quem, como eu, só queria se distrair, esquecer um pouco da tensão de todo dia.

Assim que entrei, vi um garoto atrás do balcão. Moreno, com a pele bronzeada, o cabelo preto e cacheado . Ele tava com um avental, ajeitando alguns copos na prateleira. Não sei o que me deu, mas fiquei ali, parado por alguns segundos, só olhando.

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⏰ Última atualização: Oct 31 ⏰

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𝖤𝗇𝖼𝗎𝗋𝗋𝖺𝗅𝖺𝖽𝗈𝗌 𝗉𝖾𝗅𝗈 𝖽𝖾𝗌𝗍𝗂𝗇𝗈Onde histórias criam vida. Descubra agora