Prelúdio

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"Todas as coisas possuem uma natureza - pois da natureza, todas as coisas vem.
Existe a natureza da bondade: o amor e compaixão que há dentro de nós. Mas também, a natureza do mal que nos habita: o ódio, a ganância e a violência.
Há em todo lugar puro, brechas para que adentre as sombras, corrompendo tudo o que é belo e inocente - quase inevitavelmente.
A maldade sempre esteve enraizada na terra, desde os princípios do homem e até mesmo antes de sua existência, estando em todo e qualquer lugar onde se vive, nos cantos mais ocultos e improváveis que possamos imaginar. Espreitando, até que nossa guarda baixe, vigiando-nos como uma sombra à espreita, esperando para atacar..."
- Exceto de "Conselhos do Mestre", por Splinter.

A noite calou as ruas de Manhattan, de tal modo que as únicas luzes ofuscando a escuridão viessem dos postes pichados e sem muita manutenção daquela área, iluminando o asfalto marcado e sujo pelo descarte de lixo cotidiano.
Nenhum veículo passava ou estacionava na rua, assim como ninguém andava pelas calçadas, dando lugar aos gatos, cães e pequeno roedores ou insetos circularem à procura de algum alimento.

Uma pequena e asquerosa barata adulta de asas enegrecidas beliscava um resto sujo de chiclete já mastigado, grudado no chão ao meio da calçada úmida e repleta de outras nojeiras orgânicas. O pequeno inseto se deliciava daqueles restos pegajosos, como se fosse seu primeiro banquete após dias de jejum à procura de algum bom alimento. Mas aparentemente aquele nojento resto de doce fora o melhor que conseguiu arranjar. E o pequeno inseto puxava-o incessantemente a cada mordida esfomeada.

Até que, por um momento, suas antenas captam algo.

"Pock! Pock! Pock!".

Passos estrondosos em sua perspectiva. Algo caminhava até ela, ameaçando uma catástrofe. Então, rapidamente, a pequena corre para o canto da calçada beirando a estrada. Assim, se esquivando da pisada do salto alto de uma reluzente bota de couro negro, da qual o cano alto alcançava uma altura pouco acima dos joelhos de uma mulher, que usava por baixo uma calça também feita a um mesmo couro, porém de tonalidade mais seca sob um cinto irreconhecível de fivela dourada, contendo a gravura de um símbolo que desenhava um tipo de cavalo feroz. O cinto separava a passagem da calça até camisa de ceda escura e abotoada até a altura de um tipo de decote feito pela separação das golas, destacando um colar de correntes douradas que sustentavam um pingente em formato de "M" sobre a pele lisa e esbranquiçada que se expunha. Mais acima do colar, um pescoço delicado que deslizava até uma mandíbula escultural da tal mulher de olhar azul-oceano e cabelos loiros muito bem penteados em uma ondulação que descia até repousar sobre os ombros cobertos por um volumoso casaco, constituído de pele de urso-polar - ou ao menos acreditava-se que era.
Balançava sutilmente em uma das mãos, uma bolsa que mais se assemelhava a uma maleta chique, feita a couro escamoso e enegrecido de crocodilo. Continha zíperes amarelados com pequeninas correntes douradas. Ela sustentava pela alça fina da bolsa, movimentando-a ao ritmo de seu desfile em passos apressados, porém cuidadosos para não perder o equilíbrio dos saltos.
De repente, a moça vira em sua primeira direita, adentrando um beco que ficava entre um bar chamado "Bridge House" e uma sapataria chamada "Omar Shoes". Adentrando mais na escuridão, poderia ver uma luz falha logo a frente. Um poste ao canto na parede esquerda, iluminando um grupo de três homens que conversavam.
A mulher não reparou atentamente em como eram, apenas fitou por alguns segundos um deles que estava de costas em sua visão, virado de frente para o resto: vestia uma jaqueta de couro negro e tão liso que chegava a reluzir, em que nas costas havia estampado um típico ameaçador dragão chinês de somente pura cor púrpura, rastejando de cima a baixo pelo couro como uma extensa serpente.
Aquilo era o bastante. Não havia sombra de dúvidas para a moça, pois já soubera de quem se tratavam.
Engolindo em seco, ela hesitou. Amenizou o ritmo de seus passos para não chamar nenhuma atenção, mesmo que provavelmente já teriam lhe escutado. Seu pânico lhe fez contorcer de leve a boca, sentindo o gosto do batom junto ao medo que lhe tomara aos poucos.
Porém, ela sabia que não havia algum outro caminho, então decidiu enfrentar. Continuou passando pela escuridão, agora em passos mais calmos e cuidadosos, mantendo um certo silêncio e postura fechada e que representasse um máximo de "anonimidade".
À medida em que se aproximava, poderia escutar de longe o diálogo entre eles, mesmo que um pouco de seu pânico pudesse lhe impossibilitar de se atentar a sobre ou o que diziam.

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⏰ Última atualização: Oct 18 ⏰

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