Capítulo 3: Linhas Cruzadas

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A noite engolia Tóquio como um manto pesado, enquanto as luzes da cidade piscavam como um eco distante do caos que reinava no submundo. Yoko estava sentada à beira da janela, olhando para fora, mas sua mente estava longe dali, presa nas lembranças recentes daquele beijo. Seu corpo ainda sentia o peso de Faye contra si, os lábios daquela mulher, sua maior inimiga, queimando na pele como um veneno lento.

Ela apertava as mãos em punhos, tentando controlar o turbilhão de emoções que parecia prestes a explodir. Mas o controle, que sempre fora uma marca de sua personalidade, escapava entre seus dedos. A máfia Apasra estava prestes a dar um golpe devastador nos Malisorn, algo que ela deveria estar comemorando. Em vez disso, sua mente estava presa em um conflito muito mais perigoso do que qualquer guerra familiar. Ela odiava Faye. Ela queria destruí-la. E, ao mesmo tempo, algo dentro dela implorava para que não o fizesse.

— Yoko. — A voz de Wan, sua conselheira de confiança, cortou o ar, trazendo-a de volta ao presente. Wan estava parada à porta, seus olhos sérios analisando cada nuance do comportamento de Yoko. — Os homens estão prontos. O ataque será executado ao amanhecer. Precisamos de sua palavra final.

Yoko se virou lentamente, escondendo qualquer traço de hesitação. Wan era perspicaz, e Yoko sabia que qualquer fraqueza poderia custar caro.

— Execute o plano. — Sua voz saiu firme, mas algo dentro dela se contorceu ao dizer aquelas palavras. O ataque à Malisorn estava prestes a ser lançado, e Faye estaria no epicentro disso.

Wan não parecia convencida. Seus olhos se estreitaram enquanto ela se aproximava, como se tentasse ver além da fachada que Yoko mantinha.

— Algo te incomoda. Você não está concentrada. — Wan cruzou os braços, sua postura rígida. — Isso tem a ver com Faye, não é?

A menção do nome de Faye fez o estômago de Yoko revirar. Ela tentou manter o controle, mas sabia que Wan a conhecia bem demais.

— Faye não é nada para mim, exceto uma inimiga — Yoko retrucou, com uma rispidez defensiva. — A guerra continua. É isso o que importa.

— E você pretende matá-la? — Wan perguntou, sem rodeios. — Porque me parece que há mais entre vocês do que apenas rivalidade.

Yoko sentiu a mandíbula se apertar. Wan tinha razão, e isso a aterrorizava. A hesitação que sentiu durante o beijo, a atração incontrolável que vinha à tona a cada encontro... Tudo aquilo estava comprometendo sua missão. E comprometer sua missão significava perder tudo pelo que lutou a vida inteira.

— Faye é apenas um obstáculo. Quando o momento certo chegar, eu farei o que for necessário. — Yoko disse, embora a convicção em suas palavras fosse mais para si mesma do que para Wan.

Wan olhou-a por um longo momento antes de assentir lentamente.

— Apenas lembre-se, Yoko. Fraqueza, nesse jogo, é mortal.

Com isso, Wan saiu da sala, deixando Yoko sozinha com seus pensamentos. Sozinha com suas dúvidas.

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Dentro de um esconderijo bem guardado, Faye estava sentada em um canto, com os olhos fixos no teto. O sabor amargo do beijo ainda queimava em seus lábios, e o calor de Yoko parecia impregnar sua pele como uma marca que não poderia ser apagada.

— Isso não faz sentido... — ela murmurou para si mesma, pressionando os dedos contra as têmporas.

Faye sempre foi uma mulher prática, fria e controlada. Cada passo que dava, cada escolha que fazia, era calculada. Mas, desde que Yoko havia cruzado seu caminho, tudo estava desmoronando. A guerra entre suas famílias deveria ser a prioridade, e ainda assim, ela se via presa em uma teia de sentimentos contraditórios. O desejo ardente que sentia por Yoko e o ódio por tudo que ela representava colidiam violentamente dentro de seu coração.

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⏰ Última atualização: Oct 20 ⏰

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