O grito medonho ainda reverberava pelos corredores da nave, um som tão profundo e grotesco que parecia ter saído das entranhas do próprio universo. Liam tentou cobrir os ouvidos instintivamente, mas era como se o som estivesse dentro de sua mente, crescendo e ressoando até ser tudo o que ele conseguia ouvir.
E então, de repente, a nave começou a descer.
As luzes internas piscavam loucamente, criando sombras dançantes nas paredes metálicas enquanto o chão vibrava sob seus pés. Um aviso em vermelho pulsava na tela de controle: "EMERGÊNCIA: PERDA DE CONTROLE CRÍTICA."
Liam foi arremessado para o lado quando a nave perdeu altitude rapidamente. Ele bateu com força contra a parede, sentindo a dor percorrer suas costas. Mas em questão de segundos, seu corpo começou a se curar, os ferimentos desaparecendo quase instantaneamente, graças à sua habilidade regenerativa. Ainda assim, o impacto o deixou zonzo, a realidade do que estava acontecendo começando a se desdobrar de maneira assustadora.
Ele se arrastou para a frente, tentando manter o equilíbrio enquanto a nave tremia violentamente, os painéis soltando faíscas e fios se rompendo ao redor. As luzes piscavam em um ritmo caótico, como um coração batendo descontroladamente antes de parar.
Liam chegou à cabine de comando e tentou segurar o painel de controle, mas era tarde demais para reverter a queda. O solo se aproximava rapidamente, e a nave estava indo direto para uma densa floresta abaixo. Ele não tinha escolha a não ser se preparar para o impacto.
— Segurem-se! — gritou ele, embora soubesse que os outros provavelmente não podiam ouvi-lo.
O impacto foi brutal. A nave atingiu o solo com uma força esmagadora, o chão se partindo e os destroços voando em todas as direções. Liam foi arremessado para trás, o ar sendo expelido de seus pulmões enquanto caía pesadamente no chão da cabine. Tudo ao seu redor parecia ter sido engolido pelo caos, o som da destruição ecoando como um trovão.
Por um breve momento, tudo ficou em silêncio. Liam respirou com dificuldade, o corpo ainda regenerando os danos do impacto. Levou alguns segundos até que sua visão voltasse ao normal, e ele percebeu o estado em que se encontrava: sozinho em uma nave destruída no meio de uma floresta desconhecida.
Ele olhou ao redor, ainda atordoado, e seus olhos se fixaram nos corpos de seus companheiros. Nora estava caída ao lado de Ethan, ambos imóveis. Enzo e Aya estavam perto dos controles, enquanto Zara permanecia mais distante, uma expressão serena, mas sem vida.
— Não... isso não pode estar acontecendo — murmurou Liam, sentindo um aperto no peito.
Ele correu até Ethan primeiro, ajoelhando-se ao lado do corpo. Verificou a pulsação, mas não sentiu nada. O mesmo aconteceu com Nora e os outros. Eles estavam frios ao toque, como se a vida tivesse se esvaído completamente durante a queda ou após aquele grito horripilante da criatura.
A sensação de estar completamente sozinho o atingiu como uma marreta. Não apenas sozinho, mas também o único sobrevivente de um evento que deveria tê-los unido. Ele sentiu o peso esmagador da responsabilidade sobre seus ombros, uma mistura de culpa e impotência que quase o paralisou.
— Não vou deixá-los aqui — prometeu ele a si mesmo, os olhos queimando de lágrimas não derramadas.
Nesse momento, o rádio da nave começou a chiar, uma transmissão sendo forçada através do sistema de comunicação avariado.
— Equipe da Helix em aproximação. Convergem para o ponto de queda. Objetivo: recuperar os corpos.
A voz fria e metálica o fez se levantar rapidamente, os músculos tensos e o coração acelerado. A Helix sabia da queda e estava a caminho para recuperar seus corpos. Ele não podia permitir que isso acontecesse, mas estava preso dentro de uma nave parcialmente destruída, com seus companheiros mortos e sem ideia de como sair dali.
Liam tentou se manter calmo, respirando fundo para clarear a mente. A floresta ao redor era densa e escura, uma massa de sombras que parecia querer engolir a nave. Havia ruídos distantes, talvez de animais assustados pelo impacto, mas não havia sinais imediatos dos agentes da Helix. Ainda assim, ele sabia que não tinha muito tempo.
— Preciso encontrar uma saída... e rápido.
Liam correu até a porta da nave, tentando forçá-la a abrir, mas os sistemas estavam inativos, a estrutura danificada pelo impacto. Ele olhou ao redor, tentando encontrar outra maneira de sair antes que fosse tarde demais.
O medo de ser o último remanescente era sufocante, e a voz de Dmitri ecoava em sua mente: "Só preciso dos corpos."
Liam sabia que a Helix não hesitaria em usar seus corpos como ferramentas, mesmo mortos. Ele se recusava a deixá-los sofrer ainda mais nas mãos daqueles que os haviam traído.
Enquanto tentava abrir um painel de acesso manual, ouviu passos pesados se aproximando, seguidos de vozes abafadas. A Helix estava chegando, mais rápida do que ele esperava.
— Eles estão perto! — sussurrou para si mesmo, sentindo o suor escorrer por sua testa.
Finalmente, ele conseguiu forçar o painel a abrir uma saída estreita. Era pequena, mas suficiente para ele escapar. Sem olhar para trás, ele se espremeu pela abertura, deixando a nave destruída e seus amigos caídos para trás, pelo menos temporariamente.
Do lado de fora, a floresta parecia ainda mais escura e ameaçadora. O ar estava pesado, cheio de umidade e o cheiro de terra molhada. Liam parou por um momento, tentando ouvir qualquer som que pudesse indicar a presença da Helix. Tudo estava quieto, exceto pelo som distante de passos se aproximando.
Ele sabia que não podia parar. Precisava encontrar um lugar seguro para se reagrupar e, talvez, encontrar uma maneira de recuperar os corpos dos outros antes que a Helix os encontrasse.
— Não vou deixar vocês para trás — murmurou ele mais uma vez, começando a correr pela floresta escura, sozinho e cercado por um medo avassalador.
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A Sétima Nave Pt2
Science FictionQuando a queda de uma nave deixa um único sobrevivente consciente, um caos sem precedentes toma conta de um planeta à beira do colapso. Cercados por criaturas misteriosas, inimigos ocultos e aliados questionáveis, os protagonistas agora encaram um n...