Diálogos

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O Sol não desapareceu no horizonte do terminal do aeroporto, mas também não posso dizer que ele esteve lá em primeiro lugar. Na verdade, ele nem se moveu. O ar está frio como sempre, mas não é aquele frio que causa incômodo na pele e que normalmente me faria querer me enrolar em cobertores e dormir.

Respirei fundo, sem sentir oxigênio, hidrogênio ou qualquer coisa do tipo entrando nos meus pulmões. A essa altura, eu nem respiro mais, já que mortos não... bom, vocês sabem.

Quanto tempo se passou desde que cheguei a esta não-vida? Tem realmente importância quando estou morto? Quer dizer, não é como se o tempo passasse ou se aqui as folhas balançassem com o soprar do vento (não há vento aqui, não há ar, não faz frio, não faz calor — quão desorientador), então realmente importa? Só por despeito, respiro profundamente.

Nada acontece.

Não há nem mesmo o sufoco que a falta de ar traz quando sinto que meus pulmões não se enchem de nada, e, sem nada, fecho os olhos e imagino:

O Sol se põe gentilmente no horizonte, as luzes entram pelas vitrines e te colocam sob uma luz alaranjada, enquanto você está fazendo um belo arranjo de flores, porque agora você tem uma floricultura.

Na minha cabeça, você está cercado de luz solar e flores bonitinhas. Há um suave tilintar distante de sinos, enquanto risadas de crianças são escutadas a uma boa distância daqui. Você administra uma floricultura, provavelmente, e eu vou comprar flores todos os dias só para te ver.

O mundo é gentil com você agora, e sua risada vem livremente. Nós temos permissão para saber os nomes das crianças um do outro, sem riscos. Aqui, o mundo é gentil com você, e, em troca, você é gentil com as pessoas do mundo.

Nesse mundo, você nunca teve motivos para parar de ser gentil, Suguru.

— O que está fazendo? — A pergunta chega aos meus ouvidos repentinamente e eu me viro lentamente na direção da sua voz (eu não suspiro, porque mortos não suspiram).

Eu gostaria de parecer mais surpreso com a sua chegada, busco no fundo do meu peito o sentimento de tristeza ao te ver, mas a única coisa que surge em mim ao te ver usando o uniforme que também uso, e que nos seguiu até a morte, é o frio da aceitação e o calor do alívio.

Alegre, alegre, meu peito se enche de alegria, pois Suguru está parado na minha frente, aquele sorriso fino que não mostra os dentes, o cabelo preto longo e brilhante que chega à cintura.

Simpático, gentil, gentil, tão frágil, maldoso, tão, tão cruel.

É terrível.

— Pensando e fantasiando — Eu respondo com a mais pura verdade, porque mentir é para vivos, e não tenho vergonha em dizer que estava sonhando com um mundo cheio de vida, onde nós dois respiramos e onde não morremos antes dos trinta anos.

— Hm, sobre o quê? — Você me questiona, se aproximando de mim até que fiquemos a um passo de distância um do outro.

— Você, o mundo, a vida, uma floricultura, o valor dela.

— O valor de uma floricultura? Nós nem gostamos tanto de flores — Seu sorriso se estica, diversão surgindo na forma como você relaxa os ombros.

— Não da floricultura, da vida.

— Desde quando você se importa com isso? — Seus olhos se estreitam, fechando-se como os olhos de uma raposa, daquelas maldosas e astutas. A diversão feliz, calorosa (feliz, alegre), é substituída por aquela risada feia de hiena, raposa, o que quer que seja, não importa.

Conversas Póstumas (Satosugu)Onde histórias criam vida. Descubra agora