Conversas Póstumas

38 3 0
                                    

O aeroporto está sempre vazio. O silêncio ecoa de forma ensurdecedora nas vastas áreas abertas, acentuando a solidão que preenche cada canto. As largas passarelas de aço e vidro refletem a luz artificial pálida, criando um brilho frio que realça o vazio do local. Isso causa uma pontada forte no peito de Satoru enquanto ele caminha, seus passos reverberando nas paredes nuas. O estômago dá voltas como se algo estivesse terrivelmente errado. Um lugar tão normalmente agitado não deveria parecer tão deserto, mas faz sentido, ele supõe. A vida é para os vivos, e ele não está mais entre eles.

— Satoru — ele escuta seu próprio nome, vindo de uma voz que nunca esqueceu, embora agora esteja desbotada pelo tempo e pela distância.

Ele para por um momento, olhando ao redor do vasto terminal onde os balcões de check-in estão vazios, os monitores apagados. A arquitetura moderna do aeroporto, com suas amplas janelas e tetos altos, parece agora uma gigantesca catedral de aço, um mausoléu para as almas que se perderam entre os voos cancelados e as chegadas que nunca acontecerão.

— Suguru — responde automaticamente, reconhecendo a presença do outro falecido. A voz de Suguru soa lenta e descompassada, quase como a de um bêbado, refletindo a letargia e o desalento deste lugar sem vida.

Os olhos de Suguru estão sombreados pelo mesmo brilho pálido que ilumina o aeroporto. Eles se movem lentamente, observando o espaço vasto e deserto, como se buscando algo que nunca poderá ser encontrado.

— Você não se culpa? Realmente? — A pergunta vem sem rodeios e em um tom de ronronar, seus olhos estreitos como os de uma raposa. Satoru odeia aquele olhar, tão familiar e ao mesmo tempo tão distante.

Os dois se movem pelo terminal deserto, passando por lojas fechadas e áreas de espera vazias. As cadeiras de plástico brilham sob a luz branca, imaculadas e prontas para os passageiros que nunca virão. Eles entram em um dos restaurantes do aeroporto, um lugar que ainda mantém a aparência de esperar por clientes — mesas postas com guardanapos dobrados meticulosamente, talheres polidos e copos alinhados perfeitamente. Tudo é uma ilusão de normalidade.

Sentam-se em uma delas. O silêncio do restaurante é opressor, quebrado apenas pelo som ocasional do metal contra o vidro quando um talher, em um movimento quase imperceptível, toca um copo.

Antigamente, eles nunca conseguiam ficar em silêncio juntos. Satoru se pergunta se sua incapacidade de simplesmente sentar e ficar quieto piorou a situação de Suguru ou...

Não.

A culpa não é dele. Ele não conseguia ler pensamentos; não havia como saber.

— Eu também não te culpo.

— Hm?

— Eu não te culpo, Satoru — suspira Suguru, olhando para o chão imaculado do restaurante. — No começo, eu culpava, mas você estava tão ocupado. Nós dois estávamos. Mas eu demorei para perceber.

Dói falar sobre isso. Satoru observa as cadeiras vazias ao redor, cada uma um testemunho silencioso de conversas não realizadas e encontros que nunca acontecerão.

Falar da época em que eles eram Gojo e Geto, apenas Gojo e Geto.

Foi horrível quando Suguru se foi, deixando Satoru para suportar sozinho o fardo que antes compartilhavam. É terrível; o faz querer fugir.

— Por que só nós dois estamos aqui? — Gojo pergunta de forma despreocupada, tentando mudar para um assunto menos doloroso. Geto dá de ombros.

— Acho que é porque os outros já seguiram em frente, ou algo assim...

— Você fala de suas filhas?

— Também. Eu as vi, mas ficaram apenas alguns minutos antes de embarcar no avião e partir para... seja lá onde.

— Está chateado por não ir com elas?

— Não posso entrar no lugar para onde elas vão.

— Ah... — Gojo havia esquecido por um momento das coisas que Suguru tinha feito.

E não é horrível? Deixar de lado todo o horror causado por esse homem terrível, apenas por razões de afeto?

— Vai ficar aqui para sempre, então? — ele pergunta, a voz soando mais grosseira e rude do que pretendia.

Gojo se encolhe ao som estridente da própria voz, mas Geto não parece se importar. Seus olhos vagam pelas paredes do restaurante, talvez buscando algum consolo no reflexo opaco dos painéis de vidro.

— Tenho algumas pessoas que ainda quero ver.

— Shoko?

— Shoko.

Gojo não consegue deixar de bufar, recostando-se contra a cadeira dura do restaurante. As memórias surgem, agudas e dolorosas, cada uma uma facada silenciosa no peito.

— Bem, isso vai demorar então.

— De fato.

Passam-se mais alguns minutos em silêncio; ou seriam horas? Não importa. O tempo parece fluir de maneira diferente quando você está morto.

— Você está esperando mais alguém? — Geto pergunta com aquele sorriso nojento, batendo o dedo indicador contra a bochecha.

Gojo fica em silêncio, cogitando se vale a pena compartilhar isso com Geto.

Essa ideia por si só é estranha. Quando ele começou a pensar no que dizer ou não dizer para o outro? Foi antes ou depois de Amanai? Ele não se lembra.

Por fim, Gojo suspira, optando por compartilhar.

— Sim, estou procurando Tsumiki, mas ela ainda não apareceu por aqui. — Ele lambe os lábios, tentando não parecer tão hesitante quanto se sente.

Ela deve estar em algum lugar neste aeroporto gigante. Ela não... não iria embora sem Megumi.

Ou pelo menos ele pensa que não. Mas o que ele sabe sobre ela? Os dois mal conversavam. Ele nunca parou para trocar mais de três palavras com ela.

Ele sempre deu mais atenção a Megumi (ele reconhece que também não foi muita; as crianças praticamente se criaram sozinhas). Megumi era mais novo, exigia mais atenção, e Tsumiki era esperta. Ela nunca exigiu mais do que Gojo podia dar, nunca exigiu nada enquanto cuidava do irmão sempre que Gojo passava meses fora, apenas enviando dinheiro para eles.

— Tsumiki... — Geto começa a falar, os olhos brilhando com algo cruel — esse é o nome daquela macaquinha que você adotou por...

Os olhos de Gojo brilham naquele azul radioativo de novo para Geto, como há muito tempo não faziam, enquanto ele interrompe o outro homem. Seus dedos tamborilam por um segundo contra a mesa empoeirada do restaurante vazio. Foi apenas um breve momento, mas suficiente para o homem notar.

— Acho que é melhor você tomar muito cuidado com a próxima coisa que vai sair da sua boca, Suguru. — Gojo murmura em um tom baixo e grave.

Os olhos de Geto se estreitam naquele olhar de raposa novamente, e ele vira o rosto, mas sabiamente não diz nada.

Ele também não pede desculpas. O estômago de Gojo dá voltas, e ele se sente mal de novo. Ele se lembra, não pela primeira vez, que Geto morreu muito antes daquele beco nojento.

Aquela missão maldita o matou. Às vezes, Gojo deseja terrivelmente que tivesse matado o corpo de Geto também, ao invés de apenas a moral dele.

— Eu vi a sua macaquinha quando ela morreu. A garota já seguiu em frente, Satoru.

— Já te mandei tomar cuidado com a língua... — Ele murmura, sem muita força nas palavras, enquanto seus ombros cedem sob o peso do mundo que ele carrega.

Os dois ficam em silêncio de novo. Sem o som da respiração, sem a brisa do vento, sem nenhum barulho. Apenas o vazio.

Conversas Póstumas (Satosugu)Onde histórias criam vida. Descubra agora