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Gerson - últimas semanas de casados

Confusão? Indecisão? Algum outro sentimento para o qual ninguém inventou nome? Tudo isso está embolado em mim há alguns dias, principalmente hoje que é dia 15 de março.

Cocei a nuca pela milésima vez hoje antes de chutar em direção ao gol no treinamento, mas a bola passou longe e muito acima da trave. Bruno me olhou sério e eu ignorei já correndo pro outro lado do campo.

- Negócio tá brabo viu? Uma semana que chove quase sem parar no Rio

Quando acabou o treino Pedro comentou enxugando o rosto e olhando pela janela do vestiário. Eles começaram a conversar entre si e eu vi Filipe Luís se aproximando de mim com um leve sorriso de canto.

- Tá acontecendo alguma coisa?

Forcei um sorriso enquanto calçava o tênis.

- Tá não - Ele ficou me olhando como se não acreditasse e eu ri fraco dizendo: Não vou te obedecer nem quando você era jogador, imagina agora que meu treinador

Quando abri o portão de casa mais ou menos uma hora e meia depois, Isabella desceu as escadas correndo e parou de repente no meio da sala, como se só então se desse conta que estava correndo até mim. Ela respirou fundo e sussurrou

- Que bom que você chegou

Ela colocou as mãos nos bolsos do moletom cinza que é a única coisa que veste.

- Sentiu saudade foi?

Joguei a chave do carro na mesinha de centro e a minha mala ali pela sala mesmo antes de me aproximar devagar. Isabella não respondeu, só mexeu o pescoço pra olhar pelo janelão a água caindo e escorrendo pelo vidro. Fiquei olhando pra ela e vi o momento exato que ela deu um pulinho quando um trovão estrondou, abri devagar um sorriso:

- Tem medo de chuva, Isabella?

Ela fez um bico e juntou as sobrancelhas formando uma cara de brava que eu acho linda, cruzou os braços e por pouco eu não vi a cor da calcinha dela.

- Claro que não

No segundo seguinte mais um trovão estrondou e um raio clareou a sala que já estava escura pela ausência de sol e de luzes ligadas. Isabella deu um novo pulinho e abraçou o próprio corpo, posso jurar que ela queria dar um grito porque um som baixo escapou da garganta. Dei uma risada alta e Me aproximei até ficar quase cara a cara com ela:

- Quem diria? A brabona cheia de pose tem medo de Agus caindo do céu

Isabella revirou os olhos e sussurrou um "babaca" antes de começar a explicar

- Você deve ter filado todas as aulas, por isso não sabe o quanto chuva é perigoso. É literalmente eletricidade e água juntos!

Estaelei a língua e neguei, sabendo o quanto ela se irrita com isso.

- Que nada, Isabella. Isso é só água e barulho

Ela me olhou como se quisesse me matar com aqueles olhos castanhos.

Isabella - ainda neste dia

Eu não sabia que tinha medo de chuva até estar sozinha em casa enquanto chovia.

Tentei continuar a guardar minhas coisas enquanto a chuva ainda desabava a casa, mas a cada relâmpago que clareava o quarto pela porta de vidro da minha varanda eu parava por uns cinco minutos com medo dele atingir alguma coisa aqui. Pra minha sorte eu já não tenho mais tanto o que arrumar aqui, a maioria das coisas já até está na casa dos meus pais.

Quando Gerson abriu a porta do quarto e se jogou na minha cama, devo admitir que foi reconfortante. Ele ficou sério olhando pras duas malas no chão e pra caixa onde estou guardando meus livros da faculdade como se pela primeira vez notasse que hoje é dia 15 e amanhã a essa hora seremos divorciados.

- Precisa...- Deu um pigarro como se procurasse voz.- De ajuda?

Neguei com a cabeça.

- Não, não tenho quase nada pra arrumar mais.

Ele engoliu seco e coçou a nuca, está nervoso e pensativo então. Deu uma risada fraquinha e disse:

- Nosso último jantar de casados não vai ser um Jantar por que não dá nem pra pedir comida, nenhum motoboy vai subir essa estrada na chuva

Suspirei fechando a caixa com fita adesiva e disse

- Vou fazer aquela carne que você gosta.

Gerson me olhou com os olhos atentos, talvez... admirados? Ele em seguida deu um sorrisinho fraco e disse baixinho:

- Obrigado, Bella

Dei de ombros e guardei as coisas que levo pra faculdade na bolsa da Gucci média. Foi pegar no material que eu lembrei que tenho que devolver meu tão amado e querido cartãozinho roxo sem limites.

- Quero dizer... Obrigado não só pelo jantar." - Virei a cabeça pra ele que parecia se embolar nas palavras. - Obrigado... Pelo ano. Foi um ano muito bom

Meus ombros relaxaram.

- Foi... Foi um ano muito bom sim, preto

Ele sorriu fraco e eu senti a porra de um nó se formando na minha garganta. Me virei de frente pra escrivaninha onde estudei durante esse ano quando ele disse:

- Eu não sei se um dia vou casar de novo, mas até agora a minha experiência com casamento foi ótima. Você... Foi uma esposa perfeita.

Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos forte antes de responder baixinho:

- Era a cláusula três do contrato, eu tinha que cumprir

Ouvi Gerson pisando no chão e me mexi pra olhá-lo se aproximar com as mãos dentro do moletom branco.

- Mas você mais que cumpriu. Eu... - Parou na minha frente olhando pra mim e ergueu a mão devagar pra colocar uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. - Enfim, foi um ótimo contrato. Não tenho nem o que falar de você.

Engoli seco e fechei os olhos quando senti os lábios dele beijando demoradamente a minha testa.

Me beija. Me peça pra ficar aqui.

- E aquela carne hein? Quem mandou você prometer? Vamo lá.

Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos forte antes de responder baixinho:

"Era a cláusula três do contrato, eu tinha que cumprir."

Ouvi Gabriel pisando no chão e me mexi pra olhá-lo se aproximar com as mãos dentro do moletom branco.

"Mas você mais que cumpriu. Eu..." - Parou na minha frente olhando pra mim e ergueu a mão devagar pra colocar uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. "Enfim, foi um ótimo contrato. Não tenho nem o que falar de você."

Engoli seco e fechei os olhos quando senti os lábios dele beijando demoradamente a minha testa.

Me beija. Me peça pra ficar aqui.

"E aquela carne hein? Quem mandou você prometer? Vamo lá."

Sorri fraco porque ele sorria e segui Gerson até a cozinha. O estrondo dos trovões da chuva não se comparava ao do meu coração.

𝙲𝚊𝚜𝚊𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘 𝙰𝚛𝚛𝚊𝚗𝚓𝚊𝚍𝚘 - 𝐺𝑒𝑟𝑠𝑜𝑛 𝑆𝑎𝑛𝑡𝑜𝑠 Onde histórias criam vida. Descubra agora