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Isabella- metade de março, dia do divórcio

A letra mais trêmula da minha vida com certeza foi a assinada na entrada do cartório. Nervosa, rodei a aliança no meu dedo exatamente como me acostumei a fazer nesse ano.

E não vou fazer mais.

- Vocês têm certeza disso

Não. Gerson respondeu

- Sim, onde a gente assina?

As canetas foram depositadas em cima das nossas vias do documento na mesa a nossa frente. Só peguei a minha quando vi pelo canto de olho que Gerson não só já assinava como já estava botando o pingo do i de Silva. Escrevi rapidamente meu nome pela segunda vez hoje tentando sair daqui o mais rápido possível.

Isabella Silvestre Khodor , não mais Isabella Silvestre Santos.

- Tudo certo então, eu vos declaro não mais marido e mulher.

O advogado de Gerson acompanhou o oficial na risada. Agradeci baixo por educação e coloquei minha via em cima da mesa já de pé pra ir embora, minha mãe pegou a nossa via do documento com o escrivão, provavelmente sabendo que o que eu mais quero agora é ir pro outro lado do Rio de Janeiro.

- Aqui a aliança - Tirei o anel prata com brilhante que estava no tamanho e formato exatos dos meus dedos e estendi pra Gerson que me olhava sentado na cadeira dele.

- É sua, Bella

Neguei com a cabeça e balancei a mão estendendo a aliança de novo.

- Eu não quero mais.

Gerson juntou as sobrancelhas grossas e bem feitas parecendo pronto pra retrucar quando minha mãe pegou da minha mão e colocou na mão de Geyse, que assistia ao divórcio como testemunha do irmão.

- Minha menina disse que não quer. Você não ouviu?

Ela me olhou com os cabelos castanhos tão lisos quanto os meus fazendo um movimento elegante e bonito por cima do ombro, fiz um gesto pra ela esperar e entreguei o cartão preto na mão de Geyse já que mais uma vez Gerson não se mexia pra receber.

Olhei pra ele uma última vez antes de sair da sala do cartório. Quando entrei no carro da minha mãe, ela disse

- Pode chorar, minha menina. Eu sei que você quer

Foi quando deixei a primeira lágrima descer.

Gerson - 4 dia depois do divórcio

A primeira coisa que Marília fez quando entrou na minha casa foi gritar

- Isabella! Isabella!!"

O sorriso no rosto dele só aumentava a cada degrau que ele subia, continuei parado perto da grande porta de madeira esperando ele voltar. Marília apareceu no topo da escada com as mãos apoiadas na bolsa

- Cadê ela?

- Porra!

Isabella - 4 dia depois do divórcio

- Errei cinco, puta que pariu."

Juliana fez um bico e arrumou os cachos de babylis , Murilo mostrou a prova dele e eles começaram a discutir sobre Patologia enquanto eu só olhava.Senti um balanço no banco de gesso e vi Gabriel sentar enquanto goleava uma cerveja.

- Em horário util?

- Toda hora é útil tomando umas, belinha

Ri fraco e finquei a unha no meu anelar esquerdo pra ver se paro com essa mania de circundar uma aliança que já não está aqui por causa do nervosismo. O movimento atraiu a atenção de Gabriel que se aproximou de mim pra sussurrar:

- Cadê...?

- Não quero falar sobre isso.

Ele assentiu devagar e deu um beijo na lateral da minha cabeça antes de mudar pra o assunto que tem deixado todo mundo doido: Murilo e Juliana amigos.

Você está recebendo uma chamada de Marília 🤍

Meu coração ficou igual uma bola de boliche. Marília pousou no Rio essa madrugada e deve estar animado e cheio de planos de ir lá pra casa. Quer dizer, pra casa do Gerson

- Oii  - Atendi num fio de voz.

- Onde cê tả? - Deu uma risada fraquinha. - Porque aqui onde eu jurei que ia ver a minha melhor amiga... Você não tá.

Fechei os olhos com força e fiz um bico.

- Tô na faculdade mas posso ir te ver.

- Vou pegar um carro aqui e te busco, qual é a faculdade?

Isabella - início de abril duas semanas após o divórcio 

Gre 🤎

Tō no errejota bb
Q hrs t vejo?

Você respondeu a Tô no errejota bb
U

m bom dia desses 🤤
Quando eu sair do treino passo pra te ver


Desci as escadas sorrindo e pulando de dois em dois degraus, mas recebi o olhar de desaprovação de Joana. Pela primeira vez na vida eu soube que isso não era preocupação porque eu posso cair, mas sim porque... bem, você sabe o porque.

"Seu Gerson, o paçoca não tá bem."

Juntei as sobrancelhas e olhei pra ela depois de beijar o topo da sua cabeça. Ela apontou pro vira lata caramelo deitado triste no Jardim

- Todo dia eu tento fazer ele comer e ele come pelo menos um pouco, mas hoje nem cheirou a ração. Joguei uns pedacinhos de carne e nada dele nem ir atrás de ver o que era.

Senti que ela queria falar alguma coisa mas não disse nada e eu também deixei quieto. Peguei a coleira e chamei paçoca pra vir passear pelo condomínio, mas o cachorro nem se mexeu.

- Vamo cara? Mijar naquele poste que tu gosta? Hein?

Perguntei fazendo aquela voz que todo mundo faz pra falar com animais ou bebês mas paçoca não se moveu de novo, nem mesmo quando fiz menção de fazer carinho na barriga dele. Olhei pra Joana que nos encarava de braços cruzados.

- A senhora sabe o que ele tem?

Ela suspirou e jogou um pano de prato no ombro ao dizer:

- O que ele tem, seu Gerson, é o que todo mundo nessa casa tem: saudade da Dona Isabella.

Engoli seco e olhei de novo pro cachorro que só de ouvir o nome de Isabella deu um choramingo. Joana se abaixou do meu lado e perguntou

- O que é que o senhor vai fazer sobre isso?

Dei de ombros.

- Não posso fazer nada.

Ela ergueu as sobrancelhas.

E vai deixar o paçoca morrer?

- Que morrer o quê, Joana. Ninguém aqui nessa casa vai morrer de saudade dela não. Daqui uns dias ele melhora.

Larguei a coleira e saí pro treino

Maratona 1/5

𝙲𝚊𝚜𝚊𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘 𝙰𝚛𝚛𝚊𝚗𝚓𝚊𝚍𝚘 - 𝐺𝑒𝑟𝑠𝑜𝑛 𝑆𝑎𝑛𝑡𝑜𝑠 Onde histórias criam vida. Descubra agora