Encontro na Terra do Nunca

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Os galhos das árvores pareciam se curvar e criar um caminho no exato momento em que Wendy, João e Miguel desciam flutuando com a ajuda do pozinho mágico. Eles mal haviam processado a surrealidade de voar antes que o chão se firmasse sob seus pés na floresta vibrante da Terra do Nunca. As folhas eram de um verde intenso, quase brilhante, e o ar carregava um cheiro de maresia e aventura.

- Estamos realmente aqui!- João exclamou, ajustando os óculos enquanto tentava conter a emoção. Miguel, de olhos arregalados, segurava com força seu ursinho, balançando a cabeça em um silêncio maravilhado.

Wendy, no entanto, estava alerta. Embora a beleza do lugar fosse inegável, algo naqueles olhos que os observavam das sombras a deixava desconfiada.

Foi então que, com um farfalhar rápido de folhas, um grupo de meninos emergiu de trás das árvores. Eles estavam sujos de terra, mas suas expressões eram brilhantes de entusiasmo.

Os meninos perdidos se amontoaram ao redor de Peter, sussurrando entre si e olhando para Wendy e seus irmãos com curiosidade. Cada um deles parecia competir para ser o mais atrevido e confiante, mas foi um menino ruivo com olhos de um azul profundo que chamou a atenção de Wendy. Ele mantinha uma postura ligeiramente mais reservada, mas seus olhos mostravam algo além da simples travessura.

- Eu sou Nibs- disse um dos meninos, quebrando o silêncio com um sorriso travesso. - E esses são Slightly, Tootles, Curly...-Cada um dos meninos se apresentou com orgulho e energia.

Por fim, o ruivo de olhos brilhantes se adiantou, seu olhar enigmático fixo em Wendy.

- Eu sou Lou-disse ele, sua voz calma, mas com uma firmeza que se destacava entre os outros.

Wendy o observou por um momento, sentindo algo estranho naquele garoto. - Você é o mais quieto de todos- comentou, tentando decifrá-lo.

Lou apenas sorriu de lado, sem responder diretamente, e Peter lançou um olhar rápido para ele, como se compartilhassem um segredo silencioso.

- Vamos, temos muita coisa para mostrar!- exclamou Peter, já avançando pela floresta. - A Terra do Nunca está cheia de aventuras, e vocês ainda não viram nada!

Os meninos perdidos começaram a correr e rir, puxando João e Miguel com eles, deixando Wendy para trás, ainda observando Lou com uma mistura de curiosidade e desconfiança.

Depois de passarem algumas horas explorando a Terra do Nunca, Wendy sentia uma leve tranquilidade. João e Miguel brincavam com os meninos perdidos, rindo enquanto corriam pela floresta. Wendy sentia que, por um momento, poderia confiar nesse lugar, mas aquela sensação de que algo não estava certo nunca a abandonara completamente.

Enquanto observava, sentada perto de um lago cristalino, um grito ecoou pela floresta. Wendy se levantou de imediato, o coração disparando. -João? Miguel? chamou, mas não houve resposta.

Peter veio correndo, os olhos arregalados. "Piratas!" ele gritou, os outros meninos perdidos logo atrás dele, todos em alerta.

- Eles pegaram João e Miguel,- Wendy sussurrou, com o pânico crescendo dentro de si.

- E não só eles.- disse Lou, com a voz tensa. - Eles levaram também a princesa da tribo dos índios, a filha do chefe. Devem estar planejando usá-la como refém.

Wendy fechou os punhos, lutando para manter a calma. - Para onde os levaram?

Peter estreitou os olhos, a expressão sombria. - Para a Ilha do Homem Morto. É onde o Capitão Gancho se esconde com o pior de seus homens.

- Temos que ir atrás deles- disse Wendy, sem hesitação.

Lou, que estava observando Wendy de perto, assentiu. - Vamos, mas precisamos ser rápidos.

A travessia até a Ilha do Homem Morto foi silenciosa e cheia de tensão. O barco em que navegavam parecia se arrastar nas águas escuras e densas, enquanto a ilha se aproximava, sinistra. Wendy mal conseguia conter a ansiedade. O medo por seus irmãos e a preocupação com a princesa eram sufocantes.

- Chegamos- murmurou Peter, com um tom baixo, enquanto apontava para a costa rochosa da ilha.

- Os piratas não sabem que estamos vindo- disse Lou, os olhos azuis brilhando de determinação. -Podemos pegar eles de surpresa.

A noite já caíra quando Wendy, Peter, Lou e os meninos perdidos se aproximaram do esconderijo dos piratas na Ilha do Homem Morto. De onde estavam, podiam ver João e Miguel amarrados a um mastro, e a princesa da tribo dos índios, presa em uma gaiola de ferro ao lado deles. Gancho e seus piratas riam em volta de uma fogueira, sem suspeitar do que estava por vir.

- Temos que agir rápido- sussurrou Lou, seus olhos fixos nos irmãos de Wendy. Peter assentiu, já com sua faca na mão.

Com movimentos ágeis e silenciosos, os meninos perdidos começaram a cercar o acampamento dos piratas. Wendy, Peter e Lou se moveram juntos, com os corações acelerados. A missão era clara: resgatar os prisioneiros antes que Gancho pudesse reagir.

Quando estavam perto o suficiente, Peter deu o sinal, e os meninos perdidos avançaram. Wendy, Lou e Peter correram direto para onde João, Miguel e a princesa estavam.

Lou cortou rapidamente as cordas que prendiam João e Miguel, enquanto Peter destrancava a gaiola da princesa. - Vamos, rápido!- Wendy disse, puxando seus irmãos para longe.

Mas antes que pudessem escapar, a risada grave de Gancho ecoou pelo acampamento. Ele saiu das sombras, espada em punho, os olhos brilhando de malícia.

- Ah, Peter Pan- ele disse, com um sorriso cruel. - Achei que você viria.

Lou se posicionou à frente de Wendy, sacando sua própria faca, pronto para a luta. - Leve-os daqui, Wendy!- ele gritou. - Nós seguramos Gancho!

Com o coração apertado, Wendy puxou João, Miguel e a princesa para longe, correndo o mais rápido que podia pela escuridão. Atrás dela, o som de espadas ecoava enquanto Peter e Lou enfrentavam Gancho e seus piratas.

A batalha foi feroz, mas Peter e Lou, com sua habilidade e coragem, conseguiram manter Gancho ocupado o suficiente para que Wendy e os outros escapassem. Os piratas, desorganizados pela surpresa, não conseguiram impedir a fuga.

De volta à segurança do acampamento, depois do resgate bem-sucedido, Wendy caminhava pela floresta enquanto seus irmãos descansavam ao redor de uma fogueira com os meninos perdidos. A adrenalina ainda corria em suas veias, mas a sensação de alívio finalmente começava a surgir.

Lou estava sentado em um tronco de árvore, os olhos perdidos nas estrelas. Seus cachos ruivos brilhavam à luz da lua, e havia uma expressão de calma em seu rosto.

Wendy se aproximou, sentando-se ao lado dele em silêncio. Depois de um momento, ela disse: - Obrigada, Lou. Por salvar meus irmãos... e a princesa.

Lou deu um sorriso suave, mas havia algo em seu olhar que parecia distante. - Foi o certo a fazer- ele respondeu calmamente.

Wendy o observou por um momento. - Sabe... você parece diferente dos outros meninos perdidos. Como se carregasse algo mais... algo que eu não consigo entender.

Lou virou o rosto para Wendy, seus olhos azuis brilhando com um mistério que a intrigava. "A Terra do Nunca é cheia de segredos, Wendy. E eu... talvez tenha alguns também." Ele fez uma pausa, olhando de volta para as estrelas. - Mas os segredos mais importantes... esses, você precisa descobrir por conta própria.

Wendy franziu o cenho, sentindo uma mistura de curiosidade e frustração. -Mas por quê? Você não pode simplesmente me contar?

Lou balançou a cabeça, sorrindo de lado. - Não é assim que as coisas funcionam aqui. A Terra do Nunca tem suas próprias regras. E parte de viver nesse lugar é descobrir essas regras sozinha.

Wendy sentiu um leve arrepio, mas não de medo. Havia algo verdadeiro nas palavras de Lou, algo que ela ainda não compreendia, mas que fazia sentido em um nível mais profundo.

- Você vai descobrir, Wendy- disse Lou, levantando-se e estendendo a mão para ela. "Mas, até lá, temos muitas aventuras pela frente."

Wendy pegou a mão de Lou, sorrindo, ainda sentindo que havia muito mais para entender - sobre Lou, sobre a Terra do Nunca, e sobre si mesma.

Neverland: O menino e o segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora