No começo, tudo era apenas um sussurro suave, a voz de uma mulher, doce como o vento tocando as folhas. Logo depois, uma risada ecoou, profunda e leve, a voz de um homem. Mas o que começou como uma melodia tranquila logo se quebrou, dando lugar a gritos de fúria, misturados com um novo som - um grito de medo.
Era uma voz pequena, de uma menina. Ela chorava, o desespero nítido em cada palavra enquanto chamava pelos pais. "Mamãe? Papai?" A voz parecia se afastar, envolta em pânico, e o som dos passos dela ecoava junto, como se estivesse correndo, fugindo. O desespero infantil se misturava com os gritos raivosos da mulher e do homem, até que o caos se dissolveu em um silêncio assustador.
Lou abriu os olhos, o peito arfando, sentindo o sonho pairar sobre ele como uma sombra. Ainda envolta pelo medo e pela tristeza que vinham de um lugar profundo, desconhecido, ele se levantou e saiu de seu palácio subterrâneo, seguindo o caminho até a praia.
A noite estava quieta na Terra do Nunca, as estrelas brilhando, a areia fria sob seus pés descalços. Lou caminhou até a beira do mar e, finalmente, se sentou. Abraçou os joelhos, apoiando a testa sobre eles, enquanto as memórias vagas daquele sonho e de uma dor antiga a invadiam.
Ali, com o som suave das ondas ao seu redor, Lou começou a chorar. As lágrimas escorriam pelo rosto, quentes e tristes, como as de uma criança perdida. Em seu peito, o medo ecoava junto com os gritos que ainda pareciam flutuar no ar. Naquele instante, ela estava sozinha, sem disfarces, entregue às feridas invisíveis que carregava em silêncio.
Peter estava deitado em seu quarto na Árvore do Nunca, perdido entre os galhos e folhas que o cercavam, quando ouviu um som suave, quase imperceptível, de passos se afastando pela noite. Ele se levantou, curioso, e olhou pela entrada do seu esconderijo. No escuro, viu uma silhueta ruiva e familiar caminhando na direção da praia.
Intrigado, Peter seguiu Lou, movendo-se silenciosamente. Ele chegou à praia e a viu sentada na areia, com os joelhos abraçados e o rosto escondido, os ombros tremendo de leve. Aproximou-se devagar, sem querer assustá-la. Quando Lou finalmente levantou o rosto, os olhares dos dois se encontraram, e, naquele instante, ele viu a tristeza nos olhos dela, uma dor que ele não entendia completamente, mas que o tocou como um espinho no peito.
Sem dizer uma palavra, Peter correu até ela e se ajoelhou na areia. Ele a puxou para seus braços, envolvendo-a em um abraço apertado. Lou, logo cedeu, abraçando-o de volta com força, como se tivesse medo de soltá-lo e se perder novamente. Ela chorou em seu ombro, as lágrimas silenciosas que havia guardado por tanto tempo agora fluindo livremente, enquanto ele afagava seu cabelo suavemente, em um gesto de consolo e carinho que ele raramente mostrava.
Por alguns minutos, os dois ficaram assim, perdidos um no outro, em silêncio. Não havia palavras certas, apenas a presença mútua, uma promessa silenciosa de que, enquanto estivessem juntos, a solidão e o medo seriam mais fáceis de suportar.
A manhã chegou tranquila na Terra do Nunca. Os primeiros raios de sol filtravam-se entre as folhas do esconderijo dos meninos perdidos, iluminando suavemente o lugar. Wendy foi a primeira a se levantar, espreguiçando-se e deixando o sono para trás. Ao olhar ao redor, notou que Peter não estava entre os que ainda dormiam. Curiosa, decidiu ir até o quarto dele.
Quando Wendy começou a caminhar na direção do quarto de Peter, um dos meninos perdidos se colocou em seu caminho, logo seguido pelos outros. Eles se entreolharam, parecendo hesitar.
- Não pode entrar aí - disse um deles, cruzando os braços.
Wendy franziu a testa, surpresa.
- E por que não? Só quero ver como ele está.
- Porque o quarto do Peter é como... um santuário sagrado - explicou outro menino, com um ar meio solene. - Ninguém entra sem a permissão dele.
Wendy estreitou os olhos, desconfiada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Neverland: O menino e o segredo
FanfictionEla o contou histórias... Ele a ensinou a voar... Mas o beijo escondido no canto direito dos lábios rosados da linda garota não pertenciam a Peter Pan, o garoto que nunca cresce. Peter Pan já sabia que o beijo não pertencia a ele, ele só era imaturo...