O sol começava a se esconder atrás dos prédios altos da cidade, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Jennie estava no quarto, sentada na beirada da cama, onde uma leve brisa de final de tarde soprava pela janela entreaberta. O espaço era um reflexo de sua vida: prateleiras com livros de música, fotos com amigos, uma guitarra encostada no canto e um mural de inspirações cheio de post-its com trechos de letras que ainda não tinham ganhado uma melodia.
Desde pequena, Jennie havia se encontrado na música. Sua mãe, uma amante de canções clássicas e uma presença constante em seus recitais, sempre a incentivou a seguir essa paixão. O apoio incondicional da mãe era uma força que Jennie nunca tomava por garantido. Mesmo nos dias em que as notas não soavam bem ou quando as palavras pareciam não se encaixar, ela sabia que tinha alguém em casa acreditando no seu talento.
Já era quase sete da noite. A rotina de tarefas da faculdade precisava ser finalizada, mas a melodia na cabeça de Jennie não queria se calar. Colocou os fones de ouvido, fechou os olhos e deixou que a música que vinha trabalhando fluísse livremente em sua mente, na esperança de que um verso novo surgisse.
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Na manhã seguinte, Jennie acordou com o som insistente do despertador. Era segunda-feira, o início de mais uma semana de aulas e preparativos para o show de talentos. Ela se arrumou rapidamente, pegou a mochila e saiu de casa. O céu estava claro, e o ar fresco parecia revigorante.
Ao chegar ao campus, avistou Rosé ao longe, com o cabelo preso em um coque desarrumado e segurando um copo de café quente. A amiga estava encostada na árvore de sempre, onde costumavam se encontrar. Ao ver Jennie, Rosé acenou com um sorriso.
- Bom dia, compositora em crise! - disse Rosé, entregando um café extra para Jennie. - Conseguiu avançar na letra ontem?
Jennie fez uma careta enquanto pegava o café.
- Mais ou menos. Tive algumas ideias, mas nada que me deixasse satisfeita de verdade. Talvez eu precise de uma inspiração nova... ou de uma boa dose de sorte.
Rosé riu, começando a andar ao lado de Jennie.
- Sei que o show de talentos está te deixando nervosa, mas você sempre dá um jeito de surpreender. Lembra daquele festival no ano passado? Todo mundo ficou encantado.
Jennie deu de ombros, um sorriso tímido surgindo.
- Aquilo foi diferente. Eu já conhecia a música muito bem. Agora estou tentando fazer algo do zero... é como se eu precisasse descobrir uma parte de mim que ainda não conheço.
Rosé deu um tapinha no ombro dela.
- Acho que essa é a beleza de criar. Você está crescendo como artista, e isso envolve se desafiar. Quem sabe o show não seja a oportunidade perfeita para você se encontrar?
Jennie olhou para a amiga, sentindo a mistura familiar de nervosismo e empolgação.
- Talvez você esteja certa. E se eu for me encontrar, que seja em grande estilo.
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Jennie caminhava pelos corredores movimentados da faculdade, aproveitando a leveza do dia. As aulas seguiam o mesmo ritmo de sempre, cheias de trabalhos e tarefas para completar, mas ela se sentia surpreendentemente calma. O show de talentos estava se aproximando, e embora fosse um desafio, ela encarava mais como uma chance de mostrar o que amava fazer.
No intervalo, sentou-se na mesa de sempre com Rose e Chaeyoung, que estavam discutindo o ensaio da banda.
- E aí, Jennie, já decidiu o que vai tocar? - perguntou Rose, curiosa.
- Ainda estou entre duas músicas, mas acho que vou acabar escolhendo no ensaio de hoje - Jennie respondeu, dando um sorriso.
- Com você no palco, vai ser incrível, seja qual for a escolha - Rose disse com convicção.
- E não se preocupa demais com isso - acrescentou Chaeyoung, apoiando-se na mesa. - A gente vai curtir e dar o nosso melhor. No final, é só mais uma oportunidade para nos divertirmos fazendo o que gostamos.
Jennie assentiu, sentindo o ânimo crescer. As palavras das amigas sempre ajudavam a deixar qualquer preocupação de lado.
Quando a última aula terminou, ela foi para o estúdio de música, já animada para o ensaio.
A música ressoava no estúdio, um fluxo constante de notas que se entrelaçavam, mas Jennie não conseguia acompanhar. Sentada em um canto, ela observava Rose ensaiar com uma energia contagiante. As luzes brilhavam sobre elas, mas dentro de Jennie, havia uma fadiga crescente. O desejo de se perder nas melodias era forte, mas o cansaço acumulado a impedia de se entregar totalmente.
Ela se levantou, sentindo que cada passo a afastava da energia vibrante que a rodeava. As vozes ao redor tornaram-se um ruído distante, e, de repente, a decisão se cristalizou em sua mente: ela precisava de um tempo.
Com um suspiro pesado, Jennie se afastou do grupo e, sem olhar para trás, saiu do estúdio. O ar fresco da noite a envolveu assim que cruzou a porta. A cidade estava viva, as luzes piscando e os sons das pessoas e dos carros criando uma sinfonia de movimento. Mas, em vez de se sentir animada, ela só queria voltar para casa.
No caminho, decidiu parar no mercado. A luz fluorescente iluminava os corredores, e o cheiro familiar de produtos frescos a acolheu. Enquanto caminhava, pegou alguns itens aleatórios. Coisas simples que traziam um conforto momentâneo. O ato de escolher e colocar os itens no carrinho parecia uma forma de controle em meio ao turbilhão de emoções que a cercava.
Ao pagar, a atendente sorriu, mas Jennie mal retribuiu. Sua mente estava longe, refletindo sobre o ensaio que decidira interromper. O que havia mudado? O que poderia fazer para recobrar a paixão que um dia a impulsionara? Ao sair do mercado, um vento suave balançou seus cabelos, e ela sentiu um leve arrepio na pele, como se a cidade estivesse chamando por ela.
Caminhando de volta para seu apartamento, as luzes da rua refletiam nas poças de água que se formaram após a chuva do dia. Cada passo a aproximava de um espaço que, por ora, se sentia como um refúgio. Ao abrir a porta, Jennie deixou os itens do mercado sobre a mesa e caminhou até a janela. O cenário noturno era ao mesmo tempo familiar e distante, e ela se pegou perdida em suas próprios pensamentos.
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Apt. 03
Fiksi PenggemarNa agitação da vida universitária, Jennie se dedica à sua verdadeira paixão: a música. Enquanto navega pelos desafios acadêmicos e pela busca de sua identidade, ela encontra conforto e inspiração em seu apartamento , onde cria melodias que refletem...