Lembro-me muito bem, no ano de 2020, um dos temas que mais sondava as minhas consultas com a psicóloga era o medo da estagnação. De me sentir presa no mesmo lugar por muitos anos.
Em 2020, eu tinha 18 anos. Hoje, tenho 22 e ainda sinto essa sensação não só me assombrando, mas é como se ela me observasse do batente da porta da minha própria mente, durante todas as vezes que eu penso sobre o meu lugar no mundo, essa sensação me acompanha.
Além disso, sinto que com o passar dos anos, eu me perdi um pouco. Ou melhor dizendo, me perdi quase que totalmente de mim mesma. É como se eu tivesse passado por um quadro de amnésia seletiva e a única coisa que restou de mim foram poucos fragmentos daquilo que eu gostava de fazer quando era adolescente. É como um quebra-cabeça que eu tento muitas vezes encaixar as peças, removo algumas, encaixo outras mas sempre falta alguma, é aquela última peça que falta para completar o quebra-cabeça.
E todas as vezes em que eu buscava - e ainda busco - entender o meu lugar nesse mundo e o papel transformador que eu gostaria de desempenhar na vida das pessoas, duas coisas aconteciam: a primeira delas é que eu nunca terminava as coisas que eu me propunha a fazer profissionalmente. No último ano do ensino médio, eu acreditava piamente que me tornaria historiadora porque sempre amei todos os meus professores e aulas de história, a forma como aquele conteúdo alterava a minha percepção do mundo e me fazia enxergar as coisas com outros olhos.
Em 2020, passei na faculdade de História e a larguei no ano seguinte. Ainda não era aquilo, apesar de eu gostar, ainda faltava algo. No ano de 2021, eu decidi que talvez seria interessante eu me profissionalizar na Fotografia, com ela, eu contaria histórias, só que com uma câmera. Então, eu trabalhei em um emprego que detestava, juntei o máximo de grana possível para conseguir comprar os meus equipamentos, a câmera, tripé, lentes e em seguida, montei meu portfólio, fiz alguns clientes, mas nada que fosse recorrente. Para tentar melhorar a recorrência com clientes, entendi que precisava entender mais sobre marketing, e a partir disso, pensei: por que não prestar um vestibular para publicidade e propaganda?. Durante a graduação - que ainda estou fazendo enquanto escrevo este capítulo - eu realmente me identifiquei com a disciplina de marketing e comportamento do consumidor. É fascinante compreender o comportamento das pessoas, traçar estratégias. É realmente fascinante. Porém, no meio dessa trajetória, a fotografia foi deixando parcialmente de fazer sentido. E novamente, por mais que eu gostasse, ainda me faltava algo, ainda não me sentia realizada, ainda não era aquilo. E sendo bem honesta, marketing e comportamento do consumidor também está. Não sei se eu quero ficar horas afinco do meu dia, diante de um computador, trabalhando para uma empresa. Eu quero algo a mais.
Eu queria algo a mais, algo que de fato impactasse a vida das pessoas e a forma como elas se relacionam com elas mesmas e com seu mundo particular. Quando eu entrei para história, eu achava que a história me proporcionaria transformar a visão das pessoas da mesma forma que ela transformou a minha, mas só a história não foi o suficiente, assim como a fotografia e a publicidade também não foram.
A segunda coisa que sempre acontecia, tem relação com o que acabei de descrever. Depois de todas as minhas falhas tentativas de encontrar o meu lugar nesse mundo, eu sempre voltava para cá. Para o Wattpad. Rever alguns comentários das histórias que escrevia, por mais que elas tivessem um conteúdo muito infantilizado, voltado para o público adolescente - e na época eu também era uma, apenas 12 aninhos - eu gostava de saber que conseguia deixar o dia de alguém mais leve. Eu gostava disso. Eu gosto disso, desse senso de comunidade voltado para um bem comum, da autorreflexão, auto questionamentos, que nos apontam para aquilo que a gente acredita ser a nossa melhor versão, de apreciar as pequenas coisas da vida.
Pois então agora quero tentar esse caminho, que é sobre refletir aquilo que me falta e ajudar outras pessoas a refletirem sobre aquilo que nelas faltam também.
PARA REFLETIR:
Abra uma aba no google docs e digite as seguintes pergunta e se debruce sobre elas durante o tempo que for necessário e escreva o que vier na sua mente. Ao longo desse livro encontraremos as respostas juntos.
O que é aquilo que te falta? Quais eram as coisas que você amava fazer quando era criança/adolescente? E como tudo isso parece ter se perdido num grande quebra-cabeças?
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O AGRIDOCE - sabor dos vinte e poucos anos
ContoO Agridoce sabor dos vinte e poucos anos reúne uma coletânea de crônicas que relatam o amargor e a doçura deste momento da vida que por ora, você sente a pessoa mais foda do mundo, o ser mais implacável que já pisou na terra podendo ter tudo aquilo...