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Afasto a lâmina do seu pescoço e observo um suspiro de alívio escapar dele. Firmo-me no encosto da cadeira, giro-a de maneira abrupta, soltando-o das cordas, enquanto retiro meu fuzil da bandoleira, uma AK-107, com meu apelido gravado em vermelho. Com destreza, posiciono a arma contra seu peito, indicando com o queixo que ele se levante, e assim ele faz.

— Abre a porta — ordeno, observando um garoto próximo à entrada pressionar a maçaneta, permitindo a passagem. Aponto com o queixo para outro garoto me seguir e o que abriu a porta também vem ao meu lado, apontando seu fuzil para ele enquanto guardo o meu de volta na bandoleira.

— Aonde vamos, chefe? — ele pergunta, mantendo o olhar fixo no Lobo.

— Pracinha — Respondo de forma direta e, após pegar um atalho, chegamos à pracinha, que era o coração do morro. Diversas esquinas levavam até ela, o que significava que havia muitos vapores controlando cada ponto daquela área. — Mande trazer a madeira — Ordeno de maneira brusca, e ele arregala os olhos, negando enquanto balbucia um pedido de desculpas.

Reviro os olhos, impaciente com sua lamentação incessante, e destravo o fuzil, mirando com precisão sua testa através da luneta, o que o faz calar-se instantaneamente. Suspiro enquanto vejo o menor se aproximar com a madeira.

— É para molhar — Ordeno, e ele acena com a cabeça, abrindo a torneira. Ele gira a madeira enquanto a água corrente escorre por ela. Quando ele retorna me entregando a madeira, um sorriso sádico surge no meu rosto, enquanto seguro a madeira molhada e sinto alguns respingos de água na minha roupa.

Ajusto a mão, sentido o peso da madeira, e desferi vários golpes enquanto observava as farpas se cravarem em sua pele, causando diversos ferimentos, levando-o a gemer e implorar para que eu parasse.

— Só vou parar quando essa porra aqui quebrar, caralho — aumento a força, notando-o arquear a coluna para trás. Sua blusa, completamente rasgada e ensanguentada, o rosto coberto de arranhões enquanto se contorce de dor na posição fetal, tentando proteger a cabeça.

Após diversos impactos, a madeira já estava ressecando e se parte quando desferi o último golpe com mais vigor. Espalho gasolina por todo o seu corpo e, por fim, aqueço parte da lâmina do canivete e corto sua garganta com cautela, observando-o se engasgar com o próprio sangue.

— Leva ele para os fundos do morro — Assim que chegamos ao local, um menor me passa uma caixa de fósforos. Retiro um palitinho da caixa, risco-o contra a lateral e vejo a chama se acender, queimando-o ali mesmo. — A ordem é ficar aqui até que tudo vire cinzas e limpar a área — comando, dando meia volta e avistando minha equipe pronta perto do meu carro. Aproximo-me deles e Hades me lança as chaves do veículo.

Entro no carro, giro a chave na ignição e sigo em direção à minha casa. Ao chegar, abro a porta e vou diretamente para o banheiro do meu quarto, despindo-me e deixando as roupas em um canto. Observando manchas de sangue na minha camisa, anoto mentalmente que preciso colocá-la para lavar.

Ligo o chuveiro e aproveito o jato de água fria que vai refrescando meu corpo. Inclino a cabeça para sentir a água escorrendo e, em seguida, pego um shampoo, aplicando nos cabelos. Após um banho prolongado para eliminar qualquer vestígio do cheiro de sangue, pego a máquina de barbear para aparar o cabelo e diminuir a barba. Depois, uso uma gilete que está na prateleira do espelho para definir o contorno da barba. Por fim, saio do banheiro com uma toalha branca jogada sobre os ombros e outra, enrolada na cintura, E após um samba calção, colapsei na cama, completamente exausto.

Pego o meu iPhone branco que está na mesinha de vidro e noto uma notificação do aplicativo de rastreamento. A mensagem alerta que a pretinha saiu do prédio há menos de um minuto. Assim que a deixei no apartamento, pedi ao hacker que encontrasse um jeito de rastreá-la em tempo real, e ele conseguiu, me passando o aplicativo para rastreá-la.

Abro o aplicativo e acompanho o trajeto dela pela pista, acesso a parte das câmeras e a vejo tirando o celular da bolsa. Na tela do celular, observo o cara que deu um selinho nela durante a resenha, todo sorridente. Minha tensão aumenta, cerro os punhos e travo o maxilar, sentindo o ódio correndo pelas minhas veias ao me imaginar arrancando cada um dos dentes dele e as mãos que tiveram a audácia de tocar a pretinha. 

Levanto-me rapidamente e começo a me vestir. Dou uma olhada rápida no WhatsApp e no Instagram, e percebo que ela não me adicionou ou aceitou no Instagram. Um riso anasalado escapa de mim, percebendo o jogo de gato e rato que ela está querendo. Tô ligado que a pretinha não deve estar acostumada com alguém envolvido, por isso, andei agindo na cautela esperando o tempo dela, mas a partir do momento que bati o olho nela no dia da resenha, quando decidi que ela seria minha, não tem vagabundo nesse Rio que me tire essa ideia da cabeça.

Coloquei uma blusa branca com o logo da Lacoste no peito, uma calça bege e um relógio de ouro no pulso. Borrifei perfume, sentindo as notas na minha pele, e ajustei a Glock 9mm na bermuda, puxando a blusa para cobrir a arma. Peguei as chaves do carro e desci rápido para a garagem. Apertei o botão do controle e assisti o portão abrir, enquanto programava o local onde a menina estava. Entrei no carro, coloquei o celular no suporte e saí em alta velocidade pela favela.

Minhas mãos seguravam o volante com firmeza, pisei no acelerador, vendo o Hades através do retrovisor esquerdo, enquanto passava a língua pelos lábios, Observando pela minha visão periférica, tudo se transforma em um emaranhado de luzes enquanto o velocímetro se acelera no painel. Paro do outro lado da rua, contemplando a entrada da churrascaria, repleta de pessoas acomodadas na calçada, mas não consigo ver a pretinha. Passo a mão pelo rosto, tentando me conter para não fazer besteira, pressiono a maçaneta e empurro a porta, colocando o pé esquerdo na calçada antes de fechar a porta e arrumar a camisa.

Atravesso a rua, adentrando o estacionamento e logo avisto a pretinha. Vejo também a Gabriela e aquele playboyzinho medíocre, jogando papinho pro lado da pretinha enquanto segura sua mão, como se fossem casal, ridículo pra caralho. Meu sangue ferve, mas a pretinha me chama atenção mesmo que já tenha visto a roupa dela, mas ela estava ainda mais gostosa pessoalmente, me posiciono ao seu lado, capturando sua atenção. Ela vira o rosto com um sorriso, mas seu sorriso se desvanece ao me notar, seus olhos refletindo nervosismo e medo.

— E aí, boa noite, preta — digo com um sorriso sarcástico no rosto e as mãos enfiadas nos bolsos. — Será que posso me sentar aqui? — indago, fixando meu olhar nos seus olhos cor de chocolate receosos. Intercalo meu olhar entre seus olhos e seus lábios carnudos cobertos de gloss, quase me fazendo perder o pouco de controle que ainda possuo. Neste instante, o único bagulho que quero é descobrir se o gostinho dessa boquinha toda pequeninha e carnudinha é tão gostosa quanto o cheiro do seu perfume cítrico.


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