Bato a caneta no balcão no ritmo do tic-tac do relógio, envolvida pelo tédio.
Três anos trabalhando no mesmo lugar, em uma rotina exatamente igual. Mesmo que todos os dias tenham clientes diferentes, mesmo que alguns dias sejam mais turbulentos, ainda é tudo igual. Me sinto presa em um limbo.
Até mesmo a sensação que queima sobre a minha pele de estar sendo observada o tempo inteiro. Eu não me sentia assim até a noite em que o Victor morreu. O assassino nunca foi localizado, mas ao menos não fui acusada de nada. De qualquer forma, eu era a vítima ali.
Uma parte de mim acredita que estou enlouquecendo e insiste que eu deveria procurar ajuda. Mas a única ajuda que seria útil seria um detetive para descobrir quem me persegue. Eu sei distinguir o que é real do que não é.
— Dakota! — a caneta escapa dos meus dedos à medida que a voz chega até a minha consciência — Que mundo é esse que você está? Estou conversando com você há minutos.
— Não te escutei — Sorrio timidamente — O que está fazendo aqui?
— Vamos para uma festa — Diana anuncia.
— Não estou no clima de ir para uma festa — nego, e ela revira os olhos — não adianta tentar argumentar, estou cansada.
— Justamente, uma festa vai te ajudar a relaxar, você precisa beber e transar.
Levanto meus olhos para encarar a minha amiga, minha única amiga. Diana tem o cabelo preso em um coque mal feito, e está usando um vestido que vai até os joelhos. Ela não trabalha e sempre vem me visitar quando pode. Ela tem uma pessoa que a banca, e paga por seus estudos. Até tentou me convencer a fazer o mesmo, mas eu não poderia.
Nenhum homem se interessa por mim, eles simplesmente somem quando começamos a conversar, não consigo ir além de alguns beijos em festas, é cansativo.
— E essa festa é em algum lugar que ninguém me conheça? Você sabe do que me chamam — reclamo. A porta é aberta por um cliente e no mesmo instante arrumo minha postura para atendê-lo — Eu não vou.
A deixo para ir até mesa do cliente com um cardápio em mãos. Me sinto cansada até para prestar atenção nele, apenas anoto e retorno ao meu lugar para preparar e servir. Sou praticamente uma faz tudo nesse lugar, mas não posso reclamar, pelo menos consigo pagar as minhas contas com alguma dignidade.
— É um absurdo que você pare sua vida por causa de um apelido como aquele, é loucura dar ouvido para essas pessoas, Dakota, porra! — a irritação em sua voz é perceptível — Victor não foi sua culpa.
— Eu sei que não, ele mereceu o que aconteceu — sussurro — mas não foi só ele, você sabe disso.
— Jared caiu da escada na casa da Amber enquanto buscava camisinhas, um acidente — Ela argumenta e eu a encaro com a sobrancelha arqueada — Ben estava bêbado quando caiu no lago, e Art... eu não lembro o que aconteceu com ele.
— Não estava bêbado, não caiu de escada, ele me deixou sozinha, dizendo que voltava em cinco minutos para irmos para a casa dele e foi encontrado no banheiro da festa, morto. — a lembro.
— Ele escorregou no piso molhado — recorda.
— Não importa, depois disso todo mundo começou a me chamar de viúva negra — reviro os olhos — já volto.
Deixo o pedido para o cliente com um sorriso falso e volto para o balcão. Sei que sou uma mulher bonita, meu cabelo vai até a cintura, e meus olhos são tão escuros quantos os fios, minha boca é bem desenhada, como uma maçã, meu corpo é magro, curvilíneo, mas essa fama de que qualquer um que se interesse por mim sofrerá algo horrível acabou com as minhas chances de viver um romance.
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Impudico
RomanceSinopse: Dakota Gordon é uma mulher resiliente, que não abaixa a cabeça e vive com uma sombra em suas costas. Um stalker que a persegue por anos. Cercada de mistérios, pessoas sem escrúpulos e os perigos do submundo, Dakota encontrará o amor na ob...