Capítulo 3

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O Laço que Queima

Ruby não conseguia afastar a sensação de estar presa em um pesadelo. O céu de Geminis brilhava com uma luz que parecia errada — não era o azul familiar da Terra, mas algo mais distante, com tons lilases e prateados. Tudo ali a assustava e intrigava ao mesmo tempo. Dracon caminhava à sua frente, seus passos pesados mas silenciosos, enquanto a guiava por uma trilha em meio à floresta estranha. Ele parecia estar em conflito, a mandíbula rígida e os olhos sempre atentos, como se algo o estivesse perturbando.

Ela não sabia o que fazer. Tinha sido arrastada para um mundo que não entendia, jogada no caminho de um homem—não, um dragão—que a fazia sentir coisas que ela não sabia nomear. O desejo queimava em sua pele sempre que ele estava por perto, e aquilo a aterrorizava. Como poderia estar se sentindo atraída por ele? Um estranho tão diferente de tudo o que ela já conhecera?

"Estamos quase lá," disse Dracon, a voz baixa e cortante, mas não havia nenhuma suavidade nela. Ele parecia estar lutando consigo mesmo, e Ruby não conseguia entender por que ele agia assim.

Ela observou as escamas que cobriam seus braços, brilhando à luz que atravessava a densa folhagem. Eram belas e terríveis, e cada vez que seus olhos encontravam aquelas escamas, seu coração acelerava. Uma pergunta não a deixava em paz.

"Você é realmente um... dragão?" A voz dela soou mais alta do que o esperado, quebrando o silêncio da floresta alienígena.

Dracon parou de repente e virou-se para encará-la, seus olhos reptilianos brilhando com uma intensidade perigosa. Por um momento, Ruby achou que ele fosse ignorá-la ou lhe dar uma resposta seca, mas algo mudou em sua expressão. Ele deu um passo em sua direção, a imponência de seu corpo de 2,20 metros fazendo a sombra dele cobrir Ruby completamente. A proximidade o fazia parecer ainda mais gigantesco.

"Eu sou muito mais do que um dragão, humana," ele disse, a voz baixa e carregada de poder. "O que você vê é apenas uma fração do que sou. E o que estou tentando controlar agora... é algo que você não entenderia."

Ruby tentou se afastar, mas seus pés estavam cravados no chão, como se o poder de Dracon a mantivesse presa. Ela podia sentir o calor que irradiava dele, uma energia pulsante que mexia com seu próprio corpo. "Então o que você quer de mim?" Sua voz saiu em um sussurro, quase desafiante, apesar do medo que sentia. "Se não sou uma prisioneira, o que sou?"

Dracon inclinou-se para ela, seu rosto agora muito próximo. Ruby podia ver os contornos duros de sua mandíbula, o brilho de suas escamas perto do pescoço, e os olhos verdes que a observavam com uma intensidade que a fazia tremer. "Você é uma anomalia," ele murmurou, os lábios dele curvando-se levemente. "Você não deveria estar aqui, e ainda assim... meu dragão a quer."

Ruby prendeu a respiração. As palavras dele eram um misto de ameaça e confissão. Seu coração bateu forte, e o calor no peito aumentou, como se algo dentro dela estivesse prestes a romper. "Seu dragão?" As palavras escaparam de seus lábios antes que ela pudesse se conter.

Ele assentiu, os olhos dela presos aos dele. "Sim. A parte de mim que não aceita controle. Que quer tomar você, possuí-la. É isso que estou lutando contra agora."

Ela sentiu uma onda de choque percorrer seu corpo com aquelas palavras. O desejo dela de afastar-se se misturava com uma atração que não conseguia ignorar. "E por que lutar?" A pergunta saiu de sua boca antes que ela pudesse parar para pensar.

Dracon riu baixinho, mas não havia humor naquela risada. Ele olhou para ela como se estivesse diante de um quebra-cabeça que não conseguia resolver. "Porque você é frágil, humana. Porque meu mundo irá quebrá-la."

Antes que Ruby pudesse responder, algo aconteceu. A névoa ao redor deles começou a ondular, um vento estranho sacudiu as folhas das árvores. Dracon ficou tenso, e seus olhos se estreitaram, escaneando os arredores com uma expressão feroz. "Nós não estamos sozinhos."

Ele agarrou Ruby pelo braço, puxando-a para perto. "Fique comigo. Não se afaste." Sua voz agora era grave, quase um rosnado, e Ruby percebeu que algo muito perigoso se aproximava. O calor do corpo dele pressionado contra o dela a fez sentir uma onda de desejo confuso, mas havia também medo.

De repente, da névoa, figuras começaram a surgir. Pequenas à primeira vista, mas com o brilho prateado de escamas em seus corpos. Eram Geminis, as criaturas de pele clara e delicada, conhecidas por sua beleza suave e enganadora. Ruby piscou, confusa ao ver os pequenos chifres saindo de suas testas e as vestes fluidas que balançavam com o vento. Eles se aproximavam com movimentos graciosos, mas algo na postura deles fez o sangue de Ruby gelar.

"Geminis," Dracon rosnou, seu corpo inteiro se transformando instantaneamente. As escamas em seus braços se expandiram, suas garras apareceram, e sua respiração tornou-se mais pesada, como se o dragão dentro dele estivesse prestes a emergir por completo. "Eles não deveriam estar aqui."

Ruby olhou em volta, o coração acelerado. As criaturas cercavam-nos lentamente, os olhos claros brilhando com uma malícia contida. Eles sussurravam palavras que ela não entendia, mas Dracon parecia compreender.

"Vieram atrás de você," ele disse, a voz fria e cortante. "Eles sentem o cheiro da sua fertilidade. Sabem que você é diferente."

Ruby recuou instintivamente, o medo a consumindo. "O que eles querem de mim?"

Dracon a olhou por um longo momento, seus olhos queimando com uma intensidade feroz. "Eles querem tomá-la. Fazer de você uma peça de barganha. Uma moeda para forçar um acordo." O ódio em sua voz era palpável, e Ruby soube, naquele momento, que estava em perigo mortal.

Os Geminis se aproximavam mais e mais, suas bocas movendo-se em cânticos suaves e sinistros. A névoa ao redor deles parecia engrossar, e Ruby sentiu o pânico crescer. Ela não sabia o que fazer, mas Dracon... Dracon parecia saber.

Com um rugido que reverberou pela floresta, Dracon se transformou. Suas asas enormes surgiram de suas costas, rasgando as roupas em que ele estava vestido, e seus olhos reptilianos brilharam com uma fúria primitiva. Ele deu um passo à frente, posicionando-se entre Ruby e os Geminis.

"Se eles querem uma luta," ele rosnou, "eles terão."

O ar ao redor deles ficou denso, como se a tensão estivesse prestes a explodir. Ruby mal conseguia respirar enquanto Dracon avançava, pronto para enfrentar os Geminis. Seu dragão estava à solta, e naquele momento, Ruby percebeu que estava presa entre duas forças poderosas, ambas prontas para reivindicar sua vida... e talvez algo mais.

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