Capítulo 8: O jogo de caça

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Marcus Crowe

Observá-la era quase uma obra de arte.

De onde eu estava, Daphne Hale não fazia ideia de que estava sendo vigiada. O som abafado das conversas ecoava do prédio da delegacia, mas tudo o que eu via era ela, de pé na varanda, ao lado daquele rato de laboratório, Jacob. As luzes da cidade, distantes, iluminavam suas feições perfeitas — a tensão no rosto, o olhar atento, sempre em alerta. Ela nunca relaxava completamente, e isso só me deixava mais fascinado.

Eu havia planejado esse jogo há meses, e tudo estava funcionando exatamente como eu esperava. Cada passo meticulosamente calculado. Cada corpo deixado no lugar certo. E Daphne, a cereja no topo da minha obra-prima, estava me acompanhando tão de perto que quase conseguia sentir o cheiro de sua determinação.

Ela era uma detetive brilhante, isso eu precisava admitir. Cada detalhe, cada pista que eu deixava, ela captava. Mas não se tratava de quem seria mais esperto no final — porque, no fundo, eu sabia que já havia vencido. O que eu queria agora era algo mais. Queria ver até onde ela iria por mim. Até onde ela estava disposta a ir para me pegar.

— Ainda me achando, Daphne? — murmurei para mim mesmo, observando-a pelo binóculo enquanto conversava com Jacob.

A forma como ele se inclinava para ela, a maneira que tentava se aproximar, era patética. Ele nunca entenderia o que realmente estava acontecendo. Eu, por outro lado, compreendia. Cada gesto, cada expressão dela, era uma mensagem codificada. Ela queria me pegar, mas ao mesmo tempo... estava jogando exatamente como eu queria.

Desci do prédio abandonado do outro lado da rua, já satisfeito com a noite. Não era a hora de aparecer, não ainda. Havia um ritmo para esse jogo, e eu controlava a música. Ela sabia que eu estava por perto — depois de nossa última "conversa", isso ficou claro. Mas o que eu faria agora exigia paciência. O próximo movimento seria o mais cruel, o mais próximo, e eu queria que ela sentisse cada segundo.

Enquanto caminhava pelas ruas escuras, minhas mãos tocavam o pequeno envelope no bolso interno do meu casaco. O presente perfeito. O toque final. A próxima vítima estava pronta, mas essa não seria como as outras. Haveria algo a mais. Um toque especial que Daphne jamais esqueceria.

— Você está pronta, Hale? — perguntei ao vazio, enquanto me misturava à noite.

A verdade era que eu estava ansioso para ver sua reação, para ver o terror em seus olhos quando finalmente entendesse o que eu estava fazendo. Mas esse não era apenas um jogo entre mim e ela. Eu a estava moldando, testando seus limites, forçando-a a mergulhar mais fundo na escuridão que eu conhecia tão bem.

Ela ainda não sabia, mas a caçada já havia começado há muito tempo. E, no final, só restaria uma verdade inevitável: Daphne Hale não poderia escapar de mim. Ela era minha, mesmo que ainda não soubesse disso.

A noite estava fria, e o vento cortante fazia as ruas parecerem ainda mais vazias. A solidão era uma velha amiga, e a adrenalina que corria em minhas veias aumentava a expectativa do que estava por vir. O rosto da próxima vítima flutuava em minha mente, mas o que realmente importava era o que viria depois. A verdadeira obra-prima seria a queda de Daphne.

Em breve, ela entenderia. Eu não era apenas um monstro, um serial killer comum. Eu era seu maior desafio. Sua maior obsessão.

E ela, sem saber, já era a minha.

O ruído abafado de um motor ao longe me trouxe de volta ao presente, mas minha mente ainda estava nela, sempre nela. Daphne Hale, com seus olhos atentos, sempre à caça, mas nunca totalmente ciente de que era ela quem estava sendo caçada. E isso... isso era o melhor de tudo.

Eu segui pelas ruas escuras, movendo-me como uma sombra. Sabia exatamente para onde ir, onde estaria o próximo "presente" que deixaria para ela. Minhas mãos ainda seguravam o envelope no bolso do casaco, um lembrete do que estava por vir. Quase conseguia ver a expressão de Daphne ao abrir aquilo. Primeiro a confusão, depois o reconhecimento, e finalmente o medo.

Parei em frente a um velho prédio de tijolos, um local esquecido pelo tempo, escondido em um beco que poucos ousavam entrar. Ali, no meio da cidade, onde tudo parecia em movimento, aquele lugar era como uma pequena bolha de silêncio, perfeita para o que eu tinha planejado.

A porta de metal enferrujada rangeu quando a empurrei, revelando um corredor escuro que cheirava a mofo e abandono. No fim do corredor, a luz fraca de uma lâmpada pendurada no teto iluminava o corpo. A vítima, escolhida a dedo, estava posicionada cuidadosamente. Eu me aproximei com a calma de quem já fizera aquilo antes — tantas vezes que o ritual se tornara quase automático.

Ela estava exatamente como eu a deixei: jovem, com médios cabelos castanhos, quase uma réplica de Daphne. Claro que ela notaria essa semelhança. Cada detalhe importava. O corte no rosto, meticulosamente feito, uma assinatura que Daphne não poderia ignorar.

Eu me ajoelhei ao lado do corpo, observando o trabalho finalizado. Era impecável, mas o que viria agora tornaria tudo ainda melhor. Peguei o envelope e o coloquei nas mãos da vítima. Quando Daphne encontrasse o corpo, ela veria o meu presente — uma mensagem especialmente escrita para ela, como sempre.

“Para você, minha caçadora. O jogo continua.”

Me levantei e dei um passo para trás, admirando a cena por alguns segundos. Sabia que ela logo estaria aqui. Assim que o corpo fosse descoberto, ela viria correndo, ansiosa para entender o que eu estava tramando. O mais divertido era que, por mais que ela tentasse, ela nunca entenderia completamente. Eu sempre estaria um passo à frente.

Eu saí do prédio tão silenciosamente quanto entrei, deixando o corpo para ser encontrado, deixando a mensagem para ser lida. A adrenalina pulsava em minhas veias, mas dessa vez havia algo mais... Uma expectativa crescente. Queria ver a reação dela. Queria estar lá, nas sombras, observando seus olhos enquanto lia a carta. Ela saberia que eu estive por perto. Que, mais uma vez, a tinha em minhas mãos.

Mas o jogo ainda estava longe do fim. Haveria mais. Muito mais.

Enquanto me afastava pelas ruas escuras, meus pensamentos voltaram ao próximo movimento. Daphne acreditava que poderia me pegar, que era uma caçadora determinada. Mal sabia ela que estava presa em uma teia que eu mesmo teci, e que, a cada passo que dava, se enredava ainda mais.

A festa que os colegas dela estavam planejando seria uma excelente oportunidade. Todos relaxados, distraídos... E eu, sempre por perto, assistindo.

— Vamos dançar logo, Hale — sussurrei para mim mesmo, um sorriso se formando em meu rosto. — Eu prometo, vai ser a última dança.

Sussurros de um AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora