Quem sou?

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Nosso nascer foi sereno, tecidos pelas mãos delicadas da vida e frias da morte cujo o véu de todos eles detêm.

Eu nasci dos cristais, emitindo a luz bela deles em meu pequeno corpo de pele clara, tão delicado e delineado quanto as pétalas das mais belas rosas de uma roseira. Meus longos fios de cabelos eram brancos e ondulados, caindo sobre os meus ombros, e meus olhos verdes tinham o encanto e a beleza das mais belas esmeraldas. Era meu lugar entre os meios humanos graças às orelhas e a cauda de lobo, mas quem sou?

Já você nasceu das sombras, rodeado por uma escura e densa névoa que emitia o medo, o horror e a frieza. Seu corpo era grande, robusto, tomado por uma musculatura rígida. A sua pele escamosa era negra como a mais escura noite, coberta em algumas partes por uma densa pelagem branca igual seus longos cabelos ondulados. Diferente de mim, você não era tão humano e tinha seu lugar entre as bestas, você era um dragão com grandes asas em suas costas que lhe permitiram voar e um longa cauda capaz de um golpe fatal graças ao ferrão escondido nos pelos da ponta.

Quando você abriu os olhos, revelando o vermelho carmesim de suas íris, tive meu primeiro sentimento, o medo. Seu olhar era tão frio, poderoso, tomado de determinação. Porém, lá no fundo, ele também era o olhar de um menino, tinha amor e compaixão, acreditava na bondade assim como eu. Mas quem você era? Quem eramos?

- Luz e trevas, nascidos dos cristais e em meio às sombras. Vocês viveram juntos na quarta casa do cosmos, o domo dos cristais, o berço de toda a magia. - falou a vida com sua serena, meiga e calorosa voz.

- Vocês vão ser responsáveis pelo zelar dos cristais, o zelar da magia de todo o universo. Aprenderam juntos a viver, a se ajudar e trabalhar. - disse a morte com sua voz grave, determinando nosso papel no universo.

- Agora, vocês escolheram o nome um do outro. Isso é uma forma de sentir, ver ou reconhecer algo um do outro com seus próprios olhos.

Nossos pés tocaram o frio chão cristalino de nosso lar pela primeira vez. Nos equilibramos com certa dificuldade até se acostumar a ficar de pé com nossos corpos e enfim nos olhamos, a curiosidade nos fez olhar para cada parte um do outro, vendo como eramos diferentes em tudo.

Não havia vergonha por estarmos expostos um ao outro ou malícia, apenas a inocência do primeiro ver de nossos olhos. Apesar de não olhar muito, pude reconhecer facilmente que era alguém forte fisicamente, que não se abalaria ou desistiria de suas decisões graças aquela aura assustadora e bruta que ficava ao seu redor, e que seria alguém de forte personalidade pelo seu olhar afiado e indiferente para mim.

Eu já sabia que nome lhe dar, mas o medo pela forma que me olhava me fez travar. Era como se enxergasse apenas a minha falta de força física, meu mole e piedoso coração, e a aura bondosa que me envolvia e sentisse desgosto.

- Shuny. - você falou com sua grossa e rouca voz, olhando em meus olhos com desprezo e uma expressão de reprovação em sua face.

- Shuny, vindo dos antigos, é um nome que remete ao brilho da aura bondosa e ingênua de uma criança cujo ainda não perdeu a visão inocente do mundo. - falou a morte, olhando para mim e ficando a esperar.

- Shuny, e qual nome você escolheu? - a vida me perguntou com sua calma voz.

Eu estava tão nervoso, nervoso por causa do seu olhar bestial sobre mim, era como ser uma presa pequena diante de um grande predador, sem lugar para se esconder. Porém, reuni forças apesar de me postura de forma que mostrasse minha insegurança, encarando fundo seus olhos e enxergando sua verdadeira essência, alguém corajoso, amoroso e protetor que se escondia em uma postura rígida.

- T-Tronus. - falei ouvindo minha voz pela primeira vez.

Era suave e um pouco afeminada, quase melódica, meiga e amorosa. Foi uma surpresa para mim e pela sua reação foi para você também.

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