Em Todos Seus Olhares - Veronita

Take Me To Church

Notas: Voltei 😅 Perdão pela demora! Boa leitura. Desculpem qualquer erro.

"I shall worship like a dog At the shrine of your lies"

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Matias Carneiro era o patriarca de uma família perfeita, um esposo devotado e pai carinhoso. Homem de fé, missionário, pastor de uma igreja com centenas de fiéis. A figura ideal do homem de Deus era essa a imagem que Verônica assimilava enquanto estava no meio daquela multidão. A voz de Matias ressoava no templo como uma bênção, guiando seus seguidores com promessas de cura e redenção.

Ela ainda sentia os resquícios da adrenalina pulsar em suas veias. O suor pegajoso em sua pele e o sangue seco na testa eram lembretes do que havia acontecido horas antes. Seus olhos de raposa captavam rapidamente as informações e a falsa fachada que aquela imagem escondia. Quase que de imediato, ela reconheceu o anel de ouro brilhante na mão esquerda de Matias, que segurava o microfone — o mesmo anel da foto de dias atrás da figura misteriosa, agora não tão desconhecida assim. Ao lado dele, uma mulher familiar: a mesma que havia matado aquele homem durante a operação. O fio de conexão se estendia como uma teia invisível, e Verônica precisava desvendar aquele emaranhado.

Enquanto Matias fazia seu show, exibindo sua família perfeita, Verônica sentia o cheiro da hipocrisia por trás daquele homem "do bem e de fé".

— Eu tinha tentado tudo pra curar a trombose. Tudo! — testemunhava um idoso à frente do templo. — Foi quando me falaram daqui. Eu confesso que não tinha muita fé... Achava que era picaretagem — continuou ele. — Mas eu tava desesperado. Muitas vezes pensei em desistir. Mas o Matias nunca desistiu de mim.

Palmas e palavras de unção ecoavam pela igreja, incluindo as palmas de Verônica, que batia uma mão na outra com uma força desmedida. Seu semblante era de puro ódio e escárnio.

— O Matias me curou! — exclamou o idoso, agora ao lado do pastor.

— Fala de novo, seu Tome! — incentivou Matias, com um sorriso largo.

— O Matias me curou! O Matias me curou! — repetia o senhor, já emocionado, enquanto os aplausos cresciam ao seu redor.

— Esse aqui, ó — Matias levantou a mão do idoso. — Teve que ver pra crer.

O pastor abraçou o homem, demonstrando uma emoção calculada. Verônica se segurou para não revirar os olhos.

— Mas eu quero ouvir mais — continuou Matias, após seu Tome ser levado do palco. — Oh, Mônica! Vem pra cá!

Uma mulher jovem, bonita, mas visivelmente abalada, levantou-se e caminhou devagar até o palco. O olhar dela era vago, perdido, e os sentidos de Verônica se alarmaram.

— Tinha cinco meses que eu não dormia, com uma dor de cabeça muito forte — a mulher falou ao microfone, meio acuada. — Fui ao médico, fiz exames, mas nada resolvia. Nenhum remédio funcionava, era um inferno — ela suspirou. — Até que eu me deixei ser guiada pela fé e encontrei o Matias... porque eu tenho fé. Ele me curou — terminou a mulher, com um sorriso amedrontado e lágrimas escorrendo, sendo abraçada por Matias.

Verônica assimilava aquelas informações, seu coração pesado com a percepção do que estava por trás daquela tal cura. Era doentio pensar que pessoas desesperadas, como a mulher no palco, se deixavam levar por promessas vazias, abandonando a lógica em busca de soluções milagrosas. O ambiente, carregado de fé cega, a fazia questionar a natureza daquela adoração. O que realmente estava acontecendo ali? Que tipo de manipulação se escondia sob o brilho dos sorrisos e das palavras de Matias?