Capítulo 7

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Perspectiva de Sam

Enquanto eu saboreava meu sétimo salgadinho, Tee me encarava, a boca aberta como se estivesse tentando entender um enigma insolúvel.

— Como assim ela é a garota de programa? — ela finalmente pergunta, ainda atônita.

— É a garota que você contratou, Tee. — repito, como se explicasse o óbvio.

Ela então vira o rosto para Mon, observando-a com uma expressão chocada. Eu, percebendo a situação, rapidamente a puxo de volta para a realidade.

— Não fica encarando assim! Vai deixá-la desconfortável. — ralhei. — Ela não anda com isso estampado na testa.

Tee, mesmo a contragosto, desvia o olhar de Mon e volta para mim.

— Ela se vende? — murmura, confusa. — Mas... não parece. Ela tem um jeito tão... fofo.

— Pois é. — respondo, com uma ponta de tristeza. — Mas sim, é. Talvez não por muito tempo.

— Como assim? — Tee pergunta, franzindo o cenho.

— Eu paguei a ela seis meses de trabalho ontem à noite — solto de uma vez, sem me dar conta do choque que isso causaria.

— Você o quê?! — ela exclama, quase gritando.

Antes que Tee pudesse continuar com sua indignação, Jim se aproxima, animada como sempre, alheia ao turbilhão que se desenrola.

— O que vocês estão cochichando aí? — pergunta, sorridente.

— Esses salgadinhos estão ótimos, Jim. — respondo, tentando despistar.

Mas Tee, claro, não se contém.

— Jim, a Mon é garota de programa! — ela dispara, ignorando completamente o meu olhar furioso.

— Droga, Tee, sua boca grande! — rebato, entre dentes.

Jim, inicialmente incrédula, parece digerir a informação.

— Como é? Tenho uma garota de programa na festa do meu filho? — ela murmura, a indignação crescendo em seu rosto.

— E a Sam tá de olho nela! — Tee acrescenta, como se estivesse assistindo a um drama alheio e não à nossa realidade.

— Eu não quero uma garota de programa perto do meu filho! — Jim sussurra, furiosa. — Eu até a abracei!

Reviro os olhos. O caos estava oficialmente instaurado.

— Sam também a abraçou, Jim. Na verdade, a Sam foi muito mais longe que isso... — Tee continua, como quem solta uma bomba no meio da conversa.

Jim, em um movimento rápido, me acerta um tapa no braço.

— Por que não me contou antes, Sam? Acha que eu quero meu filho perto de uma mulher imunda?

— Ela não é imunda! — respondo, a voz firme.

Mas Jim já caminha em direção a Mon, com uma expressão de fúria. Por sorte, Mon estava distraída perto dos garotos, que brincavam com uma bola, então consigo impedir Jim antes que ela fizesse uma cena.

— Não faça isso, Jim. — peço, segurando-a pelo braço. — Por favor... Mon é uma boa pessoa, ela deve ter suas razões.

— Ela que vá ter essas razões longe do meu filho! Ou vocês a tiram daqui, ou eu mesma resolvo, e não vai ser bonito. — avisa ela, se afastando de nós com um olhar decidido. — Agora!

Eu e Tee trocamos um olhar de pânico. Como tirá-la dali sem humilhá-la completamente? Nos aproximamos de Mon e Yuki, tentando agir naturalmente. Mon estava segurando Oliver no colo, enquanto Mek contava uma história animada. Antes de me aproximar, lanço um olhar de tristeza para Tee.

— Droga, Tee, hoje ela é só uma mãe — murmuro, abatida. — Eu não quero machucá-la.

Tee suspira, entendendo a dor da situação, e faz sinal para Yuki.

— Yuki, posso falar com você um instante? — ela chama, tentando manter o tom leve.

Mon nos olha, curiosa, mas logo desvia o rosto, voltando sua atenção a Oliver. Yuki se aproxima, e Tee a puxa para perto.

— Yuki, desculpa, mas... você e a Mon precisam ir. — diz Tee, em tom triste.

— Algum problema? — pergunta Yuki, sem entender.

— A Jim... ela descobriu sobre o trabalho da Mon. — Tee responde, baixando a voz.

Yuki lança um olhar gelado para mim.

— Como foi que ela soube disso? — pergunta, furiosa. — Você contou, Sam? Ela te pediu para ser discreta!

Ela começa a roer as unhas, visivelmente tensa e frustrada.

— Mon tinha razão. Você só ia trazer problemas para ela. — diz, a voz trêmula, antes de se virar para a amiga com lágrimas nos olhos. — Vocês não fazem ideia do que ela passa! Ela odeia essa vida... mas ama os momentos em que pode ser só ela mesma, quando é apenas a mãe do Oliver. Vocês são patéticas! — dispara, nos dando as costas.

Perspectiva de Mon

Estava com Oliver no colo, e Mek parecia adorar meu filho. Os dois riam enquanto ele me contava as travessuras que faziam juntos na escola. Meu coração se enchia de alegria ao ver Oliver tão feliz. Todo o meu sacrifício valia a pena, pois o meu filho finalmente encontrara um lugar onde se sentia bem. Mas, de repente, Yuki se aproxima e segura meu braço, me puxando com urgência.

— Ei, Yuki, o que foi? — pergunto, tentando entender.

— Vamos embora — ela sussurra, nervosa.

— Agora? — Oliver pergunta, com um biquinho triste.

— Mas nem cantamos os parabéns ainda! — diz Mek, decepcionado.

Yuki aproxima a boca do meu ouvido, e, com um suspiro, solta a bomba.

— Sam contou quem você é. Desculpa, Mon, mas estão pedindo pra gente ir embora.

Meu olhar vai direto para Sam, e uma dor amarga toma conta de mim. Ontem ela fez parecer que era diferente, que queria ajudar, que se importava comigo. Mas ela acabou me tratando pior do que qualquer cliente. Mexeu com minha vida pessoal, me humilhando na frente do meu filho.

Seguro a mão de Oliver com força, escondendo as lágrimas que ameaçam cair. Arrasto-o comigo em direção à saída, ignorando seus protestos.

— Mamãe, ainda tá cedo! — ele reclama, tentando se soltar. — Me solta!

Mas eu o puxo com firmeza. Não deixaria que ele visse o quanto estava sendo humilhada. Chegando ao carro de Yuki, vejo Sam vindo em minha direção, com o rosto desesperado. Ela segura meu braço, mas meu instinto é imediato: solto a mão de Oliver e dou um tapa forte no rosto dela.

— Desaparece! — grito, com a voz embargada.

— Mon, desculpa, não foi minha culpa! Eu queria que você ficasse! — Sam diz, com uma expressão de dor.

— Mamãe, o que tá acontecendo? — pergunta Oliver, confuso, com os olhinhos arregalados.

Seguro a mão dele com cuidado, tentando me recompor.

— Vamos, filho — digo, com a voz firme, empurrando-o para o carro de Yuki, sem olhar para trás.

Mon & Sam - Identidades OcultasOnde histórias criam vida. Descubra agora