Capítulo I.

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❝ ⸻ Sol, Rhaenyra Targaryen e outras coisas que iluminam o meu dia.

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Eu arrancava impiedosamente as finas camadas de pele que adornavam minhas unhas.

Era de tarde, e o castelo mergulhara no silêncio, exceto por algumas chamas vacilantes que lançavam sombras incertas nas paredes de pedra fria. Sozinha em meus aposentos era onde eu me encontrava, mas meus pensamentos me levavam muito além dali, perdida em reflexões que não podia admitir nem a mim mesma.

"Você precisa entender seu lugar, Alicent" era o que meu pai dissera pela manhã, mas o que queria dizer com isso? Meu lugar era estar a mercê dos planos de Otto, e ser apenas mais uma das peças nesse jogo ao qual o objetivo era a busca incessante de poder?

Uma pequena quantidade de um líquido rubro me despertou ao sair da ferida em minhas cutículas.

Afundei-me no travesseiro macio, tentando dispersar aquela mente avulsa, mas não foi eficaz. Eu me lembrava de seus cabelos prateados e de seus olhos violetas toda vez que fechava meus olhos. O arrependimento me assolava quando me lembrava de seu sorriso, sabendo que ela jamais direcionaria aquele mesmo sorriso à mim novamenre. Aquela droga daquele sorriso.

O lema da Casa Targaryen era Fogo e Sangue, e isso nunca fez tanto sentido quando se tratava de dela. Eu nunca precisei tomar cuidado para não me queimar com seu fogo, já que ela sempre iluminou meu dia, como o Sol.

Eu podia a entender. Conhecia o fogo, e não o temia, mas sabia que ele se alastraria se sentisse indefeso, e queimaria tudo ao redor. Foi o que houve. Sua confiança foi traída pelas duas únicas pessoas com qual se importava, e arrisco dizer que amava. Mas a escolha era o que me faltava.

O olhar de Rhaenyra, uma mistura de fúria e desespero, ainda dançava na minha mente. Lembro-me do dia em que nos conhecemos, como se fosse ontem. Uma tarde ensolarada nos jardins do castelo, onde os sussurros das folhas e o canto dos pássaros nos rodeavam. Naquele momento, éramos apenas duas meninas, sem noção das intrigas que nos cercavam, sem pressões de coroas e legados. O riso dela preenchia meu coração de uma maneira que eu nunca soube que era possível, antes que tudo desmoronasse.

Agora, o destino havia decidido de maneira cruel que eu seria esposa do rei. Um papel que me cabia, sem dúvida, e que meu pai aguardava com a expectativa de quem espera um nascimento. "A única forma de garantir um futuro seguro é através do poder",  ele sempre me lembrava, mas como eu poderia ter segurança sabendo que minha felicidade havia sido sacrificada em troca de um trono?

Enquanto olhava pela janela, o Sol brilhava com uma intensidade inquietante, como se soubesse dos segredos que carregava, pintando o céu azul de rosa e laranja. Eu queria gritar, deixar que o mundo soubesse o quanto estava presa entre dois mundos, entre dois corações.

Eu me ergui da cama, desamassando com cautela o vestido vermelho que me envolvia. Meus passos me guiaram até o jardim.

Lá estava vazio aos olhos de quem via, mas eu podia enxergar com clareza Rhaenyra deitada em meu colo enquanto eu lhe fazia perguntas sobre os livros que a septã Larlow nos mandava estudar, e a outra não fazia a mínima questão de prestar atenção no que eu dizia, apenas brincando com os anéis em seus dedos e aconchegando a cabeça em minha perna. Lembrar disso me deu vontade de sorrir, e ao mesmo tempo chorar. O tempo havia passado para nunca mais, e eu queria voltar a alguns anos atrás.

𝐋ike 𝐀 𝐒ailor - 𝐑haenicent.Onde histórias criam vida. Descubra agora